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Rafael Campos fala diretamente do Mundial e conta as dificuldades da Southern Traverse

Redação Webventure/ Corrida de aventura

Trilhas e muito azimute: a imagem da SouthernTraverse. (foto: Rahoul Ghose)
Trilhas e muito azimute: a imagem da SouthernTraverse. (foto: Rahoul Ghose)

Rafael Campos, capitão da equipe Mitsubishi Salomon Quasar Lontra, uma das três brasileiras que estavam disputando o Mundial de corrida de aventura na Nova Zelândia, conta, diretamente de Westport, as dificuldades que encontraram logo no começo da competição e o do corte que deixou a equipe fora da disputa já no segundo dia de prova. Confira:

Por que a Quasar já está fora da prova?
Rafael – Havia dois cortes na prova. O primeiro deles foi na terça-feira, às 19h. As equipes teriam que iniciar o rafting até esse horário. A largada foi na segunda-feira, às 9h e imaginávamos que íamos conseguir chegar nesse rafting. Só que na etapa anterior, no trekking, nos atrasamos muito não somente nós, mas todas as equipes a previsão do organizador furou bastante. O trekking foi muito mais demorado do que a gente imaginava, teve falta de comida, falta de água, nossa equipe ficou muito lenta e acabamos não chegando nesse corte. As equipes que sofressem o corte poderiam continuar, porém desclassificadas. Das 46 equipes que largaram apenas 29 conseguiram passar por esse corte.

O que você acha disso?
Rafael – Não gostamos nem um pouco, pois foi um corte muito cedo. Poderiam ter estudado uma penalização, fazer um dark zone no rafting, mas sentimos que ele (o organizador) quis eliminar logo no começo metade das equipes para não dar problema lá na frente.

Mas há outras alternativas de corte, como os que levam a outro ponto da prova. Não seria uma saída?
Rafael – Exato, é o mais comum, fazer o percurso mais curto e seguir na prova em uma categoria abaixo. Mas o que ele quis fazer foi eliminar as equipes. O que o Geoff Hunt ( o organizador) mais gosta de fazer é que pouquíssimas equipes terminem a prova. A prova está muito dura, está muito difícil.

Fale um pouco sobre esse trecho de trekking
Rafael – A previsão da organização era que o trekking seria feito entre 16 horas para a mais rápida e 20 horas para a equipe mais lenta. A primeira equipe foi excepcional, a única que fez dentro desse tempo; todas as outras fizeram com tempo maior. Foi um trekking de pouco mais de 30 km, mas praticamente sem trilha. No começo dele tinha uma trilha que fechava muito, mas depois deixava de existir e ele ficava muito perigoso a todo momento. Primeiro tínhamos que andar por um rio muito estreito e escorregadio, onde presenciamos uma equipe escorregando e quebrando o braço, e sendo resgatada depois.

Como era esse rio?
Rafael – A água era baixa, mas o rio era muito íngreme, como se fosse descer uma cachoeira. E tínhamos que encontrar o PC6 no leito desse rio. E foi um PC que deu bastante problema, pois embora o PC estivesse plotado no rio, fisicamente ele estava posicionado a uns 300 metros pra cima do rio, fora da margem. E a maioria das equipes perdeu muito tempo pra encontrar esse PC, inclusive nós. Chegamos ali na região e encontramos equipes que estavam há duas horas procurando o PC. Começamos a rastrear fora do rio e o encontramos.

E depois desse rio, o que aconteceu?
Rafael – Depois desse PC subíamos com uma diferença de cerca de 900 metros de altura até atingirmos a crista de uma montanha e seguimos caminhando por essa crista. Um trecho extremamente perigoso e em alguns momentos tínhamos que engatinhar, porque um escorregão pra um lado ou pro outro era uma queda muito grande para resgatar o corpo.

Como estava a classificação de vocês nesse momento?
Rafael – Até o PC6 estávamos no bolo das equipes, entre 25 e 30º lugar, até atingir o alto dessa montanha. Na subida da montanha, um trecho sem trilha e só com azimute, mudou muito porque cada equipe ia azimutando por um lado até atingir a crista. Nessa crista caminhamos por sete horas, um trecho muito frio e acho que o nosso grande problema ali foi a falta de comida e se água que tivemos que enfrentar.

Quando vocês começaram a pensar na situação?
Rafael – Dimensionamos nossa comida para 18 horas, que era o que a organização tinha previsto, e quando estávamos saindo do PC o organizador mudou a posição de um dos PCs para aumentar um pouquinho o percurso e com isso não pegamos mais comida. Quando estávamos na metade de trekking e com pouca comida é que começamos a racionar. Ficamos cada vez mais cansados, sem comida, sem energia, e nosso ritmo foi caindo cada vez mais.

Como foi a relação de vocês com o Gary, que nunca tinha feito provas longas?
Rafael – Ele é perfeito. Ele não tinha experiência em prova longa, só de 24 horas. Mas esse trecho de trekking era só mato, sem trilha e ele é caçador e anda muito no mato, com uma facilidade impressionante, além de ser um cara muito forte, a todo o momento na frente. Quando alguém ficava mais fraco ele pegava o equipamento para aliviar o peso, e rastreava a trilha muito bem.

De quanto foi o investimento para participar desse Campeonato Mundial?
Rafael – Só viemos para essa prova porque não tivemos que pagar a inscrição, porque ganhamos o Ecomotion/Pro no ano passado. Mas ainda assim, fora a inscrição, tivemos o investimento de cerca de 15 mil dólares.

E o fato do corte já levar vocês no segundo dia de volta para casa?
Rafael – Isso é uma coisa que nós e todas as equipes temos comentado bastante. É uma prova de neozelandês que ele faz praticamente para equipes neozelandesas, e entre as dez primeiras tem metade de equipe da Nova Zelândia, que estão acostumadas com esse tipo de clima, terreno e esse tipo de rasga-mato que dura mais que 20 horas. As equipes de fora, que foram cortadas, estão bastante desmotivadas com isso e o próprio Gary, que é neozelandês, acha que isso é um erro do organizador, porque ao invés dele querer a atrair equipes estrangeiras para provas futuras ele vai é afastar cada vez mais. É uma prova que nunca nenhuma equipe de fora da Nova Zelândia conseguir vencer. E nunca teve tanta equipe estrangeira na prova como nessa, pelo fato de ser o Campeonato Mundial. E ao que tudo indica não vai ser dessa vez que uma equipe de fora vai vencer.

Vocês encontraram as outras equipes brasileiras, a Oskalunga Brasil Telecom e a Try On Landscape?
Rafael – Depois que paramos encontramos as outras equipes brasileiras que haviam parado chegando ao PC 6. Para voltar ao PC5 eles levaram cerca de 20 horas. Os meninos da Oskalunga também estavam bastante indignados com esse corte tão cedo na prova e eles preferiram não continuar.

Qual é a imagem da Southern Traverse?
Rafael – O grande problema aqui são as condições de trekking, sem trilha e com a mata muito fechada. Não tem nada parecido no Brasil. A prova não passa por nenhuma cidade, só na região selvagem, a cerca de 100 km de Westport. Entre uma área de transição e outra são normalmente de 30 a 40 km de trekking por trechos sem trilha. O lugar é longe, é caro demais e pra ficar apenas dois dias é muito pouco. Mas a prova é muito insana. A largada por exemplo, de caiaque, foi em um mar que tinham ondas de dois metros de altura. Para entrar era tenso, mas tudo bem. Para sair, foi uma cena de guerra. Era caiaque de um lado, remo do outro, gente sendo resgatada de jet ski, vários caiaques partidos ao meio.

A equipe Mitsubishi Salomon Quasar Lontra tem o patrocínio de Mitsubishi Motors e Salomon, apoios de Trek, GU, Thule, Academia Reebok Sports Club, Oakley, Hidro 2, Ciclo Caravelle, Viasport, Assessoria Esportiva 4 Any 1, Headwear e Academia Competition.

Este texto foi escrito por: Redação Webventure

Last modified: novembro 17, 2005

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