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Preservação das aves silvestres


Juba. (foto: Renctas.)

O Brasil é um país com uma fauna muito rica, na qual podem ser encontradas milhares de espécies de aves jamais vistas em outros cantos do planeta. No território brasileiro 1.676 tipos de pássaros podem ser observados, o que corresponde a mais da metade das aves registradas na América do Sul, sendo que, deste total, 145 são espécies que visitam periodicamente o país, provenientes de diversos locais do mundo.

Com tal diversidade, torna-se praticamente impossível ignorá-las, seja pela observação direta de suas diferentes e belas formas e plumagens, ou simplesmente por ouvir o canto dos pássaros logo pela manhã. As aves podem nos dar informações como as horas do dia, as estações do ano, as condições do tempo e, por possuírem uma sensibilidade maior do que a do homem, são ótimas indicadoras das condições do meio ambiente.

Não podemos esquecer que as mesmas são responsáveis pela polinização de flores, pela dispersão de sementes e pela manutenção do equilíbrio ecológico nos diferentes ecossistemas. Mas, infelizmente, algumas aves estão sendo extintas. Pensando nisso algumas organizações foram fundadas para cuidar da conservação de aves silvestres e evitar que o ecossistema seja prejudicado. É a Ornitologia (parte da ciência que cuida das aves) entrando em ação.

Entidades de preservação – O CEMAVE Centro de Pesquisas para Conservação das Aves Silvestres é uma unidade descentralizada do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA/MMA.

Sua missão consiste em executar pesquisas e estudos visando subsidiar as ações do IBAMA voltadas à conservação das aves silvestres e dos ambientes dos quais elas dependem. O CEMAVE vem sendo reconhecido internacionalmente pela sua contribuição à Ornitologia e à conscientização conservacionista.

Dentro deste contexto, também foi fundada a PROAVES, sociedade civil de direito privado e sem fins lucrativos. Ela mantém convênio com o CEMAVE, vinculado ao IBAMA, que subsidia o Projeto “Conservação das Aves Silvestres no Brasil”, direcionando suas ações à grupos de interesses prioritários para conservação da avifauna brasileira.

Outra entidade sem fins lucrativos é a RENCTAS, Rede Nacional de Combate ao Trafico de Animais Silvestres. Entre suas funções estão a realização de campanhas nacionais e internacionais de conscientização, cursos, treinamentos e workshops para a capacitação e qualificação de agentes responsáveis pela fiscalização ambiental, apoio e desenvolvimento de projetos de pesquisa e conservação da fauna, elaboração de bancos de dados, programas de controle e suporte às operações de fiscalização e elaboração de relatórios sobre essa atividade criminosa.

Agrupamento de aves – As aves são agrupadas de acordo com sua natureza. Isso acaba por facilitar o trabalho das associações que trabalham com a Ornitologia.

Aves Migratórias – Aves Migratórias são espécies que se movimentam periodicamente entre uma área principal de reprodução e uma ou mais localidades, para alimentação e repouso.

Aves Cinegéticas – Fazem parte deste grupo as espécies passíveis de uso ou que sofrem pressão de caça.

Aves de Reprodução Colonial – São espécies que se agrupam em colônias para reprodução.

Área de Aves Ameaçadas de Extinção, Endêmicas, Raras e de Status Desconhecido – Neste grupo incluem-se as espécies da lista das aves consideradas e, extinção e as espécies raras e pouco conhecidas do ponto de vista da ecologia e conservação.

Controlando as espécies – E para ter um melhor controle sobre as diferentes espécies existentes, foi criado o Sistema Nacional de Anilhamento (SNA). Esta é uma técnica de marcação de aves com anéis numerados, que permite conhecer quando do encontro dessas aves, o tempo de vida, as rotas migratórias, os deslocamentos, locais de reprodução, pontos de parada, as flutuações dos números populacionais, dentre outras informações fundamentais à conservação das aves e de seus ambientes.

Inicialmente voltada a estudos relacionados com a migração, a técnica tem sido cada vez mais utilizada pela comunidade científica mundial, ampliando o universo de utilização das anilhas. Já são 100 anos desta prática em todo o mundo. Através do anilhamento de aves é possível realizar diversos estudos relacionados à dispersão, migração, comportamento e estrutura social, dinâmica de populações, sobrevivência, sucesso reprodutivo, monitoramento ambiental, toxicologia e manejo.

Mesmo diante de métodos avançados como o uso de transmissores de sinais de rádio e de satélite, ou mesmo microships implantados, o uso da anilha é ainda considerado ferramenta importante e os resultados já alcançados apontam o anilhamento como técnica de monitoramento primordial para a conservação das aves que possuem alta capacidade de responder às modificações ambientais, caracterizando-se como excelentes indicadores da qualidade de um ambiente.

O SNA – O SNA coordena e controla os procedimentos de marcação de aves silvestres no Brasil, através do credenciamento dos anilhadores, do fornecimento e controle das anilhas, bem como do processamento dos dados de anilhamento e recuperação de aves, mediante sistema informatizado de gerenciamento de banco de dados.

Através do SNA também são executadas ações de capacitação no uso da técnica do anilhamento, visando capacitar tecnicamente os anilhadores.
Alguns números do Sistema Nacional de Anilhamento: hoje são mais de 688 anilhadores cadastrados, 127 projetos de pesquisas em andamento, mais de 40.000 indivíduos anilhados e 73 teses de pós-graduação concluídas (mestrado e doutorado), utilizando a técnica de anilhamento como ferramenta de pesquisa/estudo.

Principais aves em extinção – Muitas são as espécies em extinção, mas podemos destacar a arara-azul-de-lear, papagaio de peito-roxo, arara vermelha, codornas, flamingos, guará, ganso-do-norte, patão, falcão de peito vermelho, gavião-pomba, ararinha azul, entre outras.

A arara azul é uma espécie conhecida há pouco tempo. Até meados de 1978 só eram conhecidos pela ciência exemplares da arara-azul-de-lear em cativeiro, sem que se soubesse sua procedência. Dados de censos realizados em 1999 indicaram uma população de 170 aves deste tipo na natureza. Lamentavelmente, com o avanço do conhecimento sobre a arara-azul-de-lear, verificou-se também aumento na pressão do tráfico, sobretudo no período de reprodução e cria dos filhotes. Nos últimos anos o IBAMA tem intensificado as ações de proteção à espécie.

É fundamental que as pessoas assimilem a idéia de que um animal silvestre servindo como bichinho de estimação ou peça de colecionador não vale nada, ou seja, o animal deixa de cumprir o seu papel biológico na natureza que inclui as interações no sistema ecológico e a reprodução para perpetuação da espécie. Neste último caso sim, o valor de uma arara-azul-de-lear é inestimável. Enquanto houver pessoas que comprem ou aceitem de presente um animal silvestre para criar, haverá traficantes para retirá-los da natureza contribuindo para sua extinção.

Ao adotar, sabiamente, a política de que não haverá anistia para aqueles que mantenham araras-azuis-de-lear em seu poder, sendo consideradas patrimônio do povo brasileiro em qualquer lugar do mundo onde estiverem, o IBAMA imprimiu um golpe firme nos especuladores, na intenção de que, ao invés de representar um objeto de comércio, todas as aves em cativeiro ilegal sejam devolvidas para inclusão em projetos de reintrodução de seus descendentes.

Aves marinhas – Não só as aves silvestres sofrem com os caçadores. As aves marinhas também são foco do comércio. Elas são atraídas por todas as pescarias que produzem descartes de iscas e peixes não comerciais. No caso das pescarias com espinhéis, que são longos cabos de aço dos quais partem linhas secundárias com anzóis, tem sido verificada alta mortalidade de espécies de albatrozes e petréis, representando milhares de indivíduos por ano em todo o mundo, inclusive no Brasil.

A Zona Econômica Exclusiva (ZEE) do país, em especial nas regiões Sul e Sudeste, é uma importante área de alimentação de, pelo menos, 37 espécies de albatrozes, pardelas e petréis, que chegam de suas áreas de reprodução no Ártico, Antártica, ilhas sub-antárticas e do centro do Atlântico.

Os estudos realizados através do anilhamento demonstraram que, pelo menos, cinco espécies de albatrozes e duas de petréis ameaçadas de extinção (albatroz-viajeiro, albatroz-de-tristão, albatroz-real, albatroz-de-nariz-amarelo, albatroz-de-sobrancelha, petrel-gigante e petrel-de-óculos) utilizam regularmente a ZEE brasileira, onde são capturados por espinheleiros. Por ter uma reprodução lenta, as perspectivas de sua conservação não são animadoras caso persista a mortalidade nos níveis atualmente conhecidos.

Desenvolvida como uma técnica ambientalmente amigável do ponto de vista do pescado, por ser seletiva, o espinhel teve como efeito colateral a possibilidade de fisgar as aves que tentam roubar as iscas distribuídas em seus milhares de anzóis, cujas conseqüências são negativas para os dois lados: ao mesmo tempo que implicam em um problema de conservação para as aves, afetam a produção pesqueira, sendo a conciliação dos dois interesses um desafio mundial. No Brasil, vários estudos estão sendo desenvolvidos com o objetivo de reduzir os impactos sobre as populações de aves envolvidas.

Conscientização – A exploração desordenada tem levado a fauna brasileira a um processo de extinção de espécies intenso, seja pelo avanço da fronteira agrícola, seja pela caça esportiva, de subsistência ou fins econômicos. Este processo vem crescendo nas últimas duas décadas, à medida que a população cresce e os índices de pobreza aumentam.

Mas é preciso ter a consciência de que as aves apresentam um papel muito importante no ecossistema. E mais do que isso: lembrarnos de que a natureza sempre responde à violência que nela praticamos.

Serviço
Para denunciar o tráfico de aves silvestres, você pode entrar em contato com as seguintes entidades:
CEMAVE
RENCTAS
PROAVES

Este texto foi escrito por: Camila Christianini