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Roberta Borsari: uma brasileira no Mundial de Kayaksurf


Roberta Borsari é a 13ª no Ranking Mundial de Kayaksurf. (foto: Norio Estevam)

Mistura de canoísta com surfista, a paulistana Roberta Borsari dá um show em muito marmanjo. Aos 32 anos de idade e com o corpo todo definido por músculos, resultado de muito treinamento, ela será a única atleta a representar o Brasil no Mundial de Kayaksurf que acontecerá entre os dias 22 e 30 de outubro na praia de Jacó, no sul da Costa Rica.

Bebeta, como é conhecida, é um dos grandes nomes da canoagem no Brasil, sendo pioneira na descida de rios (águas brancas). Apaixonada por água, passou pelo rafting, pela canoagem slalom, pelas canoas havaianas, e hoje é a 13ª no Ranking Mundial do Kaiaksurf da categoria Feminino High Performance, esporte muito parecido com o surfe, mas ao invés de uma prancha utiliza-se um caiaque apropriado para dropar as ondas.

A canoísta conheceu o esporte através do irmão Maurício, surfista acostumado com as melhores ondas do planeta. “Há três anos meu irmão participou de um campeonato em Vitória e me disse que não havia nenhuma mulher praticante do esporte. Fiquei curiosa”, contou Bebeta.

Ela então resolveu conhecer o kaiaksurf e se apaixonou. Hoje, treina nas melhores praias do litoral norte paulista e disputa as ondas com os surfistas. “A sensação é como se você fosse uma caixinha de fósforo dentro de uma máquina de lavar”, conta a atleta. Roberta falou com exclusividade ao Webventure sobre sua ida para o Mundial. Confira a reportagem:

Qual a sua história como canoísta?
Bebeta – Comecei como instrutora de rafting e quando fui fazer um estágio na Costa Rica como guia me apaixonei pela canoagem. Há oito anos comecei nos rios, e minha base de canoagem sempre foi a descida em águas brancas. E quando eu ia para a praia levava meu caiaque para brincar, mesmo ele sendo grande e quando tinha onda eu pegava, mas nada profissional. Na época eu me dedicava à canoagem slalom e ao rafting.

Como você ingressou no kaiaksurf?
Bebeta – Há três anos, meu irmão, que é meu super companheiro de esportes e um grande surfista, foi participar de um campeonato de kaykarsurf em Vitória (ES) com um caiaque todo diferente, apropriado para o surfe, feito com outro material. O caiaque de rio é feito de plástico, é mais pesado e não tem quilha. O de onda já é um pouco mais leve, tem um shape mais próximo de uma prancha e tem quilha, para performar como se fosse uma prancha de surfe. Ele disse que no campeonato não tinha nenhuma mulher e com a experiência que eu tinha em canoagem e por gostar de praia eu deveria me desenvolver no esporte, que era uma oportunidade para mim. Começou como uma brincadeira e aos poucos eu fui me profissionalizando.

Você surfa também ou entrou no kaiaksurf só com a base da canoagem?
Bebeta – Não, eu não surfo. O meu contato com o surfe foi quando eu tinha 13 anos e pegava onda de bodyboard, mas vim parar no esporte pela canoagem e não pelo surfe, o que é diferente do meu irmão. Ele tem uma intimidade muito grande com as ondas, e eu tenho com o caiaque. Tudo o que eu sei de surfe foi o meu irmão que me passou. Estamos sempre treinando juntos.

E como foi o primeiro contato com o kayaksurf? Muito difícil?
Bebeta – Eu já pegava onda com o meu caiaque, mas depois, com o equipamento apropriado, comecei a evoluir, a ler mais, a saber mais de técnica, leitura de mar, porque você tem duas etapas para pegar a onda de caiaque: uma é você saber fazer o rolamento, conhecer os princípios da canoagem; outra é você aprender a pegar onda, porque você tem que dropar e manobrar. Não é uma coisa fácil. Você pega ondas grandes e rápidas.

Como começou profissionalmente no kayaksurf?
Bebeta – Eu mudei de caiaque, passei a ter um mais apropriado para onda e precisei de um período de adaptação para começar a competir. Comecei a ter bons resultados e a pegar mais intimidade com o mar. Hoje é uma grande paixão minha. Eu gosto muito de descer rios, mas o kayaksurf tomou uma proporção na minha vida que nem eu esperava que fosse acontecer.

Hoje em dia como é o seu treinamento?
Bebeta – Durante a semana faço um treinamento na raia da USP (Universidade de São Paulo), que é basicamente corrida e remada de resistência e explosão. Para isso conto com a assessoria de Zé Pupo (um dos grandes nomes da canoagem no Brasil) e tenho como técnico o meu irmão, que é quem me dá toda a técnica do surfe. E nos finais de semana vou para a praia e me dedico totalmente, com treinos pesados e longos. O curioso é que eu me dedico a esse esporte e não moro em uma cidade com praia.

Quantos metros de onda você vai encontrar na Costa Rica?
Bebeta – Não sei quantos metros vou encontrar, mas as ondas lá são muito grandes, com cerca de dois metros. Eu passei a fazer um treinamento especial indo mais para Camburi e Maresias (litoral norte de São Paulo), onde tem ondas mais fortes, mais parecido com o que vou enfrentar no Mundial. E essa é a adrenalina do esporte, pois além dos concorrentes ainda têm o fator de encarar a natureza e o que ela vai mostrar para você. Sei que estou indo para um lugar diferente do que estou acostumada e estou me preparando para isso, física e mentalmente.

O que você espera do Mundial?
Bebeta – No Mundial de 2003 na Irlanda fiquei em 13º e para este estou com grande expectativa. Na Irlanda eu não tinha referência do que eu ia encontrar lá. Tinha muito frio e muito vento. O fator climático na Costa Rica não vai ser tão determinante quanto foi na Irlanda. A Costa Rica tem muita coisa parecida com o Brasil: é um país tropical, as comidas são iguais e esse fator vai me ajudar. Mas em compensação acho que vão ter muitos bons atletas americanos, que são a potência do esporte, e por isso a prova var ser bem difícil e competitiva, com alto nível técnico.

Você se sente preparada para uma competição como essa?
Bebeta – Acho que estou com uma maturidade legal para ir para este Mundial. Estou me sentindo bem preparada física e tecnicamente, bem melhor que há dois anos quando fui para a Irlanda.

Você vai sozinha para um Mundial. Como é isso?
Bebeta – Eu vou sozinha para uma região que não conheço. Vou chegar lá e ver aquelas delegações enormes, com 30 atletas, com todas as categorias, e vou estar sozinha. Hoje em dia conto com o patrocínio da empresa privada o UOL, que é meu trabalho e tem me apoiado e não da Confederação. A diferença entre nós, atletas brasileiros, e os que estão acostumados a competir lá fora é que os estrangeiros acabam tendo uma evolução mais rápida do que a nossa. Precisamos ter mais contato com novas manobras e equipamentos.

Como você vê o futuro do kaiaksurf no Brasil?
Bebeta – Lá fora o esporte está crescendo muito e vemos isso claramente pelos fabricantes internacionais, que a todo o momento lançam novos equipamentos. Tem atletas de peso de modalidades de rio se dedicando ao kayaksurf. A evolução do esporte está muito clara e nos próximos anos vai crescer ainda mais. Aqui no Brasil infelizmente não conseguimos acompanhar muito essa evolução, pois apesar de termos uma costa enorme e ótimas possibilidades, a canoagem ainda é uma comunidade restrita e o kaiaksurf ainda tem muitos passos a dar.

E a divulgação do esporte no Brasil, como é?
Bebeta – Me dedico muito à divulgação do esporte no Brasil, porque sempre tem surfista que vem falar comigo na praia, porque é uma coisa diferente e quando eles vêem que você está lá no fundo, já passou a rebentação e está ali pegando onda de dois metros com eles e dropando, manobrando, isso chama a atenção.

O canoísta também toma a vaca? (expressão usada quando o surfista é puxado para baixo, rodando, junto com a onda)
Bebeta – Toma! O caiaque vira e as vacas (caldos) são espetaculares, que eu classifico do nível desagradável. O caldo de caiaque é muito ruim porque você está preso nele. Não é como no surfe que você mergulha, larga a prancha, dá um mergulho e “se livra” do caldo. No kayaksurf você está preso no caiaque e a sensação é como se você fosse uma caixa de fósforo dentro de uma máquina de lavar.

Qual o seu objetivo no Mundial?
Bebeta – Quero evoluir, aprender e trocar experiências, mas eu gostaria muito de melhorar meu posicionamento no ranking. Hoje eu sou a 13ª do mundo e se eu pudesse ficar entre as dez primeiras seria um sonho realizado. Não posso falar que vou conseguir, mas posso afirmar que vou batalhar muito pra isso. E a batalha vai ser cerrada, pois estarei lá sozinha, sem ninguém me orientando e dando uma força num dia que eu mais precise.

Qual a sensação de representar o Brasil em um esporte tão diferente?
Bebeta – Essa viagem pra mim tem um significado muito especial, porque eu fui pra lá há oito anos, quando fui fazer um estágio para me aprimorar no rafting, e agora estou voltando para representar meu país em um Mundial. Pra mim é muito especial voltar depois de tanto tempo para representar meu país. Está sendo um presente e eu espero que tudo dê certo.

Roberta Borsari viaja no dia 11 de outubro para a Costa Rica, e terá dez dias para se adaptar ao mar gelado e o tipo de onda da região. Seu retorno está marcado para o dia 5 de novembro. Deixe uma mensagem de incentivo à Roberta Borsari clicando aqui!

Este texto foi escrito por: Camila Christianini