ABN Amro 1 chegando na Cidade do Cabo (foto: Josh Nash)
Em meio às emocionantes reações dos tripulantes do ABN Amro 1 ao chegar em primeiro lugar, de longe a mais forte era a do proeiro Jan Dekker. Dekker, que tem dupla cidadania, francesa e sul-africana, é residente em Cape Town e um dos três únicos sul-africanos a participar da Volvo Ocean Race este ano. Os outros dois, Jonathan Swain e Mickey Joubert, infelizmente voltarão para casa de avião, uma vez que o barco deles, o V70 movistar foi obrigado a abandonar a primeira etapa em função dos sérios problemas estruturais.
“É sempre gostoso velejar para seu porto de origem, e é melhor ainda quando você chega em primeiro lugar”, disse Dekker. Esta é terceira Volvo Ocean Race da qual este sul-africano de 38 anos participa. Anteriormente, ele competiu no Silk Cut, de Laurie Smith, na edição 1996-1997, e depois no Tyco, de Kevin Shoebridge, quatro anos atrás. Contudo, o evento deste ano é sua quarta regata de volta ao mundo, uma vez que ele participou também da The Race, vencendo-a a bordo do grande catamaran Club Med, junto com o atual comandante do Ericsson, Neal McDonald, e comandado pelo já vencedor da Volvo Ocean Race Grant Dalton.
Quanto maior o barco, maior o trabalho – O trabalho principal de Dekker no barco é o de proeiro, uma especialidade que ele tem desenvolvido desde seus tempos no Silk Cut. E passar de um V60 para o novo V70 mostrou-se algo não apenas mais desgastante, mas realmente um novo desafio para esta função. “Os barcos são maiores, conseqüentemente as velas também são, e a tripulação é menor, de forma que tudo o que é feito com falta de tripulação. É tudo muito mais difícil. E para completar o barco também anda mais rápido, o que faz com que você seja atingido pelas ondas de forma mais dura do que antes, então você tem que ficar bem preso”, explicou ele.
Se segurar firme, trabalhar na proa de um barco que chacoalha enquanto enfrenta ondas e velocidades mais altas do que 30 nós não é coisa para aqueles que têm coração fraco, e faz da função de proeiro de um barco de provas uma das tarefas potencialmente mais perigosas a bordo. “Você leva pancadas que te levantam e jogam para trás o tempo todo”, diz Dekker.
“Eu tive sorte de não me machucar, mas outros tripulantes não tiveram a mesma sorte (na primeira etapa). Você é arrancado com freqüência da proa e arrastado até bater no mastro ou nas bolinas. A gente tenta evitar ao máximo que isto aconteça, porque os riscos são grandes. Podemos ter gente caindo ou quebrando a perna, então é necessário que façamos as coisas com um pouco mais de cuidado do que fazíamos em regatas anteriores. Tentamos fazer as trocas de uma forma mais segura do que no passado”.
Dekker foi literalmente levado por toda a extensão do convés junto com Tony Mutter, o que ajudou a arrancar um dos dois suportes de direção, durante as pesadas condições das primeiras 48 horas da etapa. “Mas eu tive sorte. Eu até que não me machuquei muito. Eu escapei…” ele conta.
Além do trabalho ter ficado mais pesado, Dekker afirma que o equipamento utilizado no ABN Amro 1 é diferente daquele com o qual ele estava familiarizado nos V60. Antes, uma das tarefas de Dekker era a de escalar o pau da vela balão para soltar o tack da vela. No ABN Amro 1 não existe pau da vela balão, que em vez disso fica presa num mastro de proa fixo e mais curto.
Apesar de que chegar até o fim do pau da vela balão parece uma situação precária e muito perigosa, Dekker diz que pelo menos você está no ar, e suspenso sobre a água. Ao passo que, quando trabalha no mastro da proa, projetando-se para fora do nível do convés a partir da proa, significa que você fica, com muita freqüência, debaixo d’água.
“Então, na verdade, esta nova situação não é nem um pouco mais segura; ela é muito pior. Nós tivemos que descobrir maneiras de fazer as coisas que têm que ser feitas sem precisarmos ir até a ponta. É por isso que, se você olhar para a ponta de nosso barco, você vai ver um monte de cabos indo até lá para controlar tudo, evitando que tenhamos que ir até lá”.
Comparada com a regata anterior, há menos tripulantes a bordo e o número de velas foi reduzido, numa tentativa de frear os crescentes custos. Em função disso, as equipes foram forçadas a adotar novas maneiras de lidar com as velas, usando roller furlers (roldanas que prendem as velas em volta de um cabo) ou snuffers (de fato, verdadeiras meias que são puxadas por cima das velas para facilitar o processo de recolhê-las). Dekker afirma que tudo isto mudou sua vida, deixando-a mais complicada, tendo que lidar agora com um monte de cabos diferentes para fazer uma série de tarefas diferentes.
Com a primeira etapa pelos mares do sul começando no início de janeiro, o desafio será ainda mais difícil para o proeiro. “A maior diferença entre a etapa que encerramos e a próxima é que a água agora estará tão fria que deixará sua vida muito mais penosa”, afirma Dekker. E por causa da natureza molhada deste trabalho, Dekker geralmente usa uma roupa impermeável por cima da roupa convencional, mas com as ondas geladas do Pacífico Sul diante dele, Dekker precisará acrescentar mais camadas de roupas térmicas.
“Isso pode deixar você pesado e se sentindo desconfortável, mas é algo necessário, porque se você passar dez minutos sem fazer nada você fica com muito, muito frio. Mas então, assim que você volta à ação para uma troca de velas, começa a suar muito”, diz ele.
Agora na Cidade do Cabo, com seu barco fora da água, Dekker está envolvido com os trabalhos de manutenção, fazendo a ligação com a equipe de terra para “ter certeza de que todos estão falando a mesma língua. Isso vale para quando estamos mudando coisas que não funcionaram bem na primeira etapa, ou quando estamos trocando peças que se desgastaram excessivamente”.
Em qualquer caso é essencial que todos estejam se entendendo perfeitamente bem,” explica ele. “Nós vamos agora tirar alguns dias de descanso, começando hoje à noite, e quando voltarmos, em mais ou menos uma semana, nós voltaremos ao trabalho no barco”.
Este texto foi escrito por: por James Boyd, do Sailing Intelligence