Neste Minha Aventura o internauta Charles Putz conta como foi a participação da equipe dele, a Putz, na Ultimate Adventure, corrida de aventura realizada dia sete de fevereiro na cidade de Piracaia, no interior de São Paulo.
Uau! São tantos sentimentos, como ordenar de forma compreensível num artigo? A preparação para o Ultimate Adventure de Piracaia começou cedo, e com uma grande responsabilidade. No Ultimate de Camburi a equipe PUTZ ficou em segundo lugar, e agora não queríamos fazer feio. Tão logo soubemos que haveria a modalidade natação em represa, começamos a testar alternativas. Nos finais de semana em represa, dia de semana cedinho, ou à noite, na piscina do clube.
Nadando de tênis, com nadadeiras, com mochila, sem mochila, buscando a melhor solução. No clube, uma dificuldade para conseguir autorização para nadar com roupa. Uma senhora veio conversar, achei que iria se queixar, mas queria era saber se íamos participar de alguma espécie de rali. Desejou-nos boa sorte. Os salva-vidas se interessaram em participar de uma corrida de aventura. O mais divertido: um senhor foi conversar com minha filha, e dizer-lhe que eu não precisava nadar com a mochila, que eu poderia deixá-la na margem que ninguém mexeria.
Estratégias – O Moritz, nosso apoio que revezou e foi fundamental na última prova, não podia nos acompanhar. Logo, convidados o Felipe Tambasco, do Alphabikers (veja a experiência descrita por ele e fotos no www.alphabikers.comm.br), que revezaria e nos daria uma boa força na bike. Alugamos um sitiozinho na cidade, e partimos para lá na sexta-feira à tarde. Como, para variar, eu estava resfriado, mudamos a estratégia, e eu, apesar dos treinos, ficaria fora da água fria de manhã.
Correria o resto da prova, com minha esposa Verena, que nunca reveza. O Felipe entraria em todas as bikes e nadaria no meu lugar, e o Adrien Duarte faria o resto da prova. A Ingrid e o Arnaldo nos dariam apoio complementar. Mesmo achando que havíamos deixado tudo pronto, com jantar e checagem final, como sempre, não conseguimos dormir cedo.
Largada. Partimos de bike com o pelotão da frente. Estávamos sentindo dificuldade em acompanhar, quando percebi que eles poderiam passar batido pela entrada à esquerda de terra. Afastei-me um pouco, e de fato, um pelotão de umas 15 pessoas passou reto. Entramos pela estradinha de terra, e forçamos o pedal. Chegamos em primeiro no PC 1. Nosso apoio nem estava preparado e não acreditava.
A equipe optou por voltar pela estrada até uma trilha que levava até mais à frente na beira da represa. Já perto da ponta mais próxima à outra margem onde ficava o PC2, colocou as nadadeiras e mandou bem, enquanto eu me desesperava procurando minha bike que havia sumido. A Ingrid achou a bike e seguimos para o AT seguinte. Logo após a natação havia um trekking de 6 km no qual a equipe, conforme previsto, perdeu algumas posições para os times que corriam disparados. Não somos uma equipe de muita velocidade e seguimos mais na constância e estratégia.
Entrei no lugar do Adrien e seguimos para uma bike difícil, com muita subida e muito barro. Um trajeto bem escolhido pela organização nos fez passar por uma bonita trilha, bastante técnica, que nos obrigou a um pouco de push bike. Forçando bastante no pedal, recuperamos umas duas posições, e partimos para o principal trekking da prova em quinto, meio emboladas às equipes. Apesar de ser meu forte, com o ritmo que vínhamos mantendo, e o resfriado, quebrei na subida. Nesta hora, as equipes logo à minha frente estavam ajudando as mulheres de suas equipes, enquanto a Verena já estava na frente deles, e o Adrien me ajudava.
Comentei com eles que na minha equipe era o contrário, e um deles respondeu que depois dessa eu deveria trocar de mulher. Disse que pelo contrário, havia escolhido a Verena justo por isto. Não fosse o Adrien, teríamos perdido algumas posições, mas com a ajuda dele, e depois de um cajado improvisado, nos mantivemos em sexto, ainda avistando as outras equipes à nossa frente. Acredito que havíamos aberto uma grande vantagem para o sétimo lugar, pois nem de longe se avistava alguém atrás.
Erro de nagevação – A organização escolheu um caminho bonito, que no topo deveria ter uma vista linda, mas a neblina nos impossibilitou de curti-la. Na descida, após o PC virtual, a navegação em trilha se complicava. Numa bifurcação alcançamos uma equipe de ponta que parara para navegar. Atrevi-me a achar que sabia melhor do que eles onde estávamos, e seguimos na direção oposta. Alguns metros para baixo de um barranco percebi o erro. Estávamos num caminho muito mais difícil, mas mais curto. Decidimos não voltar, sabendo que a navegação ficaria difícil, num trecho sem trilha.
Tivemos que nos desviar um pouco para a esquerda, e avistamos uma estradinha de terra ainda mais à esquerda. Fomos até ela, e seguimos descendo. A estradinha começou a corrigir para a direita. Quando chegamos numa bifurcação, achamos que faltava corrigir mais para a direita. Este erro custou-nos uma hora. Tivéssemos dobrado a esquerda, provavelmente teríamos ultrapassado algumas equipes. Segundo relatos, uma equipe que de longe nos avistou num milharal e nos seguiu, chegou no PC seguinte em quarto lugar. Perdemos umas 20 posições. O apoio, como em todas as transições, foi maravilhoso. Até lembraram de preparar vitamina C para ajudar no combate ao meu resfriado. Mantiveram tudo organizado, e nos possibilitaram fazer transições rápidas.
Garra e superação – A Verena e eu curtimos o primeiro trecho de remo enquanto o Adrien resolveu um probleminha de assadura na transição e seguiu por trekking para nos encontrar no PC seguinte. Foi quando a técnica da Verena no leme e a força do Adrien no remo nos fez recuperar umas três posições e diminuirmos a diferença com os demais. Só que eu, parado, molhado, resfriado, cansado, entrei em hipotermia. Nunca havia experimentado isto antes. Catei um cobertor de emergência para proteger-me um pouco da chuva e do vento, mas a cada minuto que passava eu piorava. Acho que a equipe remou até mais rápido.
No PC, me jogaram para dentro de um caminhão protegendo-me do vento e da garoa, me agasalharam, alimentaram, e trocaram meu tênis. Eu tremia muito, estava fraco, não tinha consciência plena do que se passava, mas sabia de uma coisa, queria terminar a prova. Eu gritava cadê minha bike, enquanto a doutora Laira dizia deita aí e fica quieto. Finalmente, após minhas insistências, a médica cedeu. Se eu saísse rasgando na bike, poderia terminar a prova. Emociono-me quando me lembro. Respirei fundo, e ainda tremendo, mas tentando fingir que estava bem, saltei do caminhão, peguei a bike e parti com a Verena e o Felipe para a última perna da prova.
O protetor solar que eu havia passado pela manhã quando o sol ameaçava sair entrou no meu olho esquerdo, e meus óculos estavam imundos. Pedalei com dor na vista, quase às cegas, e nas descidas disparava lagrimejando sem enxergar, como um kamikaze, ultrapassando equipes mais prudentes. Nas subidas, a Verena e eu contamos com empurrões do Felipe, que descansado, estava animado para recuperar posições. Ultrapassamos várias equipes. Poucos quilômetros antes da chegada, uma equipe estava nos dando trabalho para ser vencida. Foi uma disputa acirrada. Nas subidas, um de nós com ajuda do Felipe, encostava neles, enquanto o outro ficava pra trás. Na subida seguinte o outro com ajuda do Felipe encostava, enquanto o outro ficava pra trás.
Nos planos estávamos mais ou menos na mesma velocidade. Finalmente, num descidão, disparamos e conseguimos ultrapassá-los. Mas seguiram na nossa cola, agora pelo asfalto. Fomos no vácuo do Felipe, pedindo para ele maneirar, senão perdíamos o vácuo, enquanto ele nos forçava a correr mais, pois os outros estavam encostados. Chegamos com segundos de diferença, com muita velocidade, quase atropelando a organização e até assustando-os, tendo recuperado 10 posições.
Fui novamente atendido pela doutora Laira, pois mesmo após tanto exercício, ainda sentia muito frio nos pés e nas pernas, uma vez que não havia trocado a calça e as meias molhadas. Aqueci-me, alimentei-me, ria e chorava de felicidade do que tinha conseguido fazer. Exceto pelo resfriado, que nem melhorou nem piorou, logo estava bem, e, após um bom banho quente, dirigi de volta para São Paulo. Terminamos provisoriamente em 11o lugar na classificação geral e 6o lugar na categoria mista. Estamos ansiosos para ver o resultado oficial, após apuração de penalidades e etc.
Balanço final – No dia seguinte, aos 43 anos, três de corridas de aventura, levanto-me inteiro e me dou alta da fisioterapia do meu joelho e tornozelo, que agüentaram bem, e fico me perguntando porque gosto tanto desde sofrimento. Talvez minha filha Larissa, atleta de pólo aquático, que adora o sofrimento dos treinos para entrar para a seleção brasileira e pretende estudar psicologia esportiva, um dia me ajude a responder. Bem, a organização está de parabéns por uma bonita prova, bem traçada, e com muitas trocas de modalidade (novamente faltaram técnicas verticais!).
Parabéns e obrigado a toda Equipe PUTZ (minha Super Vê, o Adrien e nesta o Felipe), que correu com o número 15 pensando num patrocínio do Super 15 da Telefônica, à nossa equipe de apoio, e até a próxima, pois o Ultimate Adventure certamente não foi o Last Adventure.
Este texto foi escrito por: Charles Putz