Conceitos básicos são usados até numa grande expedição como a volta ao mundo de Gerárd Moss (foto: Arquivo Asas do Vento)
Os aventureiros que sonham em usar as esperadas férias ou até abandonar o emprego fixo para fazer uma expedição puderam tirar muito proveito das palestras que aconteceram na 3ª edição da Adventure Sports Fair, realizada entre 3 e 7 de outubro, na Bienal do Ibirapuera, em São Paulo.
Além das palestras com nomes conhecidos como Gérard Moss, Júlio Fiadi, entre outros, duas palestras, em especial, orientaram os espectadores em como montar uma expedição e conseguir patrocínio para viabilizá-la.
A platéia, que praticamente se repetiu nos dois eventos, era composta por uma maioria de jovens, alguns que se diziam em busca de um desafio em suas vidas. A primeira palestra teve o tema Como planejar sua primeira expedição e foi apresentada pelo montanhista Thomaz Brandolin, Personalidade Webventure. Entre suas expedições mais conhecidas estão a chegada a pé ao Pólo Norte geográfico, em 1999, e a primeira investida de brasileiros ao Everest, em 1991.
A segunda palestra foi apresentada pelos profissionais de marketing Marcos Caruso e Georgios S. Hatzidakis sobre Como elaborar seu projeto para capacitação de patrocínio.
Pensando nas pessoas que pretendem fazer uma expedição e não tiveram a oportunidade de assistir a essas “aulas”, o Webventure mostrará nesta reportagem conselhos preciosos para viabilizar seus sonhos.
O objetivo de Brandolin, na palestra, foi destacar os passos iniciais de planejamento para quem não tem experiência no assunto. Segundo ele, a partir do momento em que tiver a idéia do projeto, o aventureiro deve saber diferenciar se ele é uma simples viagem ou uma expedição. Segundo o dicionário, expedição significa um grupo de pessoas dedicadas a explorar, estudar uma região, em geral cientificamente. Seja bastante crítico para analisar se o seu projeto se encaixa nesta definição.
A pessoa que se propõe a fazer uma expedição deve definir alguns planejamentos, tais como:
Além das definições de quando, como e onde será o projeto, o ideal é fazer uma grande pesquisa sobre o local, ouvir relatos de quem já esteve no ambiente, ter mapas, fotos e vídeos (aéreos) precisos da localidade, dados geográficos como clima, distância, legislação e cultura; verificar se é necessário alguma permissão para passar pelo território. Enfim, tudo o que efetivamente será necessário para conhecer o lugar antes de sua chegada.
Orçamento – Após a primeira etapa, de conhecimento do local, o segundo passo é fazer um orçamento do que será necessário, como:
O que você vai apresentar – A próxima etapa é montar o projeto. Há um modelo com alguns itens necessários para todo tipo de expedição:
O projeto é o instrumento que vai ser usado para a busca de patrocínio (veja links desta matéria) ou mesmo para auxiliar a imprensa na divulgação da sua empreitada. Por isso, seja claro, organizado, cuidado com erros de ortografia e digitação e procure ser sintético – nem todo mundo tem tempo de ler muitas páginas.
Patrocínio. Este é considerado o principal empecilho para quem deseja competir em alguma modalidade ou fazer uma expedição e não tem verba necessária para o projeto. Marcos Caruso e Georgios S. Hatzidakis palestraram sobre como estreitar relações com possíveis patrocinadores.
Conhecer bem o produto a ser vendido no caso de uma expedição ou competição – é o primeiro passo para quem deseja correr atrás de uma empresa que patrocine o seu sonho. O aventureiro tem de fazer uma seleção entre muitas empresas para definir qual se encaixará melhor no perfil do projeto.
Georgios dá uma dica para procurar um possível patrocinador: “não adianta procurar quem já patrocina muitas atividades. Vá ao concorrente!”
O contato – O próximo passo é saber quem são as pessoas que influenciam ou determinam qual será o próximo projeto a ser patrocinado. Essa seleção e investigação pode ser feita através de telefonemas ou e-mail.
Para marcar uma entrevista em determinada empresa, o interessado deve saber qual o custo total do projeto e o retorno que a empresa terá. O patrocinador não quer saber se você vai precisar de 30 metros de corda, mas quanto isso custa. Mande o orçamento completo, disse Caruso.
Proposta – Adaptar o projeto escrito a cada empresa é uma ação bem-vinda. Para Caruso, não adianta mandar a mesma proposta para todas. Se o atleta for participar de um rali, ele deve mostrar como ficará o carro com o nome da empresa. Isso impressiona! Não adianta aparecer com um desenho do carro, mostrando espaços numerados, onde e como ficarão os adesivos, disse. Considere também incluir o nome da empresa ao nome do projeto. Exemplo: “‘Fordventure”, expedição realizada por Marcelo Ramos com a Ford.
“Moedas” variadas – Há muitas formas de uma empresa contribuir. A primeira seria o patrocínio, quando uma ou mais empresas (o orçamento total do projeto pode ser dividido em duas ou mais partes, chamadas “cotas de patrocínio”) bancam tudo em dinheiro.
A segunda é a parceria, quando a empresa se torna sócia do projeto. A terceira seria a permuta, quando há troca de serviços, que podem ser um equipamento que a empresa produz (carro, acessório, telefone por satélite, etc) ou a própria divulgação do projeto, no caso de um meio de comunicação.
No entanto, deve ficar claro que ninguém não está doando nada. O produto patrocinado deve dar retorno em mídia. E mais: o patrocinador precisa confiar que você vai realizar tudo o que promete.
Na busca por patrocínio, levar um ou muitos “nãos” é comum. Aproveite para perguntar o porquê da reprovação do seu projeto e use essa resposta para melhorá-lo. Pode ser que digam que a sua idéia não se identifique com a empresa. Neste caso, o erro ocorreu na seleção de potenciais patrocinadores. Estude melhor o mercado e não desista!
Depois de bater em tantas portas, pode ser que se tenha a sorte de encontrar o patrocinador. Quer dizer que o compromisso está apenas começando: proposta encaminhada e aceita, a próxima etapa será cumprir com o prometido. O expedicionário deve fazer um relatório diário para que a empresa saiba o que acontece. A pessoa não pode pegar o dinheiro, fazer a expedição, sumir e não dar satisfações para o patrocinador, avisou Georgios. Quem agir desta forma nunca mais conseguirá um patrocínio”.
Outro caminho – A chance de frustração pode ser um motivo para deixar de lado a necessidade de um patrocinador. Para o próprio Brandolin, o fator patrocínio é bom, mas não fundamental. Não sei se vale a pena correr atrás. O desgate e as chances de fracasso são tão grandes que acabamos desistindo, disse o montanhista, afirmando que a melhor maneira para fazer uma expedição é juntando uma grana. Neste caso, proponha prazos longos a si mesmo, como iniciar a expedição daqui a um ano, de acordo com o custo do que se quer realizar.
Confira mais informações sobre a montagem do projeto e a busca do patrocinador na seção Passo-a-Passo, no Expedições. Ela foi elaborada por pessoas que tinham uma idéia, como você, e souberam concretizá-la, com sucesso.
Projeto pronto e, quem sabe, um patrocinador fechado. É preciso lembrar que isso não é o bastante para realizar uma expedição, com sucesso. Brandolin destaca que a preparação física e psicológica dos indivíduos que vão fazer parte do projeto é indispensável.
O treinamento físico não pode omitir os detalhes. Deve-se simular todos os movimentos de que se vai necessitar na expedição. Por exemplo, se for preciso puxar um trenó, o seu treinamento deve exercitar a musculatura exigida para isso.
O treinamento psicológico também é muito útil. Se o projeto for feito por apenas uma pessoa, o treinamento consiste basicamente em fazer algumas viagens em solitário antes de partir. É muito difícil ficar só por muito tempo. Antes de fazer uma grande expedição, eu tive de fazer pequenas viagens sozinho para acostumar, contou Brandolin.
realizado com uma equipe, todos os integrantes têm de aprender a gerenciar conflitos.
Por uma vela – O montanhista também alertou sobre importância dos pormenores. Uma simples dificuldade pode pôr a perder uma expedição. Ele lembra: “certa vez, o fogareiro pifou e era necessário apenas uma vela para acendê-lo. Se não tivéssemos essa vela, teríamos de abortar o projeto”. Quando algo de errado acontecer, sempre deve existir um plano B, C, D…
Para expedições em grupo, antes da partida, devem ser definidos os papéis de cada um dentro da equipe, ensinou o palestrante. Para quem não está acostumado não é uma boa ficar sozinho, caso seja necessário dividir o time. Normalmente isso acontece. A melhor opção é separar em duplas. Pode acontecer um imprevisto e, quando se está acompanhado, a outra pessoa te ajuda.
Sob tensão – A solidariedade e o companheirismo são testados durante alguns dias numa expedição. É muito importante saber ouvir, conhecer as limitações e gerenciar conflitos do seu companheiro.
Em meio a tantos imprevistos, lugares e situações desconhecidas, os integrantes da equipe podem ficar com seu humor muito vulnerável. Às vezes brigamos por um simples detalhe. Uma vez um companheiro se extressou porque a cozinheira colocava muito tempero na comida. Em vez de ele falar para ela que não gostava de comida temperada, discutia conosco e não tentava solucionar o problema, recorda.
O conselho mais precioso é: procure escolher pessoas conhecidas, com quem já tenha viajado, para acompanhá-lo. Converse sobre gostos e até manias: às vezes hábitos corriqueiros podem ser encarados pelo outro como um grande incômodo, como no caso citado por Brandolin.
Agora é com você – Imaginava que era tão complicado montar uma expedição? As dicas desta reportagem têm como intuito deixá-lo livre para curtir e se aventurar durante a viagem, sem se preocupar com algo que esqueceu de fazer e que pode inviabilizar todo o projeto. Também são dados que ajudam a trazê-lo são e salvo de volta para casa, afinal muitas expedições virão depois da primeira.
Só falta pôr tudo em prática. Comece a acreditar que aquele velho sonho pode virar realidade, com uma boa dose de esforço!
Este texto foi escrito por: Romena Coelho
Last modified: outubro 15, 2001