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Rope Show: a versão dos bastidores (parte 3)

“Crucificaram a gente sem saber o que está acontecendo. Parece que todo o problema do evento é culpa nossa”. O desabafo de Alexandre Portela, route-setter do Rope Show, é feito em meio à montagem das vias do Sul-Americano, evento que acontece neste fim de semana, no Rio. Mais uma vez, ele corre contra o tempo. “Vamos ter um dia e meio para montar tudo. O certo seriam três.”

Em entrevista à Webventure, Portela rebate críticas às vias dos campeonatos anteriores, o Carioca e o Brasileiro, e expões as dificuldades que está enfrentando para realizar o trabalho.

Webventure – Como você avaliou as vias no Carioca?

Alexandre Portela – Viramos três noites montando tudo porque o muro só foi entregue às 11h do sábado, primeiro dia do campeonato, mas ainda estava sem as proteções. De sábado para domingo, decidimos dar um intervalo para descansarmos e, na volta, tivemos duas horas para montar a via final. A via feminina foi perfeita. No masculino, ficou um pouco chato porque muita gente caiu no mesmo lugar.

Webventure – E o Brasileiro?

Portela – No feminino, houve quem considerasse a via fácil na classificatória. Acontece que me pediram para que fosse fácil, porque na classificatória do Carioca só uma atleta encadenou. No masculino, a via foi correta, cada um caiu num movimento diferente. Na semi, não houve nenhum empate. Se estava fácil, era para os melhores atletas, mas a gente não faz um evento pensando no primeiro e segundo melhores, faz para todo mundo poder escalar.

Na final, a via também estava perfeita e tudo teria corrido bem não fosse aquele problema da costura na vez do Belezinha. Essa maneira de clipar a costura, como fizemos, eu já vi em outros campeonatos, até em revistas.

Teve ainda reclamações sobre as agarras que rodaram. Isso não tem a ver com a gente. A porca-agarra, que é usada para a fixação no muro, é mais fina que o normal e está estourando quando a gente aperta demais. Isso é raro, vamos até mandar uma amostra para o fabricante. Não apertamos muito para não arriscar de ela se soltar com o atleta. De qualquer forma, numa via tão negativa, qualquer um pode rodar a agarra, é muita pressão, a madeira cede. E a madeira também é nova, ainda não está totalmente compactada.

Webventure – O Paulo Gil virá para o Sul-Americano. A equipe estava pequena?

Portela – O Paulo Gil, eu adoro ele, foi uma sugestão do Tom (Tomás Grid Papp), entre outros nomes, que a gente aceitou. Mas a equipe não estava pequena, o tempo é que está apertado. E também a gente fazia uma coisa e pediam pra mudar. Foi isso que aconteceu na classificatória do Brasileiro feminino, quando pediram pra colocar uma costura a mais e algumas atletas não conseguiram fazer. Agora isso acabou. Desde a final do Brasileiro, não tem mais intervenção no nosso trabalho. Naquele dia queriam que a gente se apressasse para o evento começar às 13h e terminar às 16h. Dei um basta e falei que só começaria quando terminássemos uma boa via. E começou às 15h.

Webventure – E todo mundo já tinha escalado de madrugada. Parece que você foi um dos que pediu para que a semifinal masculina fosse adiada para o domingo…

Portela – É verdade. Mas acharam melhor estender porque havia muito público no shopping de madrugada. Claro que para o atleta seria melhor voltar pra casa e descansar. Virar uma noite trabalhando, para mim é normal, mas já vínhamos de quatro ou cinco viradas.

Webventure – Você teme que os problemas se repitam neste fim de semana?

Portela – Nosso objetivo é sempre fazer uma via que chegue perto da perfeição. Mas também chegamos perto do risco de todos os atletas completarem ou nenhum chegar até o final. O que fica chato é que os problemas que acontecem não são frutos do nosso trabalho, mas do pouco tempo que temos para realizá-lo. Até nos eventos pequenos temos três dias para montar a via. Aqui já estamos correndo contra o tempo outra vez, vamos começar a montar o muro hoje porque ontem teve o show da Deborah Colker e durante toda a semana o local do evento foi ocupado por um novo palco.

Webventure – Como você reage às críticas?

Portela – Nunca vi isso na escalada esportiva. Ninguém veio me falar nada diretamente, tenho apenas ouvido comentários aqui e ali e tenho lido depoimentos nas reportagens. Algumas são opiniões pessoais. Outros crucificam nosso trabalho sem saber o que está acontecendo e que as condições não são ideais. Parece que todo o problema que acontece é culpa nossa. Por outro lado, os atletas não estão valorizando o que têm. No meu tempo não havia campeonatos grandes como este, com prêmios.

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira