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Rope Show: a versão dos bastidores (parte 1)

Críticas e insatisfação de atletas – levadas ou não a conhecimento público – surgiram no último fim de semana, durante o Campeonato Brasileiro, evento Rope Show, no Rio. Nesta reportagem, a Webventure abre espaço para quem estava nos bastidores* dar a sua versão.

Começamos com Tomás Grid Papp, responsável técnico pelo campeonato. Para ele, a dificuldade maior para se realizar o evento foi tudo ter acontecido de última hora. “Eu fui chamado pouco tempo antes, houve demora na liberação para a montagem do muro… morei no shopping (New York City Center, a sede do Rope Show) do dia 4 ao dia 9, quando aconteceu a final do Carioca. Acompanhe a entrevista cedida hoje à noite à Webventure:

Webventure – Entre as críticas que foram ouvidas, a mais insistente foi em relação aos atletas terem de escalar de madrugada (de sábado para domingo). Por que isto aconteceu?

Tomás Grid Papp – Segundo o nosso cronograma, a prova começaria entre 13 e 14h e terminariam entre 23h e meia-noite. Como não é possível fazer duas vias ao mesmo tempo no muro, precisávamos de tempo para fazer a via da semifinal masculina. Fizemos uma reunião com os atletas e todos foram avisados dos horários previstos.

Essa previsão foi feita com base nos meus cálculos de quantos atletas escalariam a cada hora. Calculei que passariam 11 a 12 atletas/hora, mas durante a classificatória, percebi que a proporção era de 9/hora. Este foi um dos motivos do atraso não planejado que estendeu a semifinal até 2h. Outro motivo foram as paradas para apertar agarras, por exemplo. É normal uma agarra rodar, mas não deve acontecer num campeonato desses, eu sempre cuido, quando monto o muro, de que tudo esteja muito bem preso. Mas acontece que o muro é muito grande e o staff de route-setters é pequeno – agora estamos aumentando-, mas era inviável pedir tanta coisa em pouco tempo. Depois, fui o último a entrar, o staff e a distribuição deles pelo muro já estavam montados.

Webventure – A questão do atraso se estende desde o começo do evento, quando houve demora na liberação da montagem do muro, certo?

Tomás – Sim, o evento deveria começar uma semana antes e por problemas de autorização do shopping, foi adiado. Na semana em que aconteceu, também houve problemas para começar a montar as estruturas e a Rohr só iniciou a construção na terça, dia 4. O route-setters tiveram de montar as vias de cima pra baixo, no meio de uma verdadeira obra, e o muro só ficou pronto no sábado, primeiro dia do Carioca, às 10h.

Webventure – Em termos de qualidade, como você avaliou o Carioca?

Tomás – Foi o pior evento do qual eu já participei como organizador. Não consegui nem ao menos fazer a minha parte, pois fiquei cuidando da montagem do muro. As vias não estavam adequadas porque os route-setters fizeram tudo sob-pressão, virando noites…

Webventure – E o Brasileiro?

Tomás – Mais uma vez nem vi o trabalho dos route-setters porque estava resolvendo muitos outros problemas do evento. Mas achei que as vias estavam boas, na final estavam até fáceis para o campeonato.

Webventure – É normal haver uma costura sobrando, como aconteceu na escalada do Belezinha?

Tomás – Num campeonato como o Brasileiro, o cuidado tem que ser maior, não pode sobrar costura, nem chapeleta, alguém pode pisar sem querer. Dentro das nossas possibilidades nesse fim de semana, fizemos tudo para minimizar o que poderia atrapalhar o atleta. Havia chapeletas extras no muro porque seria um trabalho absurdo tirá-las todas as vezes. A costura devia ter sido tirada, mas a solução prática foi clipar o mosquetão curvo na chapeleta. O que aconteceu, acredito eu, foi que, quando o segurador quando puxou a corda após a escalada do Linha, a ponta fez soltar a costura. Era algo que tinha uma possibilidade mínima de acontecer. Na hora em que o Belezinha voltou para costurar nós já tínhamos percebido o ocorrido e já estávamos conversando sobre o que fazer. A decisão foi isolá-lo para que ele voltasse. É péssimo que uma coisa dessas aconteça, mas qualquer um teria o direito de escalar de novo.

Webventure – O que está sendo feito para evitar que os problemas continuem neste fim de semana, no Sul-Americano?

Tomás – Estamos aumentando a equipe; o Paulo Gil, da 90 Graus, está vindo para ajudar os route-setters. Queremos terminar a ampliação do muro ainda hoje, após o show da Deborah Colker.

Webventure – Por que as críticas são mal recebidas no montanhismo?

Tomás – As críticas atingem o ego das pessoas, também ainda existe bairrismo Rio/São Paulo. Falta ver as coisas mais pelo lado profissional do que pessoal.

(* A reportagem tentou entrevistar o route-setter Alexandre Portela, mas, hoje, devido a problemas particulares, ele não pode atender à entrevista. Em breve, Portela também será ouvido.)

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira