Escalador, organizador de campeonatos e dono de uma das mais conhecidas academias de escalada do Brasil, Alê Silva estréia coluna no Webventure falando sobre “o prazer da dor”.
Depois de ter lido o título acima você deve estar se perguntando se esta é uma coluna sobre masoquismo. Não e sim, eu diria. Estou falando de um esporte mais conhecido como Montanhismo. Escalando e trabalhando esta modalidade desde 1994, comecei minhas aventuras verticais na então recém-inaugurada 90 Graus, que foi a primeira academia de escalada indoor do país.
Naquela mesma época, começaram a escalar comigo outros nomes conhecidos como o Linha, Edinho, Belezinha, Igor, Janine Cardoso, atualmente minha mulher, e outros tantos nomes. Eu também cheguei como eles a obter alguns bons resultados em campeonatos locais e paulistas, mas nunca tive o mesmo sucesso nas vias superdifíceis da Serra do Cipó ou mesmo em campeonatos nacionais.
Mas, voltando ao tema, que é o prazer da dor, gostaria de falar justamente da parte prazeirosa da escalada. E da qual a maioria não gosta ou não reconhece como um prazer, mas sim, como uma dor. Pense numa via longa, levemente positiva. O grau? Nada além de um sétimo. No entanto, com agarras minúsculas de um granito agressivo, que só de olhar lembramos de um ralador de queijo enferrujado. Doeu só de pensar…? Pois é….. é justamente desta dor que estou falando. Esta dor que muitas vezes trás de lambuja um longo esticão entre proteções em vias clássicas, que propicia o maior prazer. E quanto maior a dor, maior o prazer.
Quanto mais dor, melhor – Tudo bem, você pode estar me achando louco e tal, mas é só perguntar aos tradicionalistas, ou melhor, pergunte ao Paulo Gil. Hoje ele ainda é um de meus melhores parceiros de escalada ou, se quiser, roubadas. Ele também acredita que o grande prazer de escalar está justamente na dor que antecedeu a conquista e, quanto maior a dor, maior a conquista.
Este prazer para mim é a essência da escalada. A dificuldade é a minha recompensa da conquista e faz da escalada tradicional um esporte difícil de entender e ser absorvido pelo grande público.
Mas uma coisa eu garanto: uma vez mordido pelo gostinho da superação de seu limite físico e psicológico, uma vez compreendido o valor que a superação da dificuldade lhe trás à alma… eu duvido que esta pessoa consiga largar a escalada ou não tire dela uma grande lição para seu dia-dia.
Este texto foi escrito por: Alê Silva (arquivo)
Last modified: abril 9, 2001