Os relâmpagos matam mais pessoas no Brasil do que qualquer outro evento meteorológico. Em média, 150 pessoas morrem por ano*. Mas, para alívio de todos, apenas 20% ou 30% das pessoas atingidas por relâmpagos morrem. Amantes de atividades ao ar livre vivem expostos a este risco. Isto porque estão sempre em locais onde os relâmpagos geralmente caem, como cume de montanhas, e muitas vezes carregam equipamentos metálicos.
Estatisticamente, só as vítimas que sofrem parada cardíaca imediata vêm a falecer (a não ser que recebam tratamento adequado – Ressuscitação Cardio-Pulmonar – RCP) – o que não é sempre possível) se forem atingidas por relâmpago. Os demais sofrem uma série de ferimentos, alguns sérios, mas sobrevivem.
Dinâmica dos relâmpagos
Um relâmpago é uma corrente elétrica muito intensa que ocorre na atmosfera com típica duração de meio segundo e trajetória com comprimento variando de 5 a 10 quilômetros. Ele é conseqüência do rápido movimento de elétrons de um lugar para outro. Os elétrons movem-se tão rápido que fazem o ar ao seu redor iluminar-se, resultando em um clarão, e aquecer-se, resultando em um som – o trovão.
O relâmpago é tipicamente associado a nuvens cumulonimbus ou de tempestade, embora possa ocorrer em associação com vulcões ativos, tempestades de neve ou, mesmo, tempestades de poeira. Dentro das tempestades, diferentes partículas de gelo tornam-se carregadas através de colisões. Acredita-se que as partículas pequenas tendem a adquirir carga positiva, enquanto que as maiores adquirem predominantemente carga negativa.
Receita – Estas partículas tendem, então, a se separar sobre a influência de correntes de ar ascendentes e descendentes e da gravidade, de tal modo que a parte superior da nuvem adquire uma carga positiva e a parte inferior, uma carga negativa. A separação de carga produz então um enorme campo elétrico tanto dentro da nuvem como entre a nuvem e o solo. Quando este campo eventualmente quebra a resistência elétrica do ar, um relâmpago tem início.
Em termos gerais, existem dois tipos de relâmpagos: na nuvem e no solo. Relâmpagos na nuvem originam-se dentro das nuvens, normalmente na região onde gotículas de água transformam-se em gelo, e propagam-se dentro mesma (relâmpagos intranuvem) ou fora dela, rumo a outra nuvem (relâmpagos nuvem-nuvem) ou numa direção qualquer no ar (descargas para o ar).
Relâmpagos no solo, por sua vez, podem originar-se na nuvem ou em outras regiões dentro da nuvem cumulonimbus (neste caso seriam relâmpagos nuvem-solo) ou apenas no solo, abaixo ou perto da tempestade (relâmpagos solo-nuvem). Mais de 99% dos relâmpagos no solo são relâmpagos nuvem-solo. Relâmpagos solo-nuvem são relativamente raros e, geralmente, ocorrem do topo de montanhas ou estruturas altas.
(*) Fonte: ELAT – Grupo de Eletricidade Atmosférica do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
Existem várias situações em que um relâmpago pode atingir uma pessoa. Veja algumas:
Atingimento direto – É quando o relâmpago atinge o objeto ou pessoa diretamente, atravessando o objeto até chegar ao solo. Os relâmpagos procuram o caminho mais curto e de menor resistência até chegar ao chão. Uma pessoa no cume de uma montanha durante uma tempestade torna-se um caminho perfeito para isso.
Descargas laterais – Neste caso, o relâmpago atinge algo que não uma pessoa (uma árvore ou pedra) mas “pula” pelo ar, formando um arco, e atinge alguém cujo corpo que ofereça uma resistência menor à carga elétrica do que o objeto atingido inicialmente. Descargas laterais também podem ocorrer de pessoa para pessoa.
Contato – É quando a descarga elétrica atinge alguém que estava em contato com algo que foi atingido por um relâmpago, seja diretamente ou por descargas laterais.
Flashover – Este tipo de evento se dá quando o raio passa por fora do corpo em vez de atravessá-lo. Roupas molhadas de chuva ou suor contribuem para que este efeito ocorra. Quando ele acontece, a umidade nas roupas e calçados evapora rapidamente, expulsando estes objetos de forma abrupta do corpo, quase como uma explosão, causando queimaduras na pele.
Corrente no Solo – A carga elétrica é conduzida pelo solo, após atingir um objeto qualquer. Se alguma pessoa estiver próxima ao objeto atingido pelo raio, ela pode se ferir como resultado do fluxo de eletricidade passando pela terra.
Tipos de Ferimentos
Os relâmpagos podem causar ferimentos múltiplos, de tipos diferentes, indo desde parada cardíaca até queimaduras sérias e fraturas. Quando alguém é atingido por um raio, a primeira coisa a se fazer é verificar o ABC da Vida (Vias Aéreas, Respiração e Circulação). Caso necessário, proceder a RCP (Ressuscitação Cardio-Pulmonar). Veja os principais ferimentos:
Parada Cardíaca – A corrente elétrica muitas vezes interrompe o ritmo natural dos batimentos cardíacos. Se o coração está sadio, normalmente ele volta a bater sozinho. Porém, ele pode não voltar, caso tenha sofrido alguma lesão, ou voltar e parar de novo, se o coração tiver sofrido uma privação prolongada de oxigênio, como no caso de uma parada respiratória. Neste caso, a RCP deve ser iniciada imediatamente.
Ao contrário do que muitos acreditam, uma pessoa que foi atingida por um relâmpago não permanece com carga elétrica. Portanto, nunca espere para iniciar a RCP.
Parada Respiratória – A área do cérebro que controla a respiração e os músculos utilizados podem ser paralisados pela corrente elétrica. Esta interrupção na respiração pode ser prolongada, levando a vítima a ter uma segunda parada cardíaca, quando o coração retoma os batimentos depois de uma primeira parada. Em caso de parada respiratória, a ventilação artificial deve ser iniciada imediatamente.
Problemas Neurológicos – De um modo geral, a vítima entra em um estado de inconsciência. Algumas pessoas irão sofrer uma paralisia temporária, principalmente nas extremidades inferiores. A descarga elétrica também pode resultar em perda de memória.
Queimaduras – São raros os casos de queimaduras profundas de pele e músculos, mas queimaduras superficiais são comuns. A maioria das queimaduras são de primeiro ou segundo grau, mas podem ocorrer queimaduras de terceiro grau. A de primeiro grau é aquela que deixa a primeira camada da pele vermelha e dói ao ser tocada. Um exemplo: queimaduras solares. Já as de segundo grau danificam tanto a primeira camada quanto a camada intermediária da pele. Estas queimaduras doem muito quando tocadas. A pele fica vermelha, úmida, com bolhas, e fica esbranquiçada quando aplicada pressão. As bolhas podem levar até 24 horas para se formarem e as feridas podem levar de 5 a 25 dias para ficarem completamente curadas, se não houver infecção.
O local queimado deve ser limpo e resfriado com água, se possível, esterilizada (atenção: nunca use gelo) e coberto com bandagem ou atadura úmida. Não aplique nenhum tipo de pomada ou creme, nem pasta de dente, manteiga ou outros ensinamentos populares. Leve a vítima até um médico.
As queimaduras de terceiro grau são extremamente sérias. Elas destroem todas as camadas da pele, chegando a queimar músculos e outros tecidos sob a pele. A pele queimada fica ressecada e com aparência de couro e coloração acinzentada. Porém, a pele fica insensível, pois a maioria dos nervos e vasos sangüíneos do local foram destruídos. O tratamento inicial é o mesmo das queimaduras de primeiro e segundo grau, porém, é necessário que a vítima seja levada imediatamente ao hospital.
Um outro problema resultante das queimaduras é a desidratação. Se a vítima estiver consciente, ministre líquidos.
Outros Ferimentos – Quando os músculos são atingidos pela descarga elétrica, são forçados a contrações violentas, causando fraturas, danos à coluna cervical e deslocamento. O impacto de um raio pode ser forte o suficiente para jogar uma pessoa alguns metros à frente.
Existem várias maneiras de se evitar problemas com relâmpagos. A primeira delas é saber a previsão do tempo. Se existir a possibilidade de chuvas fortes e tempestade, fique atento à formação ou chegada de nuvens pretas ou não saia de casa.
Caso você não dê atenção à previsão do tempo e saia de casa assim mesmo, cuidado. No meio de uma tempestade com relâmpagos, procure um local com muitas árvores baixas ou blocos de pedras. Para reduzir as chances de ser atingido em um local com árvores e pedras grandes, fique longe de qualquer objeto com mais de 5 vezes o seu tamanho, mantendo uma distância de pelo menos uma vez e meia o tamanho do objeto.
Ao contrário do que muitos acreditam, não se abrigue debaixo da árvore ou pedra mais próxima. O relâmpago pode atingi-lo de forma indireta, como visto anteriormente.
Afaste qualquer objeto que possa conduzir eletricidade. Se você estiver com um grupo, espalhe as pessoas ao máximo, para evitar descargas laterais e correntes vindas pelo solo.
Se possível, entre em uma caverna profunda. Fique longe da entrada e não encoste nas paredes. O local mais seguro para ficar é dentro do carro (com as janelas fechadas). O metal do carro irá dispersar a corrente elétrica, fazendo com que a mesma passe ao redor do veículo. Não toque em nenhuma parte metálica do carro.
Por fim, esteja sempre atento. Não espere a tempestade começar. Vá embora antes!
Este texto foi escrito por: Webventure