Chegamos a Barra do Corda, no Maranhão. Como em todas as chegadas da caravana, fomos recebidos com uma tremenda festa pela população local. Sem falsa modéstia, e segundo amigos que participam da prova, eu e o Juca Bala viramos Papai Noel de Shopping Center: era uma fila imensa para tirar uma foto e quem faturou alto foi o fotógrafo local que cobrava R$ 3,00 por foto e não negociou nenhuma comissão conosco.
Mas antes deste momento descontraído passamos por uma das etapas mais técnicas deste rali. Pelo menos assim considero. O dia anterior foi de descanso, em Carolina. Bom, descanso para alguns. No meu caso fiquei trabalhando com os mecânicos das 7 horas até as duas da madrugada. Na verdade foi um dia pesado, tanto que não tive nem tempo de escrever esta coluna.
Dia de descanso ou cansaço, o que importa é que não aceleramos. Ou seja, perdemos o ritmo, uma grande armadilha.
A etapa também era longa, mas muito importante para todos, já que se tratava da última grande especial. Foram 235 quilômetros andando forte, decidindo as posições, o que aumenta o peso de cada metro. Esta história de piloto experiente, piloto tranqüilo, é para quem acredita em fantasmas.
O trecho foi escolhido a dedo, dividido em três partes. Os primeiros 60 quilômetros foram numa estrada de terra importante, com grandes retas, mas num estado de conservação lamentável. A mistura destes dois itens é explosiva. Velocidade e buracos explodem os sonhos de muita gente. A segunda parte, até o quilômetro 170, passava por trilhas de areia no meio da mata. Poderia chamar a “trilha do milhão de curvas”, uma a cada 15 metros.
Curva da casinha, curva da cerca, curva da árvore, curva da valeta, curva da ponte, curva fechada, curva com ponte no meio, curva com erosão, curva com pedras, e o menu vai longe até a curva da aldeia dos índios Guajajaras. O trecho final mudava novamente para uma estrada de terra, com aquelas pedrinhas escorregadias, chamadas de piçarra, mas numa região de montanha russa, com muitas curvas, valetas e poças secas, muitas vezes em seqüência, ou seja, uma armadilha atrás da outra.
Nós, literalmente, voamos. Inicialmente um vôo cego para passar os dois líderes da competição. Andar rápido neste terreno com poeira é quase insano. Depois voamos nos saltos e valetas. Graças a Deus, a suspensão de meu Pajero estava num dia inspirado, assim como meus pneus, pois naquela cadência não há tempo e nem posso pensar em furos.
Voamos e ganhamos mais uma etapa, nossa quinta vitória! E, como contei no início, seguimos para o abraço.
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Este texto foi escrito por: Klever Kolberg (arquivo)