Flora local é bastante rica. (foto: Marco (Kiko) Bortolusso)
por Marco (Kiko) Bortulusso
Quedas que giram em torno dos 100 metros. Olhando para as fotos das belas quedas dágua que encontrei em Prudentópolis, no Paraná, é fácil entender por que o lugar merece o título de Terra das Cachoeiras Gigantes.
Para se ter uma idéia, olho para qualquer cachoeira com 40 metros de altura em meus antigos arquivos e a acho pequena comparada às dimensões vistas por lá. Não estou falando de uma ou duas, mas muitas belíssimas cachoeiras nas redondezas do município. Dentre elas, a maior cachoeira do estado do Paraná e uma das mais altas do sul do Brasil, o salto São Francisco, com aproximadamente 196 metros.
Visitamos outras grandes quedas que nos deram provas suficientes das belezas de Prudentópolis, mas, particularmente não dispenso elogios à linda e imponente São João, com 84m e grandes blocos rochosos em sua garganta; à volumosa Barão do Rio Branco, com 64m; à isolada Jacutinga, com 85 m; ao Salto Manduri, com seus 34m e 100m de largura, formando uma barragem natural; às Gêmeas, com 100 e 130m caindo paralelas, avistadas da estrada.
Um gigante salão – E como explicar duas quedas com mais de 100m caindo juntas na mesma garganta, frente a frente? Pois a Mlot, com seus 114m de águas escorrendo em finos e verdes musgos, cai em frente à São Sebastião, um paredão de águas de 130m. As duas formam um gigante salão, onde descemos por uma linda trilha íngreme e afunilada para conferir este fenômeno de beleza única lá em baixo, ou melhor, bem de dentro desse anfiteatro natural. Enfim, são dezenas e dezenas de cachoeiras já catalogadas no município, contudo, nem todas estão abertas e preparadas para receberem os aventureiros e apaixonados por suas belezas.
Mas Prudentópolis não se resume somente a grandes cachoeiras. Além das caminhadas, conduzidas pelos prestativos Coco e Rodrigo, participamos também de um rafting, um rapel de 64m em uma das cachoeiras e pedalamos pelas estradas e trilhas da região. Fomos monitorados por Dalton, responsável pelo Prudentópolis Eco Aventura, grupo que vem se estruturando para receber na região o crescente número de interessados pelos esportes na natureza. Neste Aventura Brasil, convidamos você a nos acompanhar.
Acompanhados por um casal de turistas, fomos ao rapel de 64m ao lado da cachoeira Barão do Rio Branco e acabamos descendo também. Foi realmente lindo e emocionante ver aquele cenário se descortinando bem ao lado, abaixo e acima. Contudo, sempre é bom lembrar que as atividades ao ar livre, principalmente verticais, envolvem risco, nunca devendo ignorar o fato de que ao participar você assume tal risco. Entendido?
Alysson, um dos guias no rafting do rio dos Patos, mencionou que com o rio cheio em alguns trechos é possível enfrentar furiosas corredeiras de nível IV+, considerando uma escala mundial de I a VI. Mas, infelizmente, ou melhor, felizmente, o rio estava baixinho e nos restou brincar em um outro trecho menos avançado com pequenas quedas e corredeiras, no chamado de rafting familiar. Além disso, a mata ciliar formada em grande parte por araucárias proporciona paisagens lindíssimas.
Nossa pedalada aconteceu por entre estradas de terra e trilhas que cruzam uma floresta de pinheiros. Bem ao lado, as corredeiras do rio dos Patos completavam o cenário de rara beleza promovido pelos raios dourados do fim do dia que insistiam em atravessar por entre as grandes árvores.
Poloneses e ucranianos – Há outros encantos em Prudentópolis. Grande parte da população da cidade e zona rural é formada por descendentes dos imigrantes poloneses e ucranianos que mantêm a cultura original bastante viva e presente em festas, celebrações, religiosidade, culinária, artesanato e na arquitetura dos templos religiosos.
Me emocionei assistindo ao grupo de dança ucraniana Vesselka, formado por jovens da região. Conheci as pêssankas de Vera Daciuk e como são confeccionadas. São ovos pintados manualmente com diversos símbolos, que representam a páscoa para eles. E ainda nos encantamos, mais uma vez, com Bruna, uma jovem que com apenas 12 anos pinta as cachoeiras da região em telas. Igual gente grande…
Conversando com Ben Hur, professor de geografia na cidade, descobri que a formação rochosa da região é formada basicamente por folheiros de diabásio. Na sua digna função de rodar as escolas da zona rural para dar aulas, o professor de geografia procurava alguns tesouros. Em sua rara coleção existiam muitas pontas de flechas, machados e outros artefatos confeccionados em pedra por antigos povos; pedaços de árvores cilicificadas – madeira que virou rocha; e outras peças muito interessantes, como um fóssil de uma espécie de lagarto brasileiro. Tudo encontrado nas andanças do ofício e em passeios que costuma realizar com a família.
E sobre o turismo e preservação, Carla Andréa Veiga, responsável pela recém-criada Secretaria de Turismo da cidade, me informou as boas intenções do município relacionadas a um projeto de criação de parques municipais e estaduais. Sem dúvida, esta poderá ser uma das melhores formas de se preservar as riquezas existentes por lá. Lamentavelmente, assistimos por vezes impotentes a algumas queimadas durante nossa visita à região. Aliás, lembro-me bem do momento em que avistei dois tucanos pulando assustados por entre os galhos, bem próximos às labaredas e fumaça de uma destas queimadas que flagramos.
Projeto – Preocupado também com isso, idealizei esta viagem-piloto, que fez parte de um projeto ambiental que vai além da produção de artigos sobre o nosso Brasil. Ministrei uma palestra sobre atividades ao ar livre e preservação Ambiental para mais de 400 alunos de Prudentópolis. Quem melhor do que os jovens da região para erguerem a bandeira e influenciarem no futuro? Foi uma ótima experiência e percebi que além dos professores eles também estão conscientes sobre os assuntos relacionados à preservação.
Felizmente, sensatos donos de terras resistem à ganância e são adeptos de um antigo sistema chamado de Faxinal, que destina parte da propriedade à criação de animais sem haver a derrubada das árvores. Em parte, isso explica a abundância de florestas e áreas verdes por entre as estradas da região, tornando tudo mais agradável.
A conseqüência disso é uma grande variedade na fauna local: canários da terra; joão-de-barro; sabiás; bem-te-vis; gralhas e anus; tesoureiros; gaviões de espécies diferentes, um deles até bem grande; tucanos e pelo menos duas espécies de pica-pau; até uma saracura foi vista próxima a um banhado.
E lá existe muito mais, incluindo aves mais raras e ameaçadas. Os mamíferos também se escondem nas matas da região, dentre eles alguns dos belíssimos felídeos brasileiros, narrados em algumas daquelas histórias engraçadas e assustadoras contadas pelos simpáticos e antigos moradores, que transformam o pobre animal em um gigante lobisomem.
Curiosidades – Por falar em momentos engraçados que passamos em Prudentópolis, o que eu diria a respeito do súbito e inesperado surgimento de pequenas crianças camponesas que mais pareciam pequenos vikings, correndo e gritando atrás do nosso carro?
E como descrever o hilário encontro com o falante senhor Júlio Smuczek, dono de um moinho com mais de 70 anos? Este descendente russo, empolgado com a nossa visita em suas terras e na intenção de nos impressionar, decidiu acionar sua relíquia construída em 1927 pelo seu avô às margens de uma queda dágua.
Num determinado momento, enquanto ele abria a estreita e violenta passagem de água, eu cheguei a pensar que iríamos ficar soterrados por antigos caibros e pedras ao ouvir o barulho daquela bela e mirabolante engenhoca e sentir a vibração das paredes e colunas. Deixando o pânico de lado, admito que valeu a pena ter percorrido muitas estradas de terra para conhecer tal engenho e ainda em funcionamento…
Saudade – Volto às minhas fotografias de Prudentópolis e me recordo daqueles saudosos 10 dias percorrendo e me aventurando pelo interior do Brasil. Lembro-me também da hospitalidade e carisma das pessoas que encontrávamos. Para qualquer lugar que fomos, nas caronas cedidas ou informações solicitadas sempre avistávamos um sorriso. E enquanto sinto aquela vontade de um dia voltar, só me resta mesmo, olhar para as minhas fotos e ficar na saudade.
Marco Bortolusso escreveu especialmente para o Webventure. É assessor de imprensa da Climbing Academia de Escalada, colaborador de revistas do segmento de aventura e natureza, e atua também como guia de ecoturismo para algumas agências de São Paulo. É membro do CEG Centro Excursionista Gravatá – grupo que atua em projetos de cunho social, ambiental e desportivo.
Patrocinaram esta viagem: Curtlo, 2Swim, Solo e Pé na Trilha.
Como chegar
Onde dormir
Onde comer
Existem boas opções, desde comida caseira, pizzas e até pratos típicos; e os preços são bem em conta. Para uma refeição simples os pratos variam de 5 a 12 reais. Seguem algumas dicas:
Guias e o que fazer
Cultura e artesanato
Não perca
Visite o que quiser e puder da cidade e das quedas mais conhecidas, mas particularmente, as cachoeiras Jacutinga, São João, Mlot, São Sebastião e São Francisco, que descortinam cenários únicos.
Atenção
Este texto foi escrito por: Webventure