Trekking gelado na Suécia (foto: Arquivo Pessoal)
O Mundial de Corrida de Aventura, que aconteceu na Suécia e Noruega de 16 até 24 de agosto, foi duro para a equipe brasileira Cosa Nostra-Caverá antes mesmo de começar. O quarteto teve os equipamentos extraviados pela companhia aérea e teve que pedir emprestado e alugar para a competição.
A equipe formada por Marco Aurélio Alcântara, Jean Carlo Finkler, Marcela Ferreira e o convidado Rafael Melges desistiu no quinto dia de prova. Rafael, que compete regularmente pela Paradofobia, conta de momentos extremos. Era comum passarmos em lugares onde um escorregão seria fatal, lembrou. Porém outras situações compensaram o perrengue, segundo ele. Assistir à uma aurora boreal foi o espetáculo mais lindo que já pude presenciar, contou.
Rafael está na Flórida (EUA), onde fará uma corrida de aventura de 24 horas, de volta com a Paradofobia, e concedeu uma entrevista por e-mail ao Webventure, a seguir.
Webventure – Como foi entrar em uma equipe mista para competir o mundial?
Rafael Melges – A equipe Cosa Nostra-Caverá já estava montada, mas de última hora um dos integrantes não pode ir. Como já corro na equipe Paradofobia há 2 anos, fui convidado pelo capitão Marco da Cosa Nostra e aceitei na hora. Consegui o patrocínio da Cobra Automotiva e apoio da Puma, o que viabilizou a viagem.
Webventure – Como foi feito o planejamento da prova?
Rafael – O planejamento quanto aos equipamentos obrigatórios foi detalhado para não levarmos peso extra na bagagem e ter certeza que teríamos tudo. Fiz uma escala de três dias em Miami pra comprar o restante dos equipamentos que faltava. O problema foi que vários foram extraviados e não chegaram na Suécia. Tivemos que alugar a maioria dos equipamentos por preços maiores do que o de compra. Estávamos em um lugar muito afastado e sem tempo, foi a única saída. Já começamos lidando com os imprevistos da prova de aventura.
Webventure – Qual a importância da logística nessa prova em especial, que não teve apoio?
Rafael – Foi fundamental. A logística das caixas era extremamente complicada. Um dia antes da largada, gastamos muitas horas pra entender. Várias equipes tiveram que parar no meio da prova para comprar comida, pois não souberam distribuí-las adequadamente.
*Thiago Padovanni colaborou com esta entrevista.
Webventure – Como foi a parte de patinação para você? Você se preparou para isso?
Rafael – Como fui chamado de ultima hora, não tive tempo pra aprender a andar de patins. A equipe optou em fazer a largada de Kick-Bike, pois o trecho de inlines tinha fortes decidas, perigosas até pra quem já domina os patins. Eu fui com o Kick-Bike e pude controlar o ritmo da equipe.
Webventure – Qual foi a maior surpresa da prova para você?
Rafael – A maior surpresa da prova pra mim foi sem duvida assistir à uma aurora boreal, o espetáculo mais lindo que já pude presenciar. Milhares de desenhos com varias cores vão se formando no céu e mudando rapidamente. O delírio durou cerca de uma hora. Esse fenômeno é raríssimo nessa época.
Webventure – Qual a maior dificuldade que vocês enfrentaram?
Rafael – Apesar da parte técnica ter sido muito explorada e bem difícil, acho que a maior dificuldade foi mesmo o problema dos equipamentos, o que nos fez perder muito tempo. Sobre a parte técnica, o organizador Mickael Nordstrom disse que tudo foi planejado para estarmos sempre no limite e assim foi. Era comum passarmos em lugares em que um escorregão seria fatal. Mas uma surpresa quanto à prova foi o nível técnico das equipes e dos trechos.
Webventure – Quais os principais erros que a equipe cometeu na sua opinião?
Rafael – Tivemos alguns errinhos quanto a logística das caixas, mas acho que não nos prejudicou muito. O maior erro foi a falta de oportunidade para treinarmos juntos, para detectarmos as dificuldades técnicas de cada um e trabalharmos para melhorar. Conheci pessoalmente toda a equipe apenas lá na Suécia.
Webventure – Quando vocês começaram a pensar em desistir?
Rafael – Foi quando a organização da prova teve um grande problema com a logística dos caiaques. Nos deixaram sem o caíque para completar o trecho. Tivemos que ficar 10hs esperando a organização decidir o que fazer e para onde nos mandar. Ficamos sem comida por todo esse tempo, mais o tempo que já estávamos sem comer até chegar lá. O trecho com caiaque ia ser muito grande. Então dá pra imaginar o que poderia acontecer com o esforço das remadas.
Webventure – Como era o relacionamento entre os integrantes da equipe? Vocês já competiram juntos outras vezes?
Rafael – Apesar de termos nos conhecidos lá, não tivemos nenhum problema de relacionamento.
Webventure – Como estava o ânimo do pessoal no dia do início da competição?
Rafael – No inicio estávamos todos ansiosos e conscientes que teríamos que lutar muito para completar a prova. Principalmente porqie que alguns equipamentos importantíssimos para a prova foram extraviados.
Webventure – E no dia da desistência?
Rafael – Quando fomos cortados estávamos chateados, mas ao mesmo tempo felizes por ter passado por esse aprendizado fantástico. Foi muito legal poder aprender e correr ao lado dos melhores do mundo, e ter noção de que o nível técnico das nossas provas no Brasil é incomparável.
Este texto foi escrito por: Daniel Costa*
Last modified: setembro 1, 2006