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Projeto de moto sustentável completa quatro anos em 2010


Sonho de Fabrício é participar do Dakar (foto: Murilo Mattos/ www.webventure.com.br)

Fabrício Bianchini tem um longo currículo no cenário off-road. Com treze participações no Rally dos Sertões e diversos bons resultados na carreira, o piloto não tem dúvida que sua maior conquista foi alcançada há quatro anos. Desde janeiro de 2007, Fabrício vem desenvolvendo um projeto de uma moto de competição movida a etanol.

A ideia do veículo sustentável surgiu quando o piloto estava à procura de patrocínio para mais uma temporada. “Eu fui questionado por um grupo de usinas de açúcar e álcool se seria possível que a minha moto rodasse a álcool. Eu perguntei para o meu mecânico e ele me falou que era algo viável. Até então, nós não sabíamos como seria o desempenho dela dentro de provas, mas nós sabíamos que a moto funcionava, apesar de necessitar de alguns acertos”, contou.

Faltando pouco menos de seis meses para início dos Sertões daquele ano, Bianchini e sua equipe já haviam conseguido completar a transformação total das KTMs 525 EXC, deixando-as em um nível competitivo. Depois de muita expectativa, a moto rodou seus primeiros quilômetros a etanol no segundo maior rali do mundo.

“Durante a competição, eu infelizmente tive um problema logo no primeiro dia, em que eu acabei caindo dentro de um rio. Mesmo assim, eu completei o rali inteiro com a moto a álcool, ou seja, o primeiro ano foi um sucesso com as duas motos porque elas conseguiram terminar a disputa”, disse.

Preocupação inicial – No fim do primeiro ano, a grande foco de preocupação com o projeto de Fabrício não estava mais relacionado ao desempenho em provas. A atenção agora estava voltada para os efeitos do álcool no motor, já que o etanol tem características muito mais corrosivas do que a gasolina, por conter água em sua composição.

Para a surpresa da equipe Infinity Rally Team, nenhuma peça do equipamento estava danificada. “Nós abrimos a moto para prepará-la para as próximas provas e nos deparamos com um motor quase intacto. Como no rali nós sempre andamos em altas velocidades, o que faz com que o motor esteja sempre em alta rotação, o álcool conseguiu manter a temperatura um pouco mais baixa. Então, nós tivemos um desgaste no motor e em suas peças quase nulo”, explicou.

Por tais motivos, o segundo ano de projeto começou sem grandes alterações. Além da troca de alguns elementos básicos por precaução, a maior mudança foi uma melhora na entrada de ar da moto, que aumentou ainda mais o desempenho do veículo.

Com um pouco mais de treino e adaptação, os primeiros grandes resultados começaram a surgir em 2009, exatamente no rali que deu início ao projeto. “No ano passado, nós concluímos o Rally dos Sertões com duas motos, andando todos os dias entre os dez primeiros colocados”, contou.

Com o sucesso no desenvolvimento do projeto sustentável, Fabrício conseguiu alcançar patamares muito acima da média. A Infinity foi a primeira a receber o selo Carbon Free, dado apenas a um grupo seleto de empresas que conseguem neutralizar todo o carbono utilizado em suas ações.

“Nós plantamos árvores e cuidamos delas por vinte anos para neutralizar tudo que foi feito. Além disso, nós agregamos vários outros aspectos para a equipe, como utilizar materiais reciclados e lâmpadas brancas. Então, toda a ação que nós podemos fazer em pró do meio ambiente nós estamos fazendo nestes quatro anos. Continuamos nessa batalha para que cada vez menos o rali impacte no meio ambiente”, afirmou.

Além do lado ambientalmente correto, a equipe de Bianchini também realiza ações sociais durante as competições off-road. “Nos últimos três anos, nós entregamos mais de 400 quilos de brinquedos, mais de 10 computadores, mais de cinco mil livros e vinte bibliotecas em diferentes cidades que fazem parte do percurso do Rally dos Sertões”, disse.

Receio – Fabrício e sua equipe já foram questionados por diversos pilotos do Brasil, desde Minas até do Nordeste e do Maranhão, sobre o que fazer para começar a utilizar o álcool em competições. No entanto, alguns fatores acabam deixando os pilotos com um pouco de medo de modificar seus equipamentos.

O primeiro deles é o receio de gastar mais com motos os equipamentos. Pensando em modificar essa ideia, Bianchini fará, em 2010, uma expedição para comparar os valores e consumo entre o álcool e a gasolina. “Nós levaremos duas motos, do Oiapoque ao Chuí, uma movida a álcool e outra a gasolina, fazendo toda a comparação de qual moto gasta mais, tanto financeiramente quanto com o combustível, além de ver o desgaste das peças em ambas”, explicou.

Outro fator que amedronta um pouco a troca de combustível é a logística necessária durante os ralis. “Conseguir levar o álcool em todos os pontos de abastecimento é algo que assusta. Isso encarece muito a estrutura. Então, por enquanto, é isso que afugenta os pilotos de estarem usando álcool, afinal, na há outro porque para não usá-lo”, disse.

Mesmo com tantas competições e bons resultados no currículo, Fabrício sempre quer mais. Como a maioria dos pilotos off-road, um dos maiores sonhos de Bianchini é correr no maior rali do mundo, o Rally Dakar.

Para tanto, a equipe já está em busca de patrocinadores para tornar viável sua participação. “Em 2011, caso os patrocinadores concordem e paguem, nós queremos participar também do Dakar, também com moto a álcool. Nosso ideia é ser a primeira moto totalmente a etanol a correr no maior rali do mundo”, disse.

Pensando ainda em 2010, a ideia da Infinity é levar uma equipe de peso para o Rally dos Sertões, visando não só a disputa, mas também os projetos com a população. “No Sertões, nós levaremos quinze pessoas, sendo cindo delas pilotos efetivos. Além disso, continuaremos fazendo a parte social durante o trajeto, já que nós chegamos a lugares que as pessoas não têm acesso nenhum a nada. Então, tudo que nós conseguimos fazer por eles é de grande ajuda”, finalizou.

Este texto foi escrito por: Caio Martins