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Relato: Trotamundo e a caminhada para a vitória na Expedição Carcará


Trecho de bike levou a equipe à linha de chegada (foto: Thiago Padovanni/ www.webventure.com.br)

A nossa corrida começou bem antes da largada. Tínhamos programado e comprado as passagens para os integrantes da equipe. Faltando apenas dez dias para a viagem, recebemos uma excelente notícia e ao mesmo tempo péssima: a atleta Larissa passou em um concurso público e tinha que se apresentar imediatamente. Imagine entrar em um concurso e já pedir dez dias de férias!

Começou a nossa primeira corrida: quem conseguiremos chamar para poder substituir a Larissa a altura, pois ela é uma excelente atleta e já estávamos muito entrosados? Faltando uma semana, conseguimos uma pessoa que tem um currículo invejável. Não vou citar suas conquistas, porque são tantas que não caberiam neste depoimento.

Rose Hoper é, atualmente, uma das melhores atletas do Brasil, mas nunca havíamos competido juntos. Seria uma experiência nova. Eu, Flávio e Dino tínhamos feito um trato: essa seria minha última prova antes da minha mudança de país. Portando, combinamos que a minha despedida seria com chave de ouro.

Estávamos muito querendo ganhar essa prova, principalmente eu, pois, no ano passado, fiquei de fora do Ecomotion por ter sofrido um acidente de bike a apenas seis dias da prova. Foi muito difícil ficar de fora, mas sabia que um dia eu iria dar a volta por cima e conquistar outras coisas. E aquilo serviu de aprendizado para mim. Pensei muito e cheguei a conclusão de que nada acontece por acaso.

Início da viagem – Ao chegar ao aeroporto de Natal (RN), já podíamos perceber o que iríamos passar nos próximos dias: um calor inexplicável que era uma coisa absurda. Fomos recepcionados pelo nosso único apoio, Daniel Romero, namorado da Larissa, que apesar de não poder ir à prova, nos cedeu seu namorado para fazer nosso apoio.

Para mim, Daniel conseguiu fazer um milagre, pois fazer apoio de uma prova deste tamanho sozinho tem que ter muita disposição e organização. Ele deu um show, colocou toda sua experiência em prática e ainda teve tempo de ajudar outros apoios.

Vamos lá: dia da largada. Muita ansiedade, nervos a flor da pele, mas muita consciência na estratégia traçada pela equipe. Ser constante seria a estratégia para vencermos. Domingo, às 15 horas, é dada a largada e já fizemos tudo ao contrario do que tínhamos combinado. Saímos correndo em um sol de mais ou menos 40ºC, mas logo entramos no remo e seria um percurso muito longo. Então começamos a dosar.

A represa era uma preocupação, pois era cheia de braços grandes, onde você poderia errar e só perceber depois de horas. Estávamos bastante atentos, mas, já chegando quase no fim, erramos e ficamos duas horas perdidos até que encontramos a saída e chegamos no PC onde duas equipes já tinham passado. Mas a prova estava apenas começando.

Partimos para um trekking e o fizemos em um ritmo constante e forte, mantendo a nossa colocação. Logo após em um trecho de bike, conseguimos buscar e passar as duas equipes que estavam na nossa frente.

Quando chegamos ao PC, aconteceu uma coisa muito desagradável: um atleta da outra equipe chegou ao PC 20 minutos depois da nossa e nos acusou de ter utilizado uma pessoa de motocicleta para reparar uma câmara de ar em um borracheiro e voltado com a câmara. Então, foi chato, mas tivemos que provar que isso era uma mentira e não precisamos disto, pois andamos com oito câmaras de ar reservas.

A bicicleta do Dino quebrou o cambio dianteiro e ele com um pedaço de galho de uma árvore travou o cambio no quadro, escolheu uma marcha para deixar e andamos 50 km deste jeito. Então, a Rose, que foi acusada, mandou retirar os dois pneus da bike, as duas câmaras de ar e jogou para a outra equipe procurar o remendo feito pelo tal borracheiro.

Continuação – Assunto encerrado, perdemos um tempo com isso ficamos desgastados por causa deste bate boca, mas a prova tem que continuar. Saímos para um pequeno trecho de remo e, logo em seguida, o trecho de travessia de natação. A princípio, ficamos preocupados com essa travessia, pois ventava muito e era 1,5 quilômetro da modalidade. Mas logo a preocupação passou. A organização colocou o barco e alguns bombeiros para nos acompanhar de perto e isso nos deu bastante confiança para completar essa etapa.

Quando saímos da natação, por incrível que pareça, estávamos totalmente relaxados nas musculaturas e fomos para um longo trekking em serras que durou toda a madrugada. Acho que subimos todos os pontos mais altos da região. Chegando no PC, iríamos pagar nossas primeiras horas de sono e já gastamos logo 4 horas das 8 que tínhamos que cumprir.

Descansados e reabastecidos, saímos para um trekking longo e o sol essa hora estava castigando todas as equipes. Subimos até o cruzeiro, um lugar muito bonito com a vista de toda a região, mas não podíamos ficar ali contemplando aquela paisagem, pois a prova continuava e as equipes estavam na nossa cola.

Descendo deste PC, tínhamos programado uma parte de rasga mato, pois era muito longa a trilha que estava no mapa que nos levaria até o PC. Então, o Jean teve uma brilhante idéia, que foi descer para o rio e seguir por dentro dele até o PC. E deu muito certo, pois os rios da região estão todos secos e viraram trilhas.

Saímos para um trecho de 45 quilômetros de bike a noite e, a partir daí, começou nosso desespero, pois havíamos calculado fazer este trecho em cinco horas, mas ficamos muito perdidos e gastamos o dobro do programado. A vantagem que tínhamos colocado nos adversários havia acabado. Era a hora de ter calma e fazer a coisa certa.

Paramos para uma dormida de 20 minutos e, nesta hora, aconteceu uma cena hilária. Estávamos dormindo em uma varanda de uma casa abandonada na beira da estrada e, quando o alarme tocou, eu liguei a lanterna. Um cidadão que estava passando às quatro horas da madrugada, e que deve fazer isto todos os dias há pelo menos uns 20 anos, se deparou com quatro indivíduos se levantando e acendendo as lanternas, ele deu um pulo e gritou: “sangue de Jesus tem poder”. Ele saiu correndo em disparada e nós ficamos dando gargalhadas de rir, pois o cidadão tomou um susto dos maiores.

Dificuldades – Quando estávamos saindo da transição, a equipe que estava em segundo estava chegando no PC. Aquilo foi uma loucura, pois estávamos psicologicamente abalados pelos erros cometidos. Resolvemos seguir em frente porque ainda faltava metade de prova.

Começamos um duelo muito acirrado, mas sadio com a equipe rival e, depois de um erro deles, conseguimos abrir uma vantagem e chegamos no PC 30 minutos a frente. A partir daí, fizemos uma parte de bike muito forte e um trekking também muito forte, e conseguimos aumentar a vantagem de novo.

Quando chegamos no próximo PC, ficamos sabendo que iríamos fazer uma atividade surpresa: um circuito de orientação que nos levaria até o rapel. Depois de uma breve explicação do fiscal, partimos para o circuito. Após de muito rasga mato, resolvemos voltar, pois não tínhamos achado nada, perdendo quase 40 minutos.

Pedimos outro auxilio do PC e ele nos explicou novamente. Entramos no mato e, depois de mais 40 minutos, voltamos indignados, pois não conseguimos achar a lógica daquela tarefa. Pedimos para o PC chamar o organizador da prova para nos explicar como aquilo era feito e, em apenas cinco minutos, ele nos explicou e a coisa era muito fácil. Percebemos que o fiscal do PC havia nos ensinado tudo errado e por isso não dava certo. Fizemos, então, o rapel maravilhoso na Serra Caiada e fomos para uma fazenda, onde pagamos as quatro horas de sono que restavam.

Ao sair da fazenda, estávamos com uma vantagem de 50 minutos do segundo colocado e era um percurso de 100 quilômetros de bike. As quatro horas de sono nos recuperaram totalmente, pois fizemos esse trecho em uma velocidade alucinante e chegamos no remo para descer o rio até o mar. Já estava quase acabando.

Ao terminar o remo, já em Natal, tivemos que fazer um trekking pela praia até Jenipabú. Estava no fim de tarde, com um visual maravilhoso. Chegamos ao PC e tínhamos que fazer outra tarefa surpresa: uma pista de orientação novamente, mas agora nas dunas. Para provar que tínhamos aprendido, fizemos o percurso no tempo mais rápido da prova.

A partir daí, só faltava 20 quilômetros de bike para a chegada e já estávamos assegurados da vitória. Era só pedalar até Natal e pronto. No entanto, quando dei uma olhada no mapa, havia um PPO (ponto de passagem obrigatório), que poderia ou não ter um fiscal. Já havíamos passado ele há seis quilômetros e ninguém percebeu. Então, para não haver dúvida, voltamos e verificamos que não tinha nada mesmo. E era só pedalar pra chegada mesmo.

Chegamos e fizemos a maior festa. Cumprimos o programado e o meu trato com o Dino foi cumprido: fechamos a minha despedida com chave de ouro. Vou sentir muita saudade dessa família da aventura aqui no Brasil e de toda a galera do Rio Grande do Norte que nos recebeu de uma forma muito carinhosa. Agradeço a todos de coração e espero voltar da Nova Zelândia com bastante experiência para poder competir no Brasil.

Um abraço a todos.

Equipe BMG Trotamundo

Este texto foi escrito por: Jean Finkler, especial para o Webventure