Dupla comemora o resultado e já pensa no próximo ano (foto: Renato Mendes/ www.webventure.com.br)
Ainda com dores pelo corpo e recuperando-se do acidente sofrido no quarto dia do Rally Dakar, o piloto Riamburgo Ximenes estreou no maior rali do mundo e conseguiu completar a prova na 52ª posição, mas poderia ter sido mais. Sem acidente, nós chegaríamos entre os 20 melhores na geral, afirma.
O piloto sonha em voltar ao Dakar já no ano que vem, com um carro melhor e mais preparado para enfrentar os duros trechos de areia do deserto. Além disso, a experiência de ter completado o Dakar já em sua estréia, é outro fator que pesa para o piloto.
Pretendo voltar com melhor equipamento, se possível à gasolina. Ou com um carro à diesel com uma preparação melhor do que eu estava. Agora eu sei bem o que vou enfrentar. A prova é dura e me prepararei para enfrentá-la, comenta Riamburgo.
Nessa entrevista ao Webventure, o piloto conta sobre a realização de completar o Dakar, as dores do acidente, do companheiro Lourival Roldan e do sonho de voltar a correr no maior rali do mundo.
Webventure – Como foi a estrear no Rally Dakar?
Riamburgo Ximenes – O Dakar é algo inexplicável. Só vivendo para ter dimensão do que ele realmente é. Eu até o subestimei, pois estou acostumado com as provas por aqui. Participei de 10 Rally dos Sertões com três vitórias, além de outros resultados expressivos em provas nacionais. Mas quando chega ao Dakar, é um mundo totalmente diferente, são terras inóspitas. Anda-se quase que metade da prova apenas no rumo do GPS, totalmente fora de estrada. E na outra metade, a prova é com planilha, semelhante aos Sertões. Mas é uma prova que qualquer coisa que se fale dela ainda é pouco. Só estando lá para acreditar no que passamos.
Qual foi sua maior dificuldade?
Particularmente minha maior dificuldade foi a superação do acidente no quarto dia. Ele não estava no nosso programa. Caso não houvesse tido o acidente, com certeza traríamos um resultado mais expressivo para o Brasil.
Como foi o acidente?
Nós passamos reto em um rio seco, voamos de uma altura de um 1,5 metro e caímos de frente, a mais ou menos 60/70 km/h. Achei que tivesse destruído o carro e também a nós mesmo. O Lourival e eu ficamos extremamente machucados. Esse acidente foi no quilômetro oito e, nesse dia, tínhamos mais 500 quilômetros para percorrer na maior especial do Marrocos, só com pedra. Tomamos um remédio para dor que não foi suficiente, já que a dor era intensa. Concluímos a prova naquele dia passando por todos os postos de controle sem sermos penalizados. Conseguimos fazer dentro do prazo da prova. Foi uma superação, mas perdemos muito tempo até arrumar o carro e lentamente até concluir.
Vocês chegarem a procurar um médico da prova?
Fomos ao hospital à noite, que é um avião-hospital. O Lourival estava com medo de ir, pois poderíamos ser reprovados no exame médico. Se isso acontecesse, eles nos desclassificariam. O Lourival teve muito medo de ir ao hospital, mas forcei a barra dizendo que tínhamos que ir. Fomos diagnosticados com muitas lesões e traumas, mas fomos medicados e liberados para a prova.
Como foi o dia seguinte após o acidente?
Quando voltamos, fizemos a prova com muitas dores. Aquele era o quinto dia, ainda tinham mais 10 dias pela frente, e duríssimos. Ficamos atolados nas dunas da Mauritânia, cheio de dores e tendo que cavar para colocar pranchas e desatolar o carro. Foi um rali de alta superação.
Já conseguiu se recuperar?
Fiz ressonância magnética nessa semana e estou com muitas dores. A perna está encurtada e a coluna mal tratada. O Lourival um pouco menos, mas também está judiado.
Tirando o acidente, o que mais foi complicado no Dakar?
O Dakar tem a seguinte característica: a parte da Europa é promocional. Muito embora a primeira especial pegou todo mundo de surpresa, pois era uma areia muito complicada numa trilha que só passava um carro. Depois de um tempo formou-se uns sulcos altíssimos. Passaram por ali 500 veículos. Foi muito complicado, mas não é normal das etapas européias. Na segunda especial, ainda na Europa, nos classificamos bem, em 33º, sendo que são 24 carros de fábrica. Então ficamos muito próximo a eles. Quando entra na África, começa a pedreira. O Marrocos é o pior trial da Serra da Canastra, mas com 300, 400 quilômetros. É impressionante o caminho que eles nos colocam para passar. Quando chega a Mauritânia, são as dunas que definem o rali. Fica muita gente atolado, funde o motor, queima a embreagem, quebra o diferencial, enfim… a areia é muito pesada e muito longa. E isso detona tudo, além do calor insuportável. Mas quando chega à noite, um frio perto de zero grau. É realmente uma prova duríssima.
A prova foi além do que você esperava?
Fui preparado para a prova mas ela me surpreendeu para pior, no sentido da dificuldade. É uma prova que se dorme pouco, come pouco, se esforça muito, há um risco muito grande de quebrar o carro e de se acidentar. Enfim, é uma prova de muitos riscos. É uma prova totalmente diferente do Rally dos Sertões, pelo desafio ser bem maior. É uma prova de muita aventura e muitos riscos. Vale a pena. Aconselho a todos os amantes que tiverem oportunidade de provar, de ter no currículo um Dakar, é uma experiência de vida fantástica.
Como foi terminar o Dakar?
É uma prova apaixonante. Ainda estou machucado, fazendo fisioterapia, mas quem tem o espírito da aventura do rali fica contaminado. Machuca, maltrata o corpo, dorme-se pouco, não toma banho, come-se com areia, é um terror. Mas o prazer de terminar o Dakar e classificar-se bem é uma gratificação impar. Muitas pessoas, assim como eu, vivemos de desafios. E desafiar o deserto e desafiar aquela prova é algo extraordinário.
Como foi a parceria com o Lourival Roldan?
Não poderia ter escolhido um navegador melhor. O Lourival tem três experiências de Dakar, comigo foi a quarta. Tem um histórico fantástico, pois completou todas as edições. No Dakar, o fato de chegar é uma vitória, haja visto que dificilmente um estreante chega. Estatisticamente não mais do 5% dos estreantes chegam ao final da prova.
Essa parceria vai continuar nas provas do Brasil?
Infelizmente não. O Lourival já tem compromisso com a Mitsubishi, com contrato. Então eu não posso ter esse privilégio.
Você quer voltar ao Rally Dakar?
Pretendemos voltar ao Dakar e, se tivermos oportunidade, já no próximo ano. Será maravilhoso, pois iremos com mais entrosamento e minha vivência de saber bem o que irei enfrentar. Gostaria muito de, em 2008, voltar para essa prova. E, se Deus quiser, sem acidentes e trazendo um resultado ainda melhor para o Brasil.
O que mudaria para o próximo Dakar?
Fui com um carro excelente, uma Mitsubishi Pajero, um carro fantástico. Mas é um carro à diesel que, no Dakar, fica a dever comparado aos carros à gasolina.
E o que fazer para uma próxima edição?
Pretendo voltar com um equipamento melhor, se possível à gasolina. Ou com um carro à diesel com uma preparação melhor do que eu estava. Ou seja, evoluir dentro do Dakar para trazer um resultado melhor. Sem acidente, nós chegaríamos entre os 20 melhores na geral. É uma prova dura que requer sorte e experiência. E essa experiência [que tive] vai melhorar o resultado. Pois agora eu sei bem o que vou enfrentar, sei da dureza que ela é e me prepararei para enfrentá-la.
Você acha que a experiência adquirida no Dakar pode te ajudar nas provas do país?
Sem dúvida. Com essa experiência que conquistei lá tenho condições de administrar bem melhor e fazer ainda melhor uma prova com o Rally dos Sertões. Eu não digo as provas curtas do Brasil. Pois, infelizmente, nós aqui no Brasil não estamos preparados para as provas de cross-country mundial. O cross-country mundial são provas parecidas com o Rally dos Sertões. E os Sertões está de parabéns e que continue com as provas nessa linha e até coloque mais dificuldades. As demais provas viraram quase provas de velocidade, com um circuito de 30, 40 quilômetros onde se dá umas três voltas. Isso não é cross-country. É uma modalidade brasileira de corrida off-road. Uma errada de marcha perde-se dois, três segundos. E é o que define o resultado. Não se pode errar nada pois anda-se o tempo todo no limite. Isso ao existe, é uma versão brasileira.
Este texto foi escrito por: Thiago Padovanni
Last modified: fevereiro 1, 2007