Klever Kolberg e Luis Palú voando no Baja Camboriú (foto: Tom Papp/ www.webventure.com.br)
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O rali Cross-country brasileiro passa por uma fase de mudanças. Seguindo a maioria das categorias do automobilismo mundial, organizações e autoridades pensam em como deixar as provas mais seguras. Episódios como a desistência das motos no último Terra Brasil por falta de segurança e a morte de dois pilotos de moto no último Dakar inspiraram mudanças no esporte.
Toda a polêmica envolvida nessa fase de testes fica sob o julgamento de Ricardo Costa, o Costinha, comissário da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA). Aos 56 anos de idade, Costinha tem 35 dedicados ao rali, principalmente como navegador. Está há cinco anos longe dos cockpits, quando iniciou os trabalhos com a CBA.
Ele é o responsável pela maioria das decisões nas provas, como o cancelamento de prólogos, organização da ordem de largada, penalizações, oficialização dos resultados etc. Costinha tem quase 50 provas agendadas para ser comissário em 2005.
Polêmica – No Baja Camboriú, a terceira etapa do Campeonato Brasileiro de Cross-country, realizado no início de junho, o prólogo foi cancelado e o resultado final teve um atraso de quase seis horas para ser divulgado, por causa de um recurso. A organização da prova soltou na semana seguinte um manifesto comentando o ocorrido, assim como o piloto Oberdan Reis, vencedor do prólogo.
O prólogo é um evento que serve mais para o público do que para a prova, disse o comissário em entrevista exclusiva ao Webventure. Ele ainda afirmou que no Rally dos Sertões desse ano, os comissários irão interferir na ordem de largada. O regulamento particular do Sertões ainda está sendo ajustado. Mas com certeza pilotos com prioridade largarão na posição que teriam que largar, independente da colocação do prólogo.
Sobre o favorecimento de equipes, Costinha não concorda. É o seguinte: regulamento é regulamento e tem que ser cumprido, não importa a quem doa, afirmou. Leia a entrevista na íntegra:
Webventure – Os resultados de Camboriú já podem ser considerados oficiais?
Ricardo Costinha – Recebi a pasta com os resultados no fim de semana passado. Tinha uma correção de números que eu pedi para ser feita. Recebi na quinta (30) um e-mail da organização, que ainda não pude abrir. Por mim o resultado já está ok, só depende dessa correção.
Webventure– O que aconteceu com Maurício Neves? (penalizado por trocar de navegador durante a prova)
Costinha – Ele foi desclassificado. O resultado ficou sob júdice porque ele recorreu, mas a classificação é a mesma que foi divulgada antes [Marlon e Joseane Koerich com o segundo lugar, que pertencia a Maurício Neves]. O Maurício recorreu porque, como sempre, as equipes nunca aceitam a decisão. Para ele, que tem patrocínio, talvez fica mais barato apelar e deixar o resultado sob júdice. O regulamento está meio velho nesse item.
Webventure – Alguns pilotos reclamaram no Baja passado do favorecimento de equipes. O que você tem a falar sobre isso?
Costinha – Eu não vejo favorecimento nenhum das equipes, pelo contrário. Sobre o Prólogo, por exemplo, ele não alterou em nada. O prólogo vale um ponto para a categoria e não para a geral. Então não tem favorecimento de equipe. Teve uma falha e eu como comissário sou obrigado a tomar uma decisão, e a decisão mais correta foi de cancelar.
Webventure – Mas o consenso é que o prólogo defina a ordem de largada…
Costinha – Sim, o que eu sou contra. Imagine a suposição: Fazemos um prólogo onde os três carros da Chevrolet e da Mitsubishi têm problemas e tenham que largar atrás de todo mundo. Isso para o rali e para a segurança do rali é muito ruim. Acho que a largada deve ser feita como no mundial de velocidade, que é o critério que nós estamos adotando. Usamos o ranking dos pilotos e as potências dos carros para fazer uma ordem de largada mais coerente.
Webventure – E qual foi o erro que você apontou no prólogo de Camboriú?
Costinha – Depois de pronta a pista o Dionísio [Malheiro, organizador da prova] sugeriu fazer uma penalização de 10 minutos para quem derrubasse um bamping [fita que é colocada para definir o traçado da pista]. E veio me informar isso. Eu disse que 10 minutos era impossível para um prólogo de dois quilômetros. Então dei uma volta na pista com o diretor de prova, vi que tinha condições de fazê-la sem bater nos bampings e falei que a penalização poderia ser de, no máximo, 10 segundos. E avisei que todos os pilotos deveriam ser informados. Alguns deles, no final, me disseram que não tinham sido avisados. Alguns pilotos talvez não foram mesmo, outros talvez não tenham entendido direito porque estavam com capacete e dentro do carro. Acontece que toda determinação e alteração que seja feita na prova tem que ser informada por meio de um adendo, ou falado em briefing.
Webventure – O briefing vale como informação oficial?
Costinha – O briefing é um adendo oficial da prova. Como isso não foi feito e alguns pilotos falaram que não tinham essa informação, eu me reuni com os outros dois comissários e decidimos por bem que o prólogo deveria ser cancelado. Era a palavra do largador contra a do piloto, eu não tenho nenhum documento oficial sobre isso. Qualquer mudança em uma prova, obviamente, não vai favorecer a todos. O pessoal que ganhou o prólogo estava feliz da vida, mas infelizmente foi cancelado. É o seguinte: regulamento é regulamento e tem que ser cumprido, não importa a quem doa.
Webventure – Alguma equipe chegou para você pedindo mudanças na cronometragem?
Costinha – Vários pilotos falaram que os tempos não estavam batendo com o da cronometragem. Eu tinha pedido para me darem a fotocélula de largada e chegada para conferir os tempos, mas como houve essa reclamação sobre a penalização, eu nem quis ver o resultado, porque a pior coisa é tomar uma decisão depois de estar com o resultado na mão. Eu prefiro tomar alguma decisão antes de ver o resultado.
Webventure – Por causa dessas polêmicas, as equipes estão preocupadas com o Rally dos Sertões desse ano. Como foi feita a decisão da ordem de entrada no prólogo no último Sertões?
Costinha – O ano passado era pela ordem numérica, e pode-se fazer pela ordem decrescente ou crescente. Não existe um regulamento para a largada do prólogo.
Webventure – Quais foram os critérios utilizados?
Costinha – Foi feito pela ordem decrescente. O prólogo é um evento que serve mais para o público do que para a prova. No Sertões, por exemplo, o que é um prólogo comparado com os 4 mil quilômetros de prova? Mas ele se torna importante, porque define a ordem de largada. Então esse ano, como a ordem de largada não é mais definida pelo prólogo, e sim pelos comissários da prova, acredito que ele será mais um espetáculo para o público. É o único local que nós temos público, imprensa e tudo mais. O nosso esporte é muito carente desses espaços publicitários. Então se faz um prólogo desse e oferece alguma coisa para quem ganha, assim todos vão acelerar e a imprensa e o público terão belas imagens.
Webventure – Então para o Sertões desse ano o prólogo não irá decidir a ordem de largada?
Costinha – Não sei. Porque cada prova é uma prova. O regulamento particular do Sertões ainda está sendo ajustado. Mas com certeza pilotos com prioridade largarão na posição que teriam que largar, independente da colocação do prólogo.
Webventure – Outro assunto polêmico é o uso do Spy. Quais penalidades já foram aplicadas com base nos dados dele?
Costinha – Por enquanto ele está sendo usado como auxílio para penalizações. Nós estamos usando ele só para conferência e para tirar algumas dúvidas. Ele provavelmente será regulamentado a partir do Sertões. Utilizamos até agora como teste, e ele tem que ser cobrado, porque envolve custo, mas já verificamos que é bem útil. Por exemplo, em uma das provas nós descobrimos problemas em uma zona de radar e conseguimos saná-lo com o spy. Agora, como ele ainda não é um item regulamentado, nós não podemos usar para tudo. Estamos terminando de fazer nossos testes e deverá sair um adendo que a partir do Sertões ele terá que ser usado no campeonato.
Webventure – Mas já no Terra Brasil desse ano, o André Azevedo foi penalizado por cortar caminho e vocês disseram que conferiram no spy para tomar a decisão.
Costinha – Exatamente. Ele cortou caminho e como ali tinha um PC de roteiro, nós penalizamos como deveria.
Webventure – Na sua opinião, qual é o nível de segurança do rali nacional?
Costinha – É o mesmo do mundo inteiro. Na semana passada tive um bate-papo com pilotos portugueses e essa foi a primeira pergunta que eu fiz. Infelizmente o rali Cross-country, principalmente, nunca vai ter a garantia de pista fechada. O campeonato mundial de rali é assim e todas as provas do Baja também. O único rali que nós temos quase 90% de garantia de fechamento é o rali de velocidade, porque os trechos são bem curtos.
Webventure – O uso do GPS no mundial de Cross-country está sendo discutido. Pilotos afirmam que perde um pouco a graça com ele, porque ninguém mais usa a planilha. Você acha que é uma tendência abandonar o uso do GPS no rali?
Costinha – Não. Acho que o GPS será utilizado sempre e será cada vez melhor, por motivos de segurança.
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Este texto foi escrito por: Daniel Costa