Dificuldades apareceram ao longo dos 500 quilômetros de prova (foto: Thiago Padovanni/ www.webventure.com.br)
Há muito se fala na Expedição Carcará de 500km, uma prova para entrar na história das corridas de aventura do Brasil. E logo veio o desejo de todos que fazem parte da Carbono Zero UNICRED Deuter de correr e a idéia de fazer uma festa com duas equipes competitivas. Então, foram 30 dias de pelo menos 10 e-mail por dia, 4 listas de material obrigatório em uma planilha no Google doc´s entre 8 atletas e 4 apoios de 5 Estados (Piauí, Brasília, Maceió, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte) e muita, mais muita expectativa.
As equipes ficaram assim: Charles Sá, Helio, Miguel e a Deborah com a Carbono Zero UNICRED DEUTER 01 ; e Renato, Ricardo Sá, Vitor Hugo e Juliana Bezerra com a Carbono Zero UNICRED DEUTER 02. Já em Assu (RN), após receber os 9 mapas, era hora de traçar rotas, fazer estratégias que nem sempre dão certo. E nessa prova, em especial, foram quase todas furadas e preparar o coração para a largada.
A largada alucinada de todos os atletas em uma corrida pela cidade de Itajá até as margens da barragem Armando Ribeiro Gonçalves, e eu, com meu capacete com um moicano colorido (sim, porque depois do Ecomotion 2009, que outro atleta fez um moicano no cabelo, eu tinha que inovar). Tudo bem que correr com o capacete não é uma boa idéia mais eu tinha que ser visto, pelo menos na largada… Chegando às margens da barragem para pegar os barcos, larguei o capacete, peguei os remos e fomos bem rápidos para a água. Logo, o Ricardo e eu abrimos uma vantagem da outra dupla da equipe, e então paramos de remar para saber se estava tudo em ordem (antes de ir para Assu, ainda em Natal, vi um remo de alumínio na casa do Ricardo e disse para ele levar, pois seria melhor que os da organização, já que só tínhamos 3 de carbono para levar). O Hugo ficou com esse remo de alumínio, e quando estavam chegando próximos das águas da barragem, Hugo foi logo falando esse remo é muito pesado, não dá para remar com ele. Então, assumi a responsabilidade e passei meu remo para o Hugo. Fui com esse maldito remo, logo vi que estava cheio de água e com um furo próximo a pá, chacoalhei para tentar tirar a água que tava dentro dele, mas acredito que estava com pelo menos 2,5kg… A minha única idéia na hora era remar ate o PC 02 com esperança de ter algum remo da organização por lá, que na minha opinião são os melhores, a partir de hoje.
Chegando no PC 02, o Vescio estava lá e desci do barco desesperado para pegar um outro remo. Ele foi logo falando que não tinha… Meleca, entrei no barco e fomos embora. É início de prova, somos atletas bem adaptáveis ao meio em que nos encontramos e fomos remando um hora e parando cinco minutos para descansar ou ainda eu dava uma parada de remar e falava: Ricardo vou navegar aqui, rema aí…. Quando a lua começou a nascer eu falei para contemplarmos, somos privilegiados por ver a lua nascer.
Fôlego – Perto de chegar ao PC 03 vimos os meninos da Trotamundo e aquilo me deu uma animada, fizemos uma portagem e logo levei uma surra de espinhos e plantas que coçam: é o sertão mostrando sua cara. No PC estávamos em 3 lugar com os Tapuias e a Trotamundo na nossa frente. Fizemos uma transição para nos alimentar, e sair para um trekking de 6 horas e, respeitando o sertão só correndo nas descidas e hidratando muito bem. Mesmo eu sendo da região, o calor foi muito forte e uma boa hidratação e alimentação nos manteria na prova.
Já em Laginha, no PC 05, fomos recepcionados por todas as crianças da cidade gritando o nome da equipe, culpa do nosso apoio, o Muriçoca, que aonde chegava fazia uma festa com pessoal. Nesse AT fomos um pouco mais lentos, reflexo do trekking puxado, o trecho de bike era grande e tínhamos um horário para cumprir por causa do ponto de corte. A bike foi bem dura, com uma navegação cuidadosa andamos bem, com poucos erros, mais o calor fez nossa guerreira, a Juliana desidratar um pouco e até vomitar, mas ela estava bem focada e o tempo todo perguntava se daria tempo para passarmos no ponto de corte e eu disse relaxa garota, temos 4 horas para fazer 18 km, são 2 horas para cada 9km. Nos primeiros nove, com uma navegação e subindo uma pequena serra fizemos em 2horas e 20min. Sabia que poderíamos fazer os outro 9km em 30 min, já que seria a descida para o açude Gargalheiras, mas recebemos a informação do PC 07 que o corte havia sido estendido por 4 horas, então resolvemos poupar energia e dormi por 20 min. Perdemos quase um hora para sair com os 20 min de sono e fomos para do AT da Bike para Canoagem, 1° corte da prova.
Andamos sem problemas ate próximo o AT ate encontramos uma cerca e pensei: isso tem a maior cara de cerca elétrica. O Hugo disse que não, então fui logo passando minha bike para o outro lado e levei o maior choque, lasquei minha bike no chão do outro lado cerca. Mais uma vez, o Hugo disse que a eletricidade estava somente nos fios debaixo. O Ricardo foi em seguida e, quando tava quase do outro lado, enroscou o pé na parte elétrica e quebrou a cerca em dois ou três lugares deixando um fio de arame farpado tocando a parte elétrica fazendo aquele barulhinho característico do choque eu, lógico, caí na risada e agradeci por abrir passagem para mim e para a Juliana. No AT para a Canoagem dormimos mais um pouco e saímos antes do ponto de corte para 8 km de canoagem e uma travessia de 1,5km no açude Gargalheiras e um trekking de 30km em serras e entre um vale muito, muito quente. A Direction já estava em nossos calcanhares, mas na navegação sobre as serras abrimos 50 minutos de vantagem.
Paramos na 1° parada obrigatória de sono, dormimos 2 horas e saímos para mais um trekking em direção ao Morro do Chapéu, onde erramos e fomos logo alcançados pelas Direction e por alguns quilômetros batemos um bom papo, mas a força da equipe Direction era nítida e logo abriram alguma vantagem. Fizemos uma navegação com calma e não erramos a entrada dentro dos apertados cânions, que nos levou ate o AT para a bike e 2° para obrigatória de sono. Saímos para a bike depois de 2 horas e com quase tudo molhando por uma chuva que pegou nosso equipamento e roupas.
Sofrimento na bike – Essa bike foi bem sofrida, uma navegação bem complicada, um terreno bem complicado para pedalar; à noite, o sono e o tempo contra a equipe para passarmos no 2° corte e só pela manhã percebemos o erro e paramos em uma casa para tomar um delicioso café com bolachas e bolo dados de bom grado pelos locais. A única coisa que me estranhava era ver todos as crianças me olhando e só depois eu me lembrava do moicano em meu capacete, culpado pelos olhares mais estranhos que o normal. Chegando em Campo Redondo quase fui parado pela Polícia Rodoviária Feral por estar no contramão, a sorte que era só o amigo Dudu em seu trabalho e me cumprimentando pela prova. No AT para o trekking vimos que não tínhamos como chegar antes do ponto de corte às 12 horas em Santa Cruz, então relaxamos, comemos e fomos pro trekking até Santa Cruz onde recebemos o corte e fizemos uma bike insana até Serra Caiada, distante cerca de 50km de Santa Cruz em menos de duas horas.
Em Serra Caiada, a roda traseira da bike do Hugo deu uma travada, era o aro estourando. Então, resolvemos parar 2 horas de sono obrigatório enquanto nosso apoio arrumaria esse problema. O Ricardo disse, Muriçoca acorda a gente às 2 horas e 20 minutos para termos 20 minutos sem perder tempo, e fomos dormir. O nosso apoio também foi dormir e colou seu alarme elétrico para despertar às 2 horas e 20 minutos, só que a luz da casa foi desligada ele também perdeu a hora, e às 4 horas e 15 minutos acordou Ricardo falando ei, são 2 horas e 20 minutos, vcs vãos sair agora?. Ricardo disse não vamos dormir as outras 2 horas e que temos de obrigatório, então o Muriçoca deixou Ricardo dormi mais cinco minutos e acordou Ricardo falando que tava na hora. Ele levantou e disse que nem percebeu que o Muriçoca perdeu a hora e enganou a gente. Esse é nosso apoio que ainda me deu a notícia que quebrou o nosso remo. Olhei qual era o remo e comemorei, pois ele havia quebrado o maldito remo de 2,5kg. E disse que amarrou em cima do carro e quando chegou no AT só tinha a pá do remo e restou ficou pelo caminho, só espero que ele não tenha acertado ninguém.
A roda do Hugo não tinha como arrumar, soltamos o freio traseiro dele e saímos na torcida para não termos problemas no pedal de 102km. Pedal sem problema e chegamos na Granja Ferreiro Torto em Macaíba escoltados pelo apoio dos Tapuias, que nos viu na cidade e foi nos acompanhado ate a Granja. Lá fomos recebidos com festa por atletas que não estavam correndo e amigos, fizemos uma transição para tentar pegas a canoagem a favor da maré ate a praia da Redinha. A canoagem foi feita em 4 horas e o Ricardo e eu vimos duas aves Carcará às margens do Rio Potengi. E fomos para os últimos km de trekking que, diga-se de passagem, bem sofridos pela minha pessoa que tive fortes dores na perna e só foram sanadas por dois comprimidos de dorflex. Fizemos a pista de orientação e a equipe já não via a hora de ir embora para casa, mais um pedal final de 20km até a Cervejaria Continental e muita, muita festa por completar esse desafio de mais de 500km pelo Estado feito com tanto amor e Carinho pela Expedição Carcará.
Obrigado Toinho por tudo, você é um cara 1000, pena que não me deixou estar ao seu lado nessa organização como o Klebinho queria, mais a prova foi linda, estava tudo no lugar, e o sertão tava lindo e espinhento como sempre. Vescio foi uma pena minha equipe não chegar nas Verticais… Estou com saudades da pedra e de seus ensinamentos. Parabéns, sei que as verticais estavam perfeitas e seguras como sempre. Parabéns a todos os PC´s, as palavras de incentivo, os tapinhas nas costas e ao simples vai lá que vocês estão bem que sempre dá um gás. Aos nossos patrocinadores UNICRED e DEUTER, valeu mesmo. Ao Eduardo da Acess Plus por incentiva o esporte com tanto amor. Aos amigos que tanto perturbei para correrem a Expedição Caracará 500km.
Este texto foi escrito por: Renato Gurgel, especial para o Webventure
Last modified: junho 8, 2010