Equipe: mesmo concorrentes atletas trabalham no treino com total companheirismo (foto: Marco Yamin/ ABN Amro)
Direto do Rio de Janeiro – Eles estão ao mesmo tempo deslumbrados, agradecidos e ansiosos pelo resultado que definirá hoje (27) quem serão os cinco selecionados para a última prova do barco 1 do ABN Amro, na regata oceânica Volvo Ocean Race. A seleção acontece desde segunda (24) no Iate Clube do Rio de Janeiro e termina hoje ou manhã, dependendo das condições climáticas.
Wagner Niels Bojlesen, Wilhelm Schurmann, André Mirsky, Rafel Harada, Bruno Santos, Cesar Neto, Eduardo Luz, Samuel Albrecht, Lucan Brun, Edgardo Vieytes, Mauricio Baptista e Ricardo Lobato são os 12 candidatos que aguardam o fim deste dia para saberem da boca de Roy Heiner, o diretor técnico da seletiva, quem vai para Portugal fazer a última prova para o barco de amadores do banco holandês.
O histórico dessa seleção é o seguinte: foram 152 currículos inscritos e 21 pré-selecionados; três candidatos posteriormente desistiram, apenas um foi convidado na repescagem (o winsurfista Wilhelm Schurmann) e sete candidatos foram eliminados na terça dia 25.
Só de ser a única mulher escolhida é profissionalmente para mim muito legal, um up grade e tanto na carreira, conta a velejadora Nádia Gonçalves, de 42 anos, que não passou na seleção dos 12. Para ela, que arriscou colocar o currículo mesmo com idade superior ao permitido, a surpresa já foi grande quando foi escolhida.
Eu disse por telefone a eles minha idade e tal. Na verdade, me inscrevi qualquer expectativa, porque queria saber se meu currículo estava bom em comparação com outros velejadores. Fiquei muito contente quando me chamaram. Mas a paulista, moradora há 10 anos de Ilhabela, tem o pé no chão.
Para mim já está valendo. Esta etapa é apenas um início, sei que não garante nada. Por exemplo, acho que duas americanas foram selecionadas para a etapa dos EUA e sei que outros competidores são excelentes. Eu só apostaria com certeza em mim se a questão fosse de marketing e isso já vimos que não é, segundo o que o próprio Roy nos disse. É uma seleção às claras.
O que esses jovens bonitos e fortes têm para chamar a atenção dos diretores da seleção? Quais qualidades eles têm em comum? O que não é bem visto? Bem, o que não pode é ser rude com o colega, tem de trabalhar mesmo em equipe, ou seja, avisar o colega quando erra na hora, para que a tripulação haja em sintonia e ágil.
Parece simples, regras de uma empresa bem sucedida? Sim, isso é a regata Volvo Ocean Race e são essas a boas qualidades gerenciais e de aptidão que os selecionadores esperam para o barco do ABN Amro, que levará dois brasileiros amadores na volta ao mundo em sete meses.
Das qualidades, grandes regatas, vivência no mar e delivery parecem ser as coincidências. O delivery, nome dado ao transporte de barcos de clientes de marinas que precisam ser levados de um Estado a outro, de um país a outro ou mesmo de um continente a outro, é feito pela maioria deles.
Nádia por exemplo conta que já fez do Atlântico Norte ao Sul, do Caribe com furacão à Europa. Assim, os velejadores ganham milhagens no transporte desses veleiros e mais experiência com a embarcação. Mas e a convivência durante a competição, a pressão de navegar ininterruptamente por três a quatro semanas, a condição espartana do barco para as necessidades mais básicas e agilidade na hora de tormentas e temperaturas abruptas, como na travessia do Cabo Horn, ao sul da Argentina?
O desafio – Todas essas são passagens, cenas da competição Volvo Ocean Race. Acredito mesmo que o desafiador seja a convivência com as pessoas, ali durante sete meses, e direto nas pernas da regata, fiz Rafael Harada, de 26 anos. Paulistano morador do bairro do Butantã, Rafael não nega o berço com um sotaque italianado com acentuação oriental.
Rafael veleja há sete anos e há dois anos é o regulador de velas do Pajero TR4, o veleiro patrocinado pela Mitsubishi Motors que Eduardo Sousa Ramos comanda. O veleiro já venceu a Semana de Vela em Ilhabela e o Circuito Rio, na categoria IMS, além da segunda colocação na regata Santos Rio.
Para ele, a boa participação nessas regatas influenciou em seu currículo. Sua participação também foi destacada pela organização como participantes do barco de André Mirsky no Campeonato Brasileiro de IMS, vencedor em 2003.
Isso aqui é uma oportunidade única na vida, porque não sou velejador profissional, tenho minha profissão no mercado financeiro, que é enriquecedora do ponto de vista do estresse, pois estou acostumado a trabalhar sob pressão. O que viveremos no barco da Volvo Ocean Race serão períodos de muita pressão também, compara Rafael.
Outro candidato a uma das cinco vagas para a seletiva final em Portugal é Wagner Niels Bojlesen, paulista que começou a velejar com 12 anos, e convive em barcos desde pequeno, pois vem de uma família de velejadores. O pai ensinou os primeiros passos e o filho vem mantendo e aprimorando os ensinamentos desde então.
O paulista de família dinamarquesa tem chances como os outros 12 candidatos, e em seu currículo constam competições internacionais e nacionais, como a Semana de Vela de Ilhabela, o Santos Rio, o Copenhaguen to Oslo, o Scandinavian Match Race Cup e o Snipe Junior Championship. Wagner também já foi diretor da Federação de Vela em São Paulo, há quatro anos.
Sim, tenho um desejo de participar de grandes competições sea world, aquelas que cruzam os mares, confidencia ele. Nos últimos tempos, conta que fez travessias com Amyr Klink, uma experiência e tanto para um jovem de 26 anos. Sua especialidade é levar a vela balão.
A oportunidade da seleção para o barco de amadores do ABN Amro veio na hora para ele, e apesar de não ter grandes títulos, velejar é o que ele mais gosta de fazer e o que se sente mais à vontade. Quando perguntado se existe uma receita de bolo para a adequação dos candidatos, Wagner reflete:
O que sabemos é que os critérios serão adequação à equipe e às situações adversas, além de velejar muito bem é claro. Algumas qualidades a mais devem ser bem vindas, como por exemplo o conhecimento de tecnologias para comunicação por satélite. Mas isso só irá agregar e não definir, completa ele, que é formado em Adminstração e com pós-graduação em Gestão das Telecomunicações e conhece muito bem o sistema de comunicação Imarsat.
Para ele, a vela, a vida e a carreira se complementam. Eu acho que na minha vida a vela é tão importante quanto à carreira profissional, mas não me sinto pronto de hoje até o resto dos meus dias para velejar, diz. Para mim, a carreira profissional é muito forte e tenho certeza de que se eu passar na seleção a competição, toda a vivência nela, vai contar muito no lado profissional. Pessoalmente, acredito que a experiência é fantástica.
Pode-se dizer que Wilhelm Schurmann nasceu no mar. Ou no vento. Ele ainda é visto pelos menos esclarecidos como o filho da família Schurmann, aquela que já deu a volta no mundo a bordo de veleiro, refez rotas marítimas famosas e está há 10 anos no mar. Tudo bem. Mas ele não fez só isso.
Wilhelm é oito vezes campeão brasileiro, e em cinco categorias diferentes. Além disso, o brasileiro que mora em Barra do Ibiraquera, uma praia ao sul de Santa Catarina o melhor vento do país para a prática de windsurfe e kitesurf é vice-campeão mundial dos jogos da ISAF e campeão Sul-americano.
Para mim sem dúvida foi uma grande emoção ter sido escolhido para esta regata, desabafa o atleta, dizendo que as grandes aventuras são a sua praia. É uma oportunidade única estar aqui. Por ser uma regata mundial, sonhava com ela desde criança. Se entrar vai ser show. Caso não, será incrível participar.
A expectativa pessoal de Wilhelm é estar com os melhores do mundo na competição e por aí já sair aprendendo. Com esse contato, esse entrosamento com o pessoal, será o maior aprendizado de minha vida. Estou super excitado para isso, porque é o top do top estar na regata e chegar ao final será alucinante.
Este texto foi escrito por: Cristina Degani