Quando se fala em corridas de trilha, a primeira idéia de algumas pessoas é fazer uma analogia com corridas de rua, corridas de pistas e maratonas. E como quase todo mundo já fez, pelo menos no colégio, alguma corridinha, corre-se o risco desta experiência parecer erradamente suficiente para se imaginar o que é correr em trilhas e quais as medidas de segurança que devem ser adotadas para que esta atividade outdoor traga somente prazer e satisfação, não incidentes ou acidentes.
A corrida em trilha, síntese entre corridas de rua e montanhismo, tem como pano de fundo qualquer lugar que não seja feito de asfalto ou outro material artificial, como cimento, pedras portuguesas, etc… Assim, se você correr em um deserto, uma geleira, uma floresta, ou um parque municipal com bastante árvores e piso de grama ou terra, estará praticando corrida de trilha.
Para que esta atividade seja feita com um mínimo de segurança, algumas regras jamais devem ser esquecidas:
Os olhos
Em primeiro lugar vamos falar dos olhos. Bastante diferente de correr em um calçadão de praia, quando estamos em uma floresta somos obrigados a ultrapassar freqüentemente pequenos e médios galhos que parecem ter sido colocados propositalmente à altura do rosto, mais precisamente dos olhos.
Para nos defendermos desse perigo, potencialmente maior do que a similar situação durante uma caminhada, em que temos mais tempo de antever o perigo, temos como solução o uso de óculos com lentes incolores, devido à falta de claridade em alguns trechos do percurso. Eu, pessoalmente, estou começando a usar um daqueles modelos para trabalhos manuais de carpintaria. A vantagem deste é o tamanho maior do que um óculos normal, evitando mais ainda a entrada de galhos e espinhos invasores. Giovanni Mello não se adaptou a este modelo, preferindo óculos de ciclismo.
Cabeça
Pelos mesmos motivos do óculos, um boné é fundamental para a proteção da cabeça, testa e orelhas. Ele deve ser de um material suficientemente espesso para conseguir exercer esta função. A desvantagem é o aumento de calor na região da cabeça. Portanto, deve haver um compromisso entre a proteção e o calor para chegarmos a uma espessura ideal do tecido.
A hidratação é outro ponto fundamental quando estamos correndo em um ambiente inóspito, já que a necessidade de reposição de líquidos é muito mais premente do que durante uma corrida naquele calçadão da praia. O melhor método é usar um relógio de pulso que apite automaticamente a cada, por exemplo, dez minutos, indicando os momentos de bebermos água ou isotônico.
O período
Assim como em uma caminhada, sempre que vamos correr em uma trilha durante o dia devemos pensar na possibilidade de algum acidente que nos obrigue a continuar no local à noite. E isto representa alguns equipamentos que devem ser muito bem pensados e estudados para atingirmos o estado-da-arte em termos de volume e peso: lanterna, anorak e faca, entre outros.
Orientação
O calcanhar-de-aquiles, quando corremos em trilhas que não conhecemos, é a orientação. Como eu já disse em artigos anteriores, não existe nada mais desagradável para um corredor de trilhas do que parar de correr para se orientar. Estes preciosos minutos em que paramos são suficientes para abaixar a freqüência cardíaca e tirar-nos do steady state, o piloto automático, que mantém o organismo em velocidade cruzeiro com seu metabolismo suave, quase que anestesiado. E, para não atrapalhar este estado, o normal é fazer tudo da maneira mais rápida possível. E é nesta hora que um corredor de trilhas se perde!
Concentração
E, last but not least, devemos ter como norma principal a concentração e a atenção durante todo o percurso. Bastante diferente do que fazemos durante um incrível trekking ou uma deliciosa corrida na cidade, quando corremos em uma trilha não podemos nos desligar nem por um segundo de todo o ambiente à nossa volta, pois é exatamente neste momento que aparece aquela pedra ou raiz que nos faz tropeçar, torcer o pé ou nos furarmos em algum galho ou espinho. Minhas cicatrizes comprovam…
Além disto, uma desatenção de um segundo pode nos fazer perder horas procurando a trilha certa pouco tempo depois. Com estas preocupações em mente, com certeza você terá muitas alegrias por todas estas trilhas deste mundo afora. E, quem sabe, não nos cruzamos em uma delas, qualquer dias desses?
Este texto foi escrito por: Carlos Sposito
Last modified: agosto 26, 2002