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Rubinho: a história do pedreiro mineiro que está no MTB das Olimpíadas

Redação Webventure/ Biking

Jogo de equipe não será possível em Pequim (foto: Thiago Padovanni/ www.webventure.com.br)
Jogo de equipe não será possível em Pequim (foto: Thiago Padovanni/ www.webventure.com.br)

Com 29 anos de idade e muitos quilômetros rodados em cima de uma mountain bike, o filho ilustre de Monte Santo de Minas (MG) realiza o sonho de estar em uma Olimpíada. Rubens Donizete Valeriano, ou simplesmente o Rubinho, precisou de muito tijolo e argamassa para construir uma carreira de sucesso.

Uma bicicleta de asfalto com pneu fino foi o primeiro meio de transporte para esse mineiro, que trabalhava como pedreiro em uma olaria de sua cidade natal. “Tinha colegas que saiam aos fins de semana para pedalar nas trilhas e me falavam para vender aquela bicicleta e comprar uma mountain bike, para poder ir com eles. Foi quando sai da olaria e, com o dinheiro que ganhei, consegui comprar minha primeira mountain bike e a treinar com o pessoal”, relembra Rubinho.

Com os passeios aos fins de semana, Rubinho começa a gostar cada vez do mountain bike e a se destacar dos companheiros. “Eles sempre me falavam que eu tinha o jeito certo para andar, que era técnico e que precisava competir”, comenta. E em 1996, na cidade de Mococa, interior de São Paulo, a primeira competição na Copa Interestadual de MTB. Nessa época, Rubinho trabalhava como pedreiro durante o dia e treinava a noite.

Primeiros resultados – “Fiquei com o quarto lugar, mesmo tendo a gancheira estourada e outros problemas na bike. O pessoal falou que era o meu futuro e me incentivaram muito para seguir no esporte”, conta o atleta. A partir daí, a vida continuou difícil, mas começou a mudar para Rubinho, graças ao esporte. “Continuei trabalhando de pedreiro para poder pagar as inscrições e hotéis nas provas que ia, pois não tinha patrocínio.”

No ano de 2000, ele teve que tomar uma difícil decisão e que mudaria para sempre a sua vida. “Tive que decidir se parava de trabalhar ou parava de correr. Então decidi parar de trabalhar e me dedicar só ao esporte. Foi quando os resultados começaram a aparecer, as equipes me conheciam e, em 2001, consegui meu primeiro patrocínio, da Giant. Foi ótimo pois não precisava arrumar dinheiro para comprar bike, já que eles me davam uma nova por ano. Isso para mim foi uma glória, um passo muito grande na minha vida.”

Foi a partir desse momento que Rubinho colocou como meta em sua vida poder representar o Brasil nos Jogos Olímpicos. “E batalhei muito para esse sonho. Sempre ficava sonhando com isso. E hoje vou estar em Pequim. Meu sonho está se realizando. Agora é procurar outro sonho, quem sabe uma medalha. Agora é sonhar com isso também, com a medalha em Pequim”, disse.

O sonho olímpico de Rubinho começou em 2007, quando ele foi chamado para integrar a seleção brasileira de mountain bike que disputou os Jogos Pan-americanos do Rio (veja mais). Surpreendentemente, o atleta leva a medalha de prata. Era a hora de sonhar mais alto.

“Depois da medalha no Pan, meu treinador e eu sentamos e planejamos o projeto olímpico. Focamos muito nas provas seletivas e fizemos vários treinamentos para estar 100%”, disse.

Foram três provas seletivas: duas etapas da Copa Internacional MTB e o Brasileiro de MTB Cross-country. Com a primeira colocação, Rubinho carimbou o passaporte para Pequim. “Da medalha do Pan-americano para cá, fizemos outro trabalho de treinamento, focando essas provas. Mudou no sentido de poder focar nas seletivas e capacidade física em provas importantes”, afirma. Ele também foi campeão da Copa Internacional após vencer a última etapa, em Congonhas (MG).

Nem tudo são flores – Para tudo isso acontecer, muitas águas rolaram na vida de Rubinho, ou melhor, muitos pneus, correntes e gancheiras. Antes dos grandes patrocínios, o atleta fazia bicos em bicicletarias para poder se sustentar.

“Um colega falava: `Rubinho, você não quer regular minha marcha, arrumar minha bike?´ Eu conheço bastante de regulagem, trocar gancheira, e os colegas vinham me pedir para fazer e acabavam me ajudando”, relembra Rubinho. Mas com a medalha no Pan, as coisas começaram a mudar.

“Depois da medalha, várias empresas que não são diretamente ligadas ao mountain bike, como a Frontline, que é um produto animal, e a Infanti, que é produto infantil, acreditaram no meu potencial e investiram em mim. Pude ter uma estrutura muito melhor para treinar e me dedicar ao esporte. Foquei 100% nesse ano e obtive esses resultados, com muita glória e muito esforço”, comemora o atleta.

E a rotina é mesmo de dedicação. Morando agora em São José do Rio Preto (SP), ele treina todos os dias pela manhã, faz pilates a tarde e academia no período da noite. Tudo isso para estar bem em Pequim. “Estou me dedicando todo o tempo para o mountain bike, que é um esporte que precisa de dedicação integral. Fica tudo em torno do esporte. Com esses apoios e patrocínios, é de onde estão vindo os belos resultados”, disse.

“A expectativa é grande e os europeus são muito fortes, então vou para lá com o pé no chão, sabendo que estou bem preparado fisicamente e psicologicamente também”, afirma o atleta. “O título na Copa Internacional MTB me deu ainda mais motivação”, conta.

Rubinho vai para Pequim com a mesma bike que correu as seletivas, uma Kona. A fábrica até quis mandar uma bike zero quilômetro para ele, mas como a última etapa da seletiva foi muito próxima aos Jogos, não haveria tempo para essa nova bike chegar.

“Era um sonho ir para as Olimpíadas. Tentar chegar lá e não ficar com essa pressão, já que sou o único brasileiro e é uma prova só. Agora é fazer uma boa prova e não ficar com isso na cabeça”, comenta. Segundo ele, se o Brasil tivesse investido no ano passado para mandar os atletas para as etapas da Copa do Mundo de MTB, poderia ter mais representantes em Pequim. É pelo ranking internacional que as vagas para os países são divididas.

“Deveríamos ter corrido mais provas fora para fazer um jogo de equipe, como fizemos no Pan-americano. Tem países que estarão com três atletas”, afirma. “Vou chegar na Olimpíada e os europeus estarão em outro ritmo de competição. Teríamos que competir mais em outros países para conhecer esses atletas”, comenta.

Agradecimentos – Humilde, Rubinho fez questão de agradecer a cada um de seus patrocinadores e apoios. “Quero agradecer minha equipe, a Sales Supermecados de Belo Horizonte e Amazonas Bike do Rio de Janeiro. Dos patrocinadores, a Kona, que me dá uma bike nova por ano, a Frontline (Merial), Infanti, Scott, que me propõem capacetes e sapatilhas, aos pneus Michelin, e o Pilates de São José, que está me dando muito resultado na área de respiração, ao meu treinador Carlos Polazzo, o Cadu, que faz seis anos que estamos juntos. Agradecer também a Sram, a Pedal Power de São Paulo, que me propôs um jogo de relação zero e também a suspensão Fox.”

Este texto foi escrito por: Thiago Padovanni

Last modified: agosto 22, 2008

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