
Clemar Côrrea: eventos em locais inóspitos (foto: Cristina Degani/ www.webventure.com.br)
Auditório lotado e público ávido por informações. Para qualquer um que fosse questionado na entrada da palestra Desafio dos Vulcões: qual é o momento de parar na corrida de aventura? se era primeiro contato com a equipe Mitsubishi Salomon Quasar Lontra a resposta era não.
Na quarta-feira (31/3), foi realizada no auditório da Competition em São Paulo a segunda palestra de uma das melhores equipes de corrida do país e teve a participação do médico neurocirurgião Clemar Corrêa, o principal de competições de esportes de aventura e esportes extremos no país.
Em uma hora de palestra, os atletas Rafael Campos, Fabrizio Giovaninni e Marina Verdini falaram da aventura que foi a competição na Patagônia argentina e chilena e dos momentos da equipe em que decidiram parar nas provas de aventura.
Não é uma decisão fácil, mas existem momentos, dentro da prova, que mesmo sob condição de estresse devem ser avaliados com muita cautela, disse Rafael. E ele que o diga: na prova dos Vulcões, a equipe conseguiu convencer Marina até quase a última gota de suor da atleta. A corredora, estava com uma virose fortíssima, e na largada já apresentava sintomas de fadiga e dor de garganta, que só pioraram no decorrer da prova.
Na palestra, Marina contou que em um determinado momento da prova, nunca havia passado tanto frio na vida: na primeira área de transição, de caiaque para trekking, achei que ia congelar ali mesmo, falou rindo. Estou rindo agora porque tudo na vida é experiência e a gente aprende. Mas na hora era de doer mesmo. E ainda mais doente; não sei como agüentei.
Desistência – A equipe conta que esta desistência no Desafio dos Vulcões foi gradativa, ou seja, não foi de um momento para outro. Tem outros fatores que facilitam e nos indicam qual o momento de parar na corrida de aventura, explicou Rafael. Ela fala, por exemplo, da perda de posições da equipe na prova.
Como a Marina não conseguia se reerguer, mesmo com antiinflamatórios, fomos perdendo as boas colocações da prova. Assim, foi mais fácil desistir quando estávamos já no segundo dia de prova, contou Rafael.
Fabrizio e Rafael falaram de outros momentos críticos de prova, em que eles pararam, a maioria por pequenos acidentes ou processos inflamatórios.
Mesmo assim, em alguns casos eles terminaram. Na prova da EMA Series Campos de Jordão, em 2001, Fabrizio quebrou o pulso logo no início da competição, numa queda de bicicleta. Tentei continuar com o punho enfaixado, mas o doutor Clemar não deixou, conta agora às gargalhadas.
Já na prova Ecomotion Qualyfing Serra do Cipó, em junho de 2003, Fabrizio sofreu um bronco espasmo. Isso quando a equipe estava em primeiro lugar. Aí, porém, é outra motivação. Estávamos em primeiro lugar e eu estava motivado a continuar”.
Fabrizio conta como foi: “fui medicado em uma área de transição com uma bombinha de asma e aquilo abriu meu peito de tal maneira que saía correndo. Depois foi piorando e eu queria mais bombinha, mas não deixaram, porque ela também tem dosagem máxima, explica.
Nesta competição a equipe terminou em terceiro.
Equipamentos – Os atletas aproveitaram a palestra para explicar também a função de alguns equipamentos de esportes de aventura que utilizaram no Desafio dos Vulcões, como os crampons.
Ao lado do palco, estava um manequim com a roupa que os atletas usaram na prova e o que mais chamou a atenção do público foi o crampon, uma espécie de sapato com garras de ferro que se veste por fora da bota ou tênis de caminhada.
A função é atrito, ou seja, fixar melhor o pé na neve para que a caminhada fique mais segura. “Foi a primeira vez que usamos e acho que nos demos bem”, disse Rafael.
A parte médica do tema da palestra Qual é o momento de parar na corrida de aventura? ficou para o fim, e deixou um gostinho de quero-mais. Ouvir as recomendações, exemplos e dicas do doutor Clemar sempre é um privilégio. Renomado no meio da medicina esportiva, Clemar é chefe de várias equipes médicas de eventos em ambiente externo, tais como Rally Internacional dos Sertões e as mais organizadas corridas de aventura.
É bom lembrar que esses eventos acontecem longe dos hospitais, dos locais com boa infra-estrutura, disse Clemar. Para ele, conta e muito o fator sorte quando se dá um acidente ou uma forte doença dentro da prova.
Ele conta que as forças desses eventos são de grande magnitude, como quedas de grandes alturas, altas velocidades. E que os atletas correm riscos em função dos perigos próprios da natureza, como as tempestades de neve e areia; frio e calor excessivos; e ainda animais selvagens (peçonhentos ou não), insetos e doenças tropicais.
Clemar explicou que o médico da prova não pode ser o médico da tortura e fez uma analogia com os médicos dos anos de ditadura militar, no Brasil entre 1964 e 1985, porém mais precisamente na época da tortura velada de militantes de esquerda partidária. Em sua maioria estudantes, os jovens eram torturados pelos militares até perderem a consciência. O médico então era chamado para acordar o torturado e ver se ele tinah condições de continuar a tortura…
O médico responsável em uma corrida de aventura não deve dar paliativos e remédios que anestesiem a dor do atleta. Ele deve indicar o momento de limite daquela pessoa, falar das conseqüências no caso de continuar, etc. Qual a finalidade do atleta de arrastar até a chegada?
Brindes – No fim da palestra, foram sorteados diversos brindes para o público, como squeezes da Gatorade, garrafas com isotônico, chaveiros e bandanas da AXN, boné Competition, revisão de bikes na loja Ciclocaraveli e camisetas Salomon e kits Mitsubishi.
Próxima palestra – A próxima palestra do Circuito Webventure de Palestras de Aventura tem como tema Uma fascinante viagem a Antártida , pela empresária Zelfa Silva e com a participação de Ricardo Contel, editor da revista Aventura e Ação. Acontece no dia 27/4, no auditório da Competition, na Bela Vista.
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Este texto foi escrito por: Cristina Degani
Last modified: abril 5, 2005