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Rally Dakar faz história na América do Sul; veja o que de principal aconteceu na prova


Chagin chegou apenas quase 4 minutos atrás de Kabirov (foto: Caetano Barreira/ www.webventure.com.br)

O Rally Dakar ganhou uma edição histórica para seus 31 anos de existência: a primeira prova realizada fora da África. As ameaças terroristas vindas da Mauritânia trouxeran a prova para a América do Sul, mais especificamente para a Argentina e Chile. Mas essa mudança não trouxe mais “paz” para os 904 competidores inscritos para as 14 especiais, que passaram, dentre outros lugares, pelas cidades argentinas de Buenos Aires, largada e chegada, Mendoza e Córdoba, Cordilheira dos Andes e pelo Deserto do Atacama, no Chile, o mais árido do planeta.

A fuga de ameaças terroristas levou os participantes para enfrentar as ameaças das dunas do Atacama, das pedras e rios secos dos percursos argentinos e de etapas com muitos perigos em seu caminho, como a segunda, entre Santa Rosa de La Pampa e Puerto Madryn, que vitimou um piloto e muitos feridos, como os brasileiros Dimas Mattos e João Tagino.

Foram 9.574 quilômetros percorridos, sendo 5.652 de trechos cronometrados e 3.922 de deslocamentos. Os participantes estavam divididos em 217 motos, 177 carros, 81 caminhões e 25 quadriciclos. Desse total, apenas 53% finalizou a prova, o que significa 113 motos, 90 carros, 52 caminhões e 13 quadriciclos na linha de chegada.

A primeira etapa foi composta por sete especiais, que terminaram em Valparaíso, no Chile. Exceto para os caminhões, que não fizeram a 7ª especial, entre Mendoza e Valparaíso, beirando a Cordilheira dos Andes. A organização resolveu cancelar a etapa para a categoria para preservar a segurança dos competidores, visto que a etapa anterior havia deixado muitos pilotos com problemas, quebras e abandonos.

O sábado, dia 10 de janeiro, foi de descanso para todos os pilotos, e a segunda etapa teve início no domingo (11) com 40% menos competidores. A organização anunciava ali que a pior parte da prova nem havia começado. Mas não foi preciso muito tempo para essa confirmação. As oitava e nona especiais transcorreram sem grandes problemas, até que a mais temida de todas as etapas chegou. Ela largava e chegava no mesmo local, Copiapo, o “coração” do Atacama. E logo cedo os problemas apareceram: a neblina impediu os helicópteros de imagem e da equipe médica da prova levantarem vôo. Até que o tempo colaborasse para o início da especial, mais de duas horas de espera e um corte de 214 quilômetros do percurso para, mais uma vez, garantir a integridade dos participantes.

Mais problemas e cortes – Passado o primeiro problema em Copiapo, aparece o segundo. O clima não colaborou e, no fim do dia, a previsão do tempo indicava que a neblina tornaria a causar problemas para os helicópteros e só dispersaria no fim da manhã, o que atrapalharia demais o cronograma do Dakar, já que esta seria a etapa de volta para a Argentina e os pilotos teriam que cumprir horário na fronteira, além de não poderem encarar a Cordilheira dos Andes a noite. A solução foi cancelar a 11ª etapa do Dakar.

A etapa seguinte, no dia 15 de janeiro, levou os competidores de Fiambalá a La Rioja, na Argentina. O percurso contou com mais um corte, desta vez de 30 quilômetros a pedido de autoridades argentinas, já que a prova passaria por uma região onde foram achados fósseis arqueológicos. Esta foi a etapa de despedida dos líderes Carlos Sainz e Michel Perin, que caíram em um desnível do percurso de aproximadamente quatro metros. Com uma lesão no omoplata, o navegador não pode continuar no rali. Muitos pilotos como Cyril Despres e Rodolpho Mattheis declararam que aquela tinha sido a pior etapa de todas, com um percurso de trechos sinuosos e muitas pegadinhas no percurso muito perigosas.

A 13ª etapa teve o maior corte de todos, 325 quilômetros. A organização justificou a mudança com o argumento de que a chuva forte que havia caído por mais de um dia em La Rioja havia deixado o início do trecho da especial, e a maior parte dele, intransitável. A saída foi neutralizar o percurso até o check point 4, no quilômetro 324 e a partir dali começar o trecho cronometrado. Com isso, as largadas foram atrasadas em cinco horas.

Já a última etapa não teve qualquer problema. De Córdoba para Buenos Aires, os competidores encontraram um percurso rápido, sem problemas e que terminou com menos de duas horas para as motos. Foram 227 quilômetros até o fim do maior rali do mundo.

O Brasil teve recorde de participantes nesta 31ª edição do Rally Dakar. Foram 16 pilotos nas quatro categorias: carros, motos, caminhões e quadriciclo, que contou pela primeira vez com um competidor brasileiro, Carlo Collet.

A segunda etapa foi a que mais tirou nossos representantes do maior rali do mundo, todos da categoria motos. João Tagino e Dimas Mattos sofreram acidentes e Carlos Ambrósio teve uma quebra. Tagino se machucou em uma ultrapassagem e não lembra o que aconteceu. Voou da moto e acordou no hospital sem ferimentos graves, com um desvio no ombro, uma lesão na bacia e no rim, que o deixou com dores por muitos dias após o acidente. Dimas Mattos, que pela 2ª vez fazia o rali, se machucou pela 2ª vez. Um tronco escondido na trilha lhe causou uma fratura no tornozelo levando-o para uma cirurgia para colocação de pinos.

Collet Collet saiu do Dakar também por acidente na 5ª especial. Ele sofreu apenas um corte no queixo, onde levou um ponto, mas desacordado, foi levado para o hospital pelo helicóptero de resgate da prova.

Nos carros, Reinaldo Varela e Marcos Macedo também se despediram do Dakar no dia 7 de janeiro, na 5ª especial. Eles tiveram uma quebra no carro e dormiram na trilha, sendo resgatados apenas na manhã do dia seguinte, quinta-feira (8). Na mesma categoria, Guilherme Spinelli e Marcelo Vívolo deram adeus à prova após um capotamento na 6ª especial, em 8 de janeiro. Ambos saíram ilesos do acidente, porém na hora o navegador sentiu fortes dores na região do pescoço e por precaução optou por acionar o resgate aéreo, o que significa desclassificação imediata. O alívio veio quando na notícia de que as dores de Vívolo eram apenas musculares, devido à forte pancada.

ResultadosZé Hélio estreou sua moto no Rally Dakar 2009 e já alcançou a 12ª colocação na classificação geral e na 3ª colocação de sua categoria, a 450. Ele esteve sempre entre os melhores pilotos da competição, alcançando os melhores tempos em certas especiais e garantindo o sétimo tempo na penúltima especial, sua melhor posição.

Rodolpho Mattheis realizou o sonho de ir para o Dakar e conseguiu mais do que finalizar a prova. Ele foi o campeão da categoria Marathon com apenas dois anos de profissionalismo no off-road.

Paulo Pichini também estreou no Dakar em 2009. Ao lado do navegador Lourival Roldan, que fez sua quinta participação na prova, eles conseguiram ótimos resultados, mesmo sofrendo com diversos problemas em seu carro e passando até uma noite nas dunas, sendo resgatados no dia seguinte cedo e aprontando em poucas horas o veículo para voltar para a trilha na especial seguinte. Eles terminaram na 64ª colocação.

Experiente piloto de moto, com nove participações no Dakar, Azevedo voltou para a prova nos carros em 2009, com seu navegador Youssef Haddad. A partir das três últimas especiais, eles tiveram que lidar com sérios problemas de queima e vazamento de óleo do motor o que os prejudicou mais na última etapa, quando eles conseguiram apenas a 89ª colocação, o que os deixou com a 23ª na classificação final.

Irmão de Jean, André Azevedo competiu na categoria caminhões e com Maykel Justo e Mira Martinec eles pararam na última especial, quando estavam na 4ª colocação, para ajudar Jean e Youssef, parados graças ao problema do motor, e finalizaram na 43ª colocação. Mesmo com o resultado, eles terminaram o Dakar na 6ª posição geral, o melhor resultado brasileiro nesta edição.

Mais de cinqüenta pessoas já haviam morrido nas outras 30 edições do Dakar. Até mesmo o criador do Dakar, Thierry Sabine, morreu durante a edição de 1986 da prova, quando seu helicóptero sofreu um acidente, matando ainda mais quatro ocupantes, no dia 14 de janeiro.

Em 2009, mais três mortes. A primeira foi do piloto francês Pascal Terry, de 49 anos, que competia seu primeiro Dakar na categoria motos. Ele foi encontrado morto às 2h10 de quarta-feira (7), porém estava desaparecido desde a segunda etapa, no dia 4 de janeiro.

Pascal foi encontrado morto a 300 metros da trilha por onde passaram os competidores e distante 15 metros de sua moto, embaixo de uma árvore com comida e bebida ao seu redor e sem capacete. A polícia argentina divulgou no mesmo dia uma nota informando que o piloto havia morrido de edema pulmonar causado por uma parada cardiorrespiratória entre a segunda e a terça-feira.

Porém, a morte de Terry segue com muitos mistérios, já que a organização não soube explicar certamente o que houve para que eles não conseguissem localizar o piloto logo após o seu sumiço. As informações são de que o francês acionou o resgate da prova tanto para a organização local quanto para a organização da prova na França desde o domingo até a segunda-feira, mas as buscas foram canceladas e retomadas entre esses três dias sem motivo claro. Todos os veículos participantes são equipados com dois sistemas diferentes de localização via satélite.

As outras duas mortes foram em um acidente com um caminhão de apoio da prova, que colidiu com um outro caminhão em uma estrada chilena, matando os ocupantes.

Dentre os acidentes, os britânicos Paul Green e Matthew Harrison, que competiam nos carros, se acidentaram no primeiro dia e foram levados em coma e em estado grave para um hospital de Santa Rosa de La Pampa, na Argentina.

Na quarta etapa, no dia 6 de janeiro, o piloto de moto tcheco Dusan Randysek sofreu traumatismo craniano e foi internado em um hospital, também na Argentina. No mesmo dia, além dele, quem também se acidentou foi o chileno Andrés Tamm, que estava na 22ª colocação na classificação geral e é considerado um dos melhores do país. Ele sofreu um forte acidente e mesmo passando bem, foi obrigado a abandonar a prova.

Na décima etapa, no dia 13 de janeiro, o espanhol Cristóbal Guerrero, que competia na categoria motos, caiu no quilômetro 160 da especial, foi resgatado e levado em estado grave correndo risco de morte para o hospital, onde seguiu internado.

Além dos pilotos, moradores e locais por onde a prova passou também se acidentaram. No dia 3 de janeiro, um carro de apoio da Equipe Mitsubishi se perdeu depois de deixar a cidade argentina de Carlos Cesares e atropelou uma criança, que com um quadro de politraumatismo, foi levada para o hospital sem risco de morte. Já no acidente com Randysek, um espectador que assistia a passagem dos pilotos foi ferido.

O último acidente aconteceu no último dia de prova. No trecho entre Córdoba e Buenos Aires, um espectador de 29 anos, que não teve seu nome revelado, ultrapassou o limite estabelecido pela organização para que as pessoas acompanhassem a prova e foi atropelado por um carro de um competidor. Ele foi hospitalizado em estado grave, com traumatismo craniano.

O Rally Dakar reúne todos os nomes mais fortes do off-road mundial e também os grandes nomes regionais que aspiram um lugar na maior prova da modalidade do planeta. Hexacampeão nas motos e tricampeão nos carros no Dakar, Stepháne Peterhansel não pode alcançar o tetracampeonato nos carros. O piloto completou até a sexta especial e na sétima teve que abandonar a prova graças a um problema de superaqueciemento do carro.

Campeão mundial, Nasser Al-Attiyah, da BMW, entrou no Dakar com o sonho do título, mas foi desclassificado na sexta etapa. Ele não pode continuar na prova após deixar de passar em mais de três check points, o que pela regra desclassifica qualquer competidor.

Outra grande promessa da prova era o então líder Carlos Sainz, da Volkswagen. Ele e o navegador Michel Perin garantiam a ponta da prova até um desnível de 4 metros no percurso da 12ª especial, de acordo com eles não indicado na planilha, tirou a dupla da prova. Quem se deu bem foi a dupla campeã do Rally dos Sertões 2008, Giniel de Villiers/ Dirk Von Zitzewitz, que assumiu a liderança no mesmo dia e venceu o Dakar com vantagem de quase nove minutos para mais uma dupla da Volks, Mark Miller/ Ralph Pitchford.

Luc Alphand e Gilles Picard também não conseguiram terminar a prova. Eles completaram as cinco primeiras etapas e tiveram que abandonar o Dakar porque o navegador começou a passar mal e não teve condições de prosseguir.

Outras duplas que tiveram presença forte nas primeiras colocações foram Robby Gordon/ Andy Grider, que garantiram a 3ª colocação da prova. Erik Ivar Tollefsen/ Evans Quin também realizaram uma boa campanha no Dakar. A dupla da Nissan foi a 4ª colocada após as 14 etapas. O polonês Krzysztof Holowczyc com o navegador belga Jean-Marc Fortin, também da Nissan, colocou seu carro modelo Navarra dentre as importantes equipes oficiais de montadoras. A dupla terminou na 5ª posição.

Dieter Depping e Timo Gottschalk competiram com uma das quatro Touareg da Volkswagen. A dupla trabalhava em cima dos pilotos que poderiam atrapalhar a vida das outras três duplas da Volks que estavam mais bem classificadas: Sainz, de Villiers e Miller. O “trabalho” deu a eles a 6ª posição na classificação geral.

Joan “Nani” Roma e Lucas Cruz Senra tentaram de todas as formas colocar sua Mitsubishi modelo Racing Lancer para voar nas trilhas e venceram a 13ª especial. Eles terminaram na 10ª colocação.

Outros destaques – Nas motos, dois nomes fortes não conseguiram completar. Com vitórias em etapas, Jonah Street e Francisco López saíram na 9ª e 13ª etapas, respectivamente. A organização não comunicou nenhum acidente com os pilotos, e uma quebra nos equipamentos deve ter impossibilitado os competidores de continuar no Dakar.

O destaque da categoria ficou por conta de nomes como David Frétigné, David Casteau, Helder Rodrigues, Pal Anders Ullevalseter, Jordi Vilamdoms e Frans Verhoeven que travaram uma grande disputa em todas as etapas, buscando as melhores posições da classificação e garantindo a vitória, como foi o caso de Verhoeven na 2ª e 9ª etapas, Viladoms, na 10ª etapa, e Rodrigues, na última etapa.

Essas duas categorias foram as mais tranqüilas do Dakar. Os “grandões” da prova foram os competidores que tiveram menor diferença de tempo entre o campeão e o segundo colocado. Pouco mais de 3 minutos separaram Firdaus Kabirov/ Aydar Belyaev/ Andrey Mokeev de Vladimir Chagin/ Sergey Savostin/ Eduard Nicolaev.

Dentre os competidores também não houve nenhuma quebra nem acidente representativo. A disputa da última categoria a largar todos os dias transcorreu tranqüila, sem incidentes.

Os quadris foi a categoria que contou com menos competidores: 25 largaram e 13 terminaram o Dakar. Não houve grandes novidades nas classificações, já que os principais nomes foram sempre os que estiveram na ponta, sem grandes quebras ou acidentes. A não ser por Christophe Declerk e o brasileiro Carlo Collet, que abandonaram a prova na 6ª e 5ª especiais, respectivamente.

O campeão, Josef Machacek abriu grande vantagem desde o princípio do rali e administrou o resultado até o fim, tendo que brigar com o argentino Marcos Patronelli e com Carlos Avendano, Rafal Sonik, Hubert Deltrieu e Eric Carlini pela ponta da competição.

Este texto foi escrito por: Lilian El Maerrawi