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“Quem não apostou em mim, marcou bobeira”, diz Morgen

Redação Webventure/ Biking

Albert conquistou pela primeira vez o título do Iron (foto: Joana Moreira - Olhos do Brasil)
Albert conquistou pela primeira vez o título do Iron (foto: Joana Moreira – Olhos do Brasil)

Agora não falta mais nada. Após vencer pela primeira vez o Iron Biker, uma das provas mais importantes do mountain bike na América Latina, Albert Morgen Jr (Amazonas/Sundown) garante que não é mais uma revelação. Aos 20 anos, ele estava “esbarrando” nos títulos mais importantes do país e já havia ‘invadido’ a categoria Elite, mesmo ainda podendo competir pela Sub-23. Enfim, chegou a consagração.

Em entrevista ao Webventure, este biker de Petrópolis (RJ), que não hesita em dizer tudo o que pensa, comenta o que a conquista deve mudar em sua carreira e define: “o mountain bike não é mais importante do que os meus estudos.”

Webventure – Você começou a mostrar que estava na briga dos grandes ao vencer uma etapa do Brasileiro 2000, mas faltava um título. A vitória no Iron veio na hora certa, não?
Albert Morgen Jr
– Com certeza. Eu já esperava o título de campeão brasileiro – e a vaga para as Olimpíadas – em 2000 (veja matéria). Venci a primeira etapa, mas o Renato (Seabra) me superou depois. Neste ano tive problemas com a bike e, outra vez, não venci o Brasileiro. Faltava muito pouco para eu conseguir um resultado desses.

Webventure – Antes do Iron, você ainda era tratado como ‘revelação’?
Morgen
– Não, revelação eu fui em 1999. No Iron de 2000, fiquei em segundo lugar, andei junto com o Abraão Azevedo (companheiro na então equipe Specialized) e nem importava quem venceria, pois éramos do mesmo time. Na prova deste ano, eu estava entre os favoritos. Quem não apostou em mim, marcou bobeira.

Webventure – E agora, quais são os seus objetivos?
Morgen
– Eu estou pensando no Pan-americano, que acontece em novembro (dias 17 e 18), em Caxambu (MG). Quero ficar entre os três primeiros. Depois, vou buscar o título brasileiro.

Webventure – Muitos dos melhores bikers do país dizem que não é possível conseguir resultados bons em provas internacionais se continuar treinando e competindo só aqui. Você concorda?
Morgen
– Sim. Quem ficar aqui não vai arrumar nada… Do jeito que está o nosso mountain bike, em termos de atletas, a gente poderia participar bem de uma Copa do Mundo, só que não há estrutura. O Campeonato Brasileiro é uma bagunça… o título, para ser sincero, não vale nada, só vale pra gente que se esforça, vai atrás.

Webventure – Você pretende deixar o país?
Morgen
– Não. Quero terminar a faculdade (ele está no segundo ano de Educação Física), estudar. O que é que eu vou fazer lá fora sem patrocínio, sem estrutura?

Webventure – Então, o mountain bike não vai estar sempre em primeiro lugar na sua vida?
Morgen
– Nem agora está. Aliás, está entre os primeiros, bem ao lados dos meus estudos.

Para vencer o Iron Biker 2001, Albert Morgen precisou superar obstáculos em série: chuva, trilhas escorregadias e a perseguição dos melhores bikers do país. Não ter ‘medo de nada’, conseguir uma boa performance nas descidas e um truque para lubrificar a corrente foram diferenciais que podem ter determinado o seu título na categoria Pro masculina.

O Iron começou no sábado (20/10), no Minas Tênis Náutico Clube, no condomínio Alphaville, localizado na rodovia que liga Belo Horizonte a Ouro Preto (MG). Choveu bastante nos dias anteriores e também durante a prova. Para evitar surpresas no caminho e não perder tempo, Morgen usou um recurso inusitado. “Coloquei uma seringa com óleo em cima do tubo superior do quadro da bicicleta e fixei com durex. Dela saía um caninho que chegava até o câmbio dianteiro. Quando eu queria lubrificar a corrente, era só apertar a seringa”, ensina.

Subindo – Na descrição do biker, a etapa começou com trilhas laterais e seguiu com muitas subidas. “Chegamos a um paredão onde só dava para empurrar a bike. Estávamos praticamente juntos, eu, o Odair (Pereira), o Abraão (Azevedo), o Renato (Seabra)…”, lembra. “Como eu desço bem, consegui abrir vantagem.”

No mesmo dia, os atletas passaram por uma trilha de 1,5 km que foi usada pelos escravos, “cheia de pedras que, com a chuva, estavam lisas, com limo”. Morgen não se intimidou: “Eu não tive medo de nada e mantive o ritmo mesmo nesta parte”. Terminou na frente a primeira etapa, com o tempo de 3h01min19, seguido por Abraão, que chegou pouco mais de três minutos depois, e Márcio Ravelli (a 4min54).

A ordem para o líder, na noite de sábado para domingo, era descontrair. Ganhou massagem da namorada Daniela para relaxar as costas e até jogou sinuca. “Não fiquei deitado, com as pernas pro ar. Fiz tudo normalmente, sem ficar bitolado”, conta.

No decisivo dia, o biker estava conversando com o companheiro de equipe Abraão Azevedo e diz que nem ouviu a ordem de largada. “Quando vimos, levantaram a faixa e todo mundo começou a sair”, recorda.

Segunda etapa – De início, havia um estradão bastante plano e os bikers mais fortes se revezaram na liderança. “Tive de ficar quieto”, diz Morgen, que também teve sua vez na ponta. No segundo trecho plano, mais alternância entre os líderes. Seguiu-se uma trilha bem técnica. Depois do ponto de apoio, era preciso pedalar num trecho da linha de trem. “O Odair estava na frente, mas ele errou. Então, eu o passei. Depois disso pedalei muito e nem olhei mais para trás.”

Com o título garantido, o petropolitano terminou a etapa em 2h34min29. “A chegada foi emocionante. Nunca vi tanta gente torcendo por mim”, lembra o campeão, com gratidão pela torcida mineira. “Eles me acolheram muito bem, muitos gritavam o meu nome na chegada.” Depois foi só subir ao pódio e comemorar a performance impecável.

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira

Last modified: outubro 24, 2001

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