O que fazer com o lixo doméstico produzido no conforto do nosso lar já é uma questão difícil. Quando estamos entre o nada e o lugar nenhum, longe do trajeto do caminhão de lixo e mais longe ainda de qualquer tipo de processamento, esta questão se torna ainda mais delicada.
Poucas são as pessoas que carregam lixo na sua mochila numa boa. A grande maioria não pode sequer imaginar colocar aquele lixo nojento junto com a roupa limpa, barraca e saco de dormir. Sem falar na tentação de se livrar do peso inútil que só ocupa espaço. Em muito pouco tempo o lixo que produzimos pode se tornar uma pedra no sapato, ou melhor uma latinha incomoda espetando as costas.
Só que se livrar dele também não é nada simples. Nós não podemos deixar saquinhos por ai, na base das vias, ou ao longo das trilhas. De um modo geral, onde o acesso é difícil ninguém vai recolher o que deixarmos para trás. Mesmo os parques com uma boa infra-estrutura não conseguem manter sistemas de coleta nos lugares mais afastados. Agora imagine se alguém, algum dia, vai passar para recolher lixo no meio da trilha Petropolis-Teresopolis, da Trans-Petar ou na Travessia da Caverna do Diabo.
Debaixo do “tapete” – Enterrar também não é uma opção. Resíduos sólidos como plástico, vidro, metais ou até mesmo papel, levam muito tempo para serem degradados. Tempo suficiente para que a erosão ou outro turista cavador o desenterre e o exponha no nosso caminho ou no meio de um rio. Resíduos orgânicos, como restos de alimentos, mesmo sendo degradados bem mais rapidamente, ainda podem ser facilmente cavados por algum animal atraído pela comida fácil. E até estes podem conter produtos que não devem ser enterrados, como é o caso das sementes de frutas (veja coluna).
Queimar tão pouco é uma solução. O que pode funcionar para alguns tipos de lixos em ambientes urbanos, em áreas naturais pode se tornar mais uma complicação. Além de não resolver o problema, lançando outros tipos de poluentes na atmosfera (em geral monóxido de carbono e metais pesados), as suas cinzas costumam ser tão ou mais poluentes que o lixo original. E tem mais, a fogueirinha feita para queimar o lixo pode vir a incendiar áreas naturais além da fumaça intoxicar quem estiver por perto.
Esta, que é uma das principais diretrizes para resolver o problema do lixo nas cidades, também é a melhor estratégia para quando formos a ambientes naturais. Assim como boa parte do lixo que produzimos em casa pode ser evitado (ex: optando por menos ou nenhuma embalagem ou consumindo menos descartáveis), também podemos diminuir muito a quantidade de lixo quando estivermos ao ar livre.
Logo de cara, um bom planejamento do que e como levar é fundamental. Como em geral a maior parte do lixo que geramos é proveniente das embalagens e restos de comida, a escolha de alimentos que possam ser levados em embalagens simples, reutilizáveis ou mesmo sem nenhuma embalagem já facilita as coisas.
Normalmente nos preocupamos bastante em levar alimentos nutritivos, leves e de fácil preparo, buscando facilitar muito nossa vida, mas raramente pensamos no que acontecerá com os restos ou com a embalagem leve e prática quando o jantar tiver terminado. Em geral só nos damos conta do volume da embalagem e de como será chato acomodá-la quando estamos no meio do mato, com a barriga cheia, com aquela preguiça de pensar em qualquer coisa e quase sempre debaixo da maior chuva.
Sobrou… – Pronto, se livrando das embalagens das comidas, conseguimos eliminar uma boa parte do lixo. Entretanto, se calcularmos errado a comida na hora da preparação, principalmente depois de um longo dia de caminhada, escalada ou outra atividade física que costumamos fazer ao ar livre, podemos nos encontrar novamente com a barriga cheia, com preguiça e com muito resto de comida para carregar e justamente aquele tipo de lixo que costumamos não querer dentro da mochila. Afinal, quem nunca exagerou na porção, no final do dia, morrendo de fome, achando que ia comer pelo menos um pacote inteiro de macarrão?
E este erro de cálculo pode resultar em uma grande tentação de enterrar, queimar ou jogar no rio o resto de comida, sob o pretexto de ser biodegradável ou então em fazer o ambientalmente consciente carregar mais peso do que levou até ali. Mesmo tendo comido metade do pacote de massa, a outra metade que sobrou agora está cozida, cheia dágua e muito mais pesada.
Por mais cuidado que tomemos, nós sempre vamos produzir algum lixo. O filme plástico que usamos para substituir a embalagem de isopor, o saquinho de cereais que tiramos da embalagem de papelão, o meio da maçã que não comemos e a semente da tangerina que não engolimos são alguns exemplos do que ainda teremos de carregar. Então, alguns cuidados podem facilitar este transporte, além de torná-lo menos desagradável para os que temem que sua mochila e roupa fiquem sujas.
Sua escolha – A primeira providência é ter um recipiente apropriado para levar estas coisas de volta. Alguns gostam de colocar o lixo nos próprios potes plásticos que são usados para embalar alguns alimentos. Outros optam pelo simples e bom saco plástico de supermercado. Use de preferência dois para evitar vazamentos.
Tendo onde acomodar o lixo, o segundo passo é limpar ao máximo o que será transportado, lavando as embalagens para que tenham o mínimo de restos de comida. O ideal é separar os tipos de lixos, principalmente os orgânicos dos não orgânicos. Os não orgânicos, se bem lavados, não terão mal cheiro, podendo ser levados com pouca ou nenhuma vedação. Já os orgânicos podem apodrecer, ficar com mal cheiro e ainda gerar liquidozinhos que são um horror quando vazam dentro da mochila. O ideal para este tipo de lixo é transportá-lo em recipientes bem vedáveis ou do lado de fora da mochila.
Este texto foi escrito por: Webventure
Last modified: outubro 15, 2002