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Saiba como preparar a bicicleta para o cicloturismo


Rodrigo Telles e Eliana Garcia são os fundadores do Clube de Cicloturismo do Brasil (foto: Divulgação/ Clube de Cicloturismo do Brasil)

Preparar a bicicleta para um passeio requer que o cicloturista tenha atenção com alguns detalhes para que a viagem seja um sucesso. Rodrigo Telles, fundador e atual coordenador do Clube de Cicloturismo do Brasil dá algumas dicas de como preparar a bagagem, quais tipos de equipamento levar e quais cuidados deve-se tomar ao pedalar.

Em primeiro lugar Rodrigo conta que a bicicleta a ser escolhida não precisa ser muito incrementada, mas também não deve ser muito simples para evitar problemas no meio do caminho. “Não precisa investir em um quadro muito caro, mas é bom investir um pouco mais nas peças principais, que se movem, como o câmbio, catracas, coroa e cubos”, explica.

Após a escolha do equipamento é hora de começar a preparar a bagagem a ser levada na bicicleta e uma dica importante é saber como distribuir o peso de forma a dar estabilidade. Existem mochilas próprias para serem utilizadas, chamadas de alforjes, que podem ser colocados na parte de trás ou da frente da bicicleta.

Alforjes – “O alforje traseiro é básico, todo cicloturista carrega. Mas se colocar muito peso atrás, a bike ficará com tendência a levantar”, diz Rodrigo. Nesse caso o uso do alforje dianteiro torna-se fundamental. “Para viagens longas com muito peso, como equipamento de cozinha e camping, acaba-se colocando o dianteiro também, que é um pouco menor, mas dá mais estabilidade”, completa.

Além dessas duas mochilas especiais é interessante levar também um bolsa de guidão, para colocar máquina fotográfica, documentos, caderno de anotação e comidas rápidas como barra de cereal. Nessa bolsa também pode ir um porta mapa com a planilha, para seguir o roteiro da pedalada. Também é uma boa idéia adquirir alforjes que contenham vários bolsos, para dividir as ferramentas de alimentos, capa de chuva, entre outros.

Apesar de cada cicloturista preferir arrumar a bagagem da sua forma, Rodrigo diz que algumas regras básicas devem ser seguidas, como equilibrar bem os dois lados para a bicicleta não ficar pensa. “Isso você faz mais ou menos a olho, tentando colocar as coisas mais pesadas no fundo do alforje”, recomenda o cicloturista. Segundo ele isso faz com que o centro de gravidade abaixe e ajude na estabilidade.

Se a viagem for longa é interessante levar equipamento de camping, saco de dormir e isolante térmico dentro das bolsas ou amarrado do lado de fora, em cima do bagageiro. “Nesse caso coloca-se uma mochila especial, top bag, ou um extensor para prender a bagagem extra”, explica Rodrigo Telles. Uma dica é embalá-los em sacos plásticos, e certamente deve ser seguida para não correr o risco de ficar sem roupas ou saco de dormir secos.

Ao ser perguntado se o cicloturista pode levar uma mochila nas costas, além dos alforjes e dos outros compartimentos citados, Rodrigo foi enfático ao afirmar que não é recomendável “Ao longo do tempo você começa a ficar com dor nas costas, mesmo que seja uma mochila leve. A gente não recomenda nem a mochila de hidratação, pelo fato de ficar com as costas suadas por muito tempo”.

Após a preparação da bagagem pessoal, é importante saber quais equipamentos de manutenção devem ser inclusos para evitar que uma corrente ou aro quebrado acabem com o passeio. “Hoje em dia você consegue resolver a maioria dos problemas com um conjunto de chaves allen com todos os diâmetros; um alicate de bico e a chave inglesa, com abertura regulável”, comenta Rodrigo. Ele salienta que também é importante ter um kit de reparos para a câmara de ar, uma câmara extra, bomba de ar e chave para tirar elo de corrente.

Cuidados – Caso a viagem seja uma pouco maior, o cicloturista dá a dica do que levar. “Leve um alicate grande, algumas peças de reposição, como raio, um pedaço de corrente, cabos de freio e câmbio extras, mas tome cuidado para não exagerar e carregar peso extra”, avisa o cicloturista.

E a lubrificação da corrente, como fica? Muitas pessoas têm o hábito de passar o famoso spray para lubrificar a corrente. Rodrigo desmistifica: “esse não é para ser usado na bicicleta em nenhuma hipótese, pois é um óleo que funciona na hora, mas depois de meia hora evapora. O ideal é usar um óleo especial para bicicleta, que pode ser encontrado em lojas específicas”.

Porém, imagine que o cicloturista está fazendo um passeio, precisa de um óleo para lubrificar a corrente, não trouxe na bagagem e não encontra bicicletarias na cidade, o que fazer? “Se você não encontrar óleo nenhum, pode pedir no posto de gasolina uma lata de óleo de carro meio vazia. Passar algumas gotinhas é melhor do que deixar a corrente seca”, recomenda.

Na hora de escolher o que levar para comer é necessário avaliar bem e não carregar peso desnecessário. “Para passeios curtos de um a dois dias o ideal é uma alimentação rápida, com barra de cereal, pães, coisas para lanche, doces, biscoitos, castanhas, amendoim e frutas secas”, explica Rodrigo Telles. Esses alimentos fornecem sais minerais e não são produtos industrializados.

Caso a viagem seja longa, na qual será levado um fogareiro para cozinhar, o ideal são comidas leves que possam ser feitas com água. “Utilize comidas desidratadas, que são leves de carregar. Massas como macarrão instantâneo são fáceis de preparar”, avisa.

A água também é algo importante a ser considerado, pois a desidratação é um problema grave. “A principio leve a quantidade para um dia inteiro, ou seja, de dois a quatro litros, mas se a viagem for maior, leve mais. É importante que a água esteja sempre à mão e, de preferência, em mais de um recipiente. O resto pode ser carregado em garrafas pet no interior dos alforjes”, exlica Telles.

Uma dica importante é tomar cuidado com indicações de águas de rios ou lagos no roteiro da viagem, que muitas vezes podem estar secos ou poluídos. Na viagem um importante aliado é o hipoclorito de sódio para purificar água de torneiras e rios.

Segurança – Já na parte de segurança, alguns detalhes têm que ser levados em consideração para que tudo ocorra bem no passeio. “Geralmente os alforjes já têm refletivos e é importante também ter um retrovisor grande e plano do lado esquerdo”, explica Rodrigo.

Existe um mito, principalmente entre os leigos na área de ciclismo, de que o certo é pedalar na mão contrária dos carros. Segundo Telles, esse pensamento não é correto, pois acaba expondo o cicloturista a ter um acidente e ainda atrapalha o motorista. “Pedalar do lado contrário dos carros é um absurdo. A lei de trânsito diz que o correto é pedalar no sentido dos automóveis”.

Um equipamento que também pode ser muito útil é o hodômetro. Ele possibilita que a pessoa saiba onde está, há quantos quilômetros está da cidade mais próxima e qual a distância que já foi percorrida.

Outra questão importante é em relação ao kit de primeiros socorros, que não pode faltar. “O que levar no kit depende das características, duração e isolamento da viagem, além das questões pessoais. Porém, é sempre bom conversar com um médico antes de montar o seu kit e saber o que fazer nas situações críticas”.

Após preparar a bicicleta e a bagagem, e tomar todas as precauções necessárias com o bem estar e a segurança, aproveite ao máximo cada momento do passeio. Ao voltar, algumas dicas são importantes para conservar o equipamento.

“Ao chegar de viagem é bom deixar a bicicleta limpa e deixar secar na sombra. Tire toda a terra, limpe com pano úmido e passe querosene na corrente para tirar toda a graxa”, recomenda Rodrigo Telles. Caso a bike tenha sido usada na praia, o cuidado deve ser redobrado, pois a areia é abrasiva e gasta todo o metal.

Este texto foi escrito por: Alexandre Koda