Leonard e Rafael prontos para a viagem. (foto: Arquivo pessoal)
Depois de dois anos preparando essa viagem consegui realizá-la com meu amigo Rafael Melges.
Começamos nossa aventura no dia 3 de julho, quando o Rafa veio pra casa para arrumarmos todos os equipos. Domingo de manhã, já com tudo em cima, fomos pra São Paulo, onde de noite partiríamos da estação Barra Funda com destino a Porto Velho.
Na rodoviária foi legal, encontramos um casal de amigos que foram se despedir. Chegou a hora de entrarmos no bumba. Acomodamos nossa bagagem, que não era pouca – dois ducks, quatro remos e equipamentos pra todo o mês – e depois de esperar e organizar a viagem por dois anos estava eu lá dentro do ônibus com uma ansiedade incrível.
Chamávamos bem a atenção dos passageiros, afinal, dois caras com roupas coloridas e carregando tanta coisa pra remar lá só poderiam ser dois doidos. Mas no final todos nos conheciam e torciam pela gente.
Chegamos em Porto Velho na madrugada de terça pra quarta-feira, removemos nossa pequena mudança, colocamos num táxi que nos cobrou carga extra e fomos pro porto chamado Cai na Água. Tratamos de encher nossos ducks, adesivá-los e colocar toda bagagem sobre ele de forma que nós pudéssemos caber nele também.
Tudo pronto, seis e quarenta da manhã e nós estávamos na água. Era uma realização enorme e fomos saudados pelo primeiro boto do rio Madeira.
Dificuldades – Já na saída, um susto com um dos perigos do rio: as chamadas chatas, balsas gigantescas, que quase nos atropelou.
Lá pelas nove da manhã o sol começou a mostrar sua cara e elevou a temperatura para 40 graus, nada fácil. Passamos o primeiro dia a remar e a pensar como seria chegar em São Carlos, comunidade onde encontraríamos alguns amigos.
Amigos estes de uma ONG chamada NAPRA (Núcleo de Apoio à População Ribeirinha da Amazônia), a qual ajudei a fundar. Trata-se de um projeto de assistência não só à saúde, mas de desenvolvimento de auto-sustentabilidade da região. No grupo sediado nesse vilarejo estão quase 40 pessoas voluntárias e ainda contam com um barco hospital pra deslocamento entre as comunidades.
Mas levamos dois dias pra conseguir chegar lá, acompanhados de botos o tempo todo, o que gerou uma certa antipatia pelo animal, que se recusava a ser fotografado. Toda vez que sacávamos as máquinas eles entravam em um mergulho eterno e quando as guardávamos eles voltavam. Parecia pegadinha.
Ao chegarmos em São Carlos nos reunimos com o grupo e apresentamos o nosso projeto de cadastrar as comunidades ribeirinhas não atendidas pelo projeto e nos entrosamos com a galera e com a comunidade, antigos amigos que conheço desde 1995.
No dia seguinte eu e o Rafa fomos fazer uma trilha de quase 30 km, que nos levaria direto para a entrada do Lago do Cuniã, uma reserva auto-sustentável, espetacular, onde a vida natural da Amazônia se materializa na sua frente.
Voltando a remar – Voltamos exaustos e fomos curtir um fim de tarde show de bola com a galera nativa, que nos convidou pra participar de uma festa, um forrozão chamado piseiro. Tudo estava muito bom, mas precisávamos voltar a remar. Partimos na madrugada e remar a noite foi uma das sensações mais legais que já vivi.
Falando um pouco sobre a nossa rotina como, por exemplo, comer, foi um capítulo a parte. Primeiro que pra beber água era direto do rio e colocávamos hipoclorito e bebíamos, não tinha o que fazer. No meio do dia amarrávamos um barco ao outro pra fazer um lanche e a noite sim parávamos nas casas dos ribeirinhos ou nos barrancos do rio pra fazer o rango e dormir.
Dormir era divertido, pois passamos o mês dentro das redes e ficávamos tão cansados durante o dia que a noite estávamos quebrados e era deitar e desmaiar. Mas nosso propósito estava ficando perto e ultrapassamos nossas próprias expectativas. Remando oito horas por dia, alcançando a média de 40 à 60 km diários.
Seguindo esta rotina exaustiva, éramos surpreendidos pelas mais fantásticas paisagens e muitas vezes entre elas as maiores atrocidades, como garimpos, desmatamentos e etc. Medindo pelo GPS alcançamos nossa meta, que era a divisa dos estados do Amazonas e Rondônia.
Voltamos até Calama, onde pegamos um barco gaiola pra voltarmos a Porto Velho e encararmos mais 50 horas de ônibus. Gostaria de agradecer a todos aqueles que nos apoiaram e incentivaram a mais uma aventura!
Agradecimentos especiais: Nautika, Global ferragens, Natu´s, Osiris Equipamentos, DM embalagens, Bike Trial, Empório MK, Osklen, Mormaii e NAPRA. Contatos: www.parodofobia.com.br e www.riomadeira2004.fotoblog.uol.com.br.
Este texto foi escrito por: Leonard Moreira