Cidade de Pedra. (foto: Arquivo pessoal)
Eliana Garcia, do Clube de Cicloturismo, sugere uma pedalada pela exuberante Serra da Canastra, em Minas Gerais. Confira.
Existem lugares que são perfeitos para se explorar de bicicleta. Um deles é a Serra da Canastra, que vem se tornando um destino clássico para os praticantes de mountain-bike e cicloturismo. Não é à toa, pois, além de belíssima, a maioria de seus atrativos é alcançável de bicicleta.
As estradinhas levam, por exemplo, às nascentes do rio São Francisco, cachoeira Casca DAnta e mirantes para visuais fantásticos. Outros pontos positivos para a região são a estação de chuvas definidas, o clima relativamente ameno e moradores extremamente hospitaleiros. Existe ainda a agradável possibilidade de se deparar com animais do cerrado, como emas, tamanduás e lobos-guará. E de bicicleta você consegue se aproximar deles sem assustá-los.
500 km rodados – Neste roteiro, eu e meu companheiro de todas as pedaladas, Rodrigo Telles, partimos de Franca com destino ao Parque Nacional da Serra da Canastra. Optamos por esticar um pouco a viagem, passando antes por Delfinópolis e Serra da Babilônia. São lugares não tão conhecidos por estarem fora do Parque, mas também muito bonitos. Demos preferência por estradas de terra e assim, pegamos pouquíssimo asfalto.
A distância total do circuito, com partida e chegada em Franca, foi de 500km, que completamos em quinze dias. Paramos muito pelo caminho para fotografar, curtir as paisagens e também tiramos alguns dias para fazer caminhadas. Para enfrentar o isolamento de certas partes do trajeto, tivemos que carregar todo o equipamento de camping, jogo completo de ferramentas, além de comida para vários dias. Com isso, a bagagem de cada um pesava cerca de 35 quilos.
Atrações – Em alguns lugares, como Delfinópolis, deixamos as bagagens e saímos com as bicicletas vazias para facilitar. Pedalamos até as Corredeiras de Santo Antonio e, apesar do belo dia de sol, em plenas férias de julho, não encontramos ninguém por lá. Nem dava para acreditar, um lugar tão lindo e só nosso.
Num outro dia fomos ao complexo de cachoeiras do Claro, uma seqüência de várias quedas e piscinas naturais. As águas das cachoeiras de Delfinópolis são das mais transparentes que já vi, e das mais geladas também! Existem ainda outras inúmeras cachoeiras a se conhecer, mas todas a mais de 50km da cidade, muito puxado para ir e voltar no mesmo dia de bicicleta.
De volta à dureza, colocamos os alforjes nas bicicletas e retomamos nosso rumo: a travessia da Serra da Babilônia. Neste trecho passamos por locais incríveis como a Cidade de Pedra. São formações rochosas muito interessantes, parecendo pedras empilhadas formando construções com mais de 10 metros de altura e que se estendem por uns 500m ao longo da estrada. Realmente um lugar que merece uma boa parada. Lá de cima pode-se avistar também a represa, um belo visual.
A partir daí, até chegar ao Parque Nacional da Serra da Canastra, percorremos um longo trajeto por estradinhas esquecidas, que cruzam serras e vales quase desabitados. Passávamos várias horas pedalando. Às vezes pela crista, com o vento bantendo nos campos no alto das montanhas. Outras vezes pegávamos subidas muito íngremes e longas, e em várias delas tivemos que empurrar as bicicletas ladeira acima. Mas havia também as descidas, de certa forma técnicas, que vencíamos ziguezagueando com as bicicletas pelas partes da estrada que ainda tinham sido poupadas pela erosão.
Isolamento – Estas serras, especialmente pelo caminho que escolhemos, são tão ermas que, numa certa bifurcação, chegamos a ficar várias horas esperando por uma alma viva que passasse para dar uma informação, hesitando entre encarar ou não uma subida de serra que poderia nos levar ao caminho errado.
Todo aquele isolamento, por vezes era quebrado de maneira muito agradável. Depois de passar tanto tempo sem ver ninguém, quando menos esperávamos encontrávamos uma casinha com a fumaça saindo pela chaminé. Assim que nos viam, os moradores logo nos convidavam para descançar e tomar um café, que inevitavelmente era seguido pelo autêntico e delicioso queijo canastra e por uma boa prosa. Éramos tratados sempre como se fôssemos velhos amigos.
Merecido descanso – Finalmente chegando à Cachoeira Casca D’Anta tivemos nosso merecido descanso, no camping do Parque Nacional, de onde se tem uma fantástica vista para a cachoeira com seus 180 metros de queda. Comparando com o que já havíamos passado, o próximo trecho, o caminho até São Roque de Minas e a própria travessia do Parque, foi bem mais tranqüilo.
Lá em cima, na parte alta do Parque, conhecemos a nascente do Velho Chico, onde tivemos o privilégio de encher nossos cantis e caramanholas, para enfrentar a travessia do interminável platô horizontal que forma o Parque. Todo o tempo avistávamos ao longe as serras que havíamos cruzado para chegar ali. Sentimos um sabor especial por saber que tínhamos realmente conhecido todos aqueles lugares e não somente passado por eles.
Confira em Utilidades/Onde Praticar mais detalhes do roteiro e o mapa da Canastra.
* Eliana Garcia: Bióloga, completou mais de 10 mil quilômetros em cicloviagens, desde 1988. Dentre estas destacam-se: Expedição Parques del Sur (em que percorreu 4200 km passando pelo Chile, Argentina, Uruguai e Sul do Brasil), Expedição Titicaca, Sertão Nordestino, além das travessias do Pantanal, das Chapadas Diamantina, dos Guimarães, dos Veadeiros e da Serra da Canastra. É fundadora e coordenadora do Clube de Cicloturismo do Brasil e fabricante dos alforjes Arara Una (www.ararauna.esp.br).
Este texto foi escrito por: Eliana Garcia*
Last modified: março 24, 2004