O escalador Gustavo Mendes se prepara para a escalada do novo trecho (foto: Daniel Souza)
O Projeto Juvenal teve o objetivo de descobrir novas áreas dentro de uma das mais importantes cavernas do Brasil: o Abismo do Juvenal. Com explorações verticais, utilizando técnicas em corda fixa ou técnicas de escalada em rocha, a equipe do projeto sondou condutos que chegam às galerias conhecidas da caverna, e que não se sabia de onde vinham. O projeto foi realizado em três etapas, desenvolvidas durante os anos de 2001 a 2005.
Em suas três fases a equipe do projeto explorou e mapeou dois novos condutos dentro do abismo, desvendou o mistério do alto da sua galeria principal e descobriu quatro novas cavernas nas suas proximidades.
O Projeto Juvenal descobriu fósseis no interior de duas das novas cavernas e atuou como parceiro no trabalho de pesquisa e retirada desses fósseis realizado pelo Museu de Zoologia da USP.
Os números – As estatísticas do projeto somaram doze dias de trabalho no entorno do Juvenal, seis trabalhos de topografia (mapeamento), dezenove incursões ao abismo, duzentos e onze horas de atividades dentro dele, o envolvimento de dezenove pessoas, oitenta e sete metros de paredes escaladas no seu interior, duzentos e setenta metros de cordas instaladas e cento e trinta itens de equipamentos utilizados em cada incursão.
Clique aqui para ver as duas primeiras etapas do Projeto Juvenal e veja a seguir o relato da terceira e última fase. Para mais, acesse o www.projetojuvenal.com.br.
Em agosto de 2005 a equipe do Projeto Juvenal reiniciou a escalada no alto da galeria principal, mas dessa vez com a participação de um escalador experiente, Gustavo Mendes, que utilizando técnicas de escalada livre, ou seja, progressão feita com apoios naturais, mãos e pés, subiu uma altura quase três vezes maior do que a alcançada na fase anterior.
O que tínhamos vislumbrado da parede na fase anterior, parecia ser uma situação fácil de subida, em um trecho aparentemente menos inclinado, e que com pouco esforço nos levaria até o alto da galeria, e de lá, até o grande buraco no teto que se apresentava como a provável continuação da caverna.
Porém, na retomada da escalada, após os cinco primeiros metros de subida, o Gustavo descobriu que as dificuldades da parede eram muito maiores do que havíamos percebido. A parede verticalizou, e a sua superfície estava recoberta de argila e pedras soltas, e as partes de rocha eram de grandes blocos fraturados e de aparência instável. Essa situação pegou a equipe de surpresa e gerou uma situação perigosa, em que a terra e as pedras deslocadas caiam em cima do parceiro de escalada, que estava em um platô a quinze metros de altura do chão, e que era responsável pela segurança de quem subia.
Dificuldades – A segurança da escalada foi prejudicada pelo fato de não haver uma superfície adequada para instalar os equipamentos de segurança (spit, costura e corda), obrigando o Gustavo a subir quase vinte metros antes de conseguir colocar o grampo (spit) onde pôde fazer a parada e armar a sua segurança. Nesse ponto descobrimos que o grande buraco era na verdade a continuidade da galeria principal, chegando como um grande conduto vertical.
Na seqüência da escalada o Gustavo, ainda utilizando técnicas de escalada livre, alcançou o novo conduto, tendo que enfrentar as mesmas condições perigosas do trecho anterior. Após o Gustavo instalar um grampo (spit) e fixar a corda, demos por terminada aquela etapa da escalada, deixando para continuá-la na incursão seguinte.
Pela descrição dele parecíamos ter chegado próximo ao final do conduto, mas, só poderíamos ter certeza disso na próxima investida.
Na segunda incursão de exploração, subimos até o ponto onde a escalada havia chegado anteriormente, e descobrimos que poucos metros acima a galeria estava entupida de blocos e argila. Atrás de nós, e um pouco acima de onde estávamos, havia uma abertura que parecia ser o início de uma nova galeria. O Gustavo, contornando pelas paredes, em duas travessias horizontais de escalada, chegou até essa suposta galeria, e descobriu que se tratava apenas de um “arco”, ligado a galeria principal, como uma ponte entre as paredes.
Na incursão seguinte subimos com uma equipe para fazer as medições e produzir o mapa das novas áreas da caverna, e com isso, demos por terminada essa nova fase de explorações.
Entre as viagens de exploração, o Projeto Juvenal realizou uma incursão para o registro jornalístico da caverna e do projeto. Participaram dessa atividade quatro documentaristas e quatro espeleólogos. A vídeo-reporter Renata Falzoni foi acompanhada por dois assistentes, o Felipe e o Reinaldo, gravando para o programa “Aventuras com Renata Falzoni” da ESPN Brasil. O fotógrafo Alexandre Cappi participou da viagem fotografando e escrevendo para as revistas “Aventura e Ação” e “Um Universo Masculino”.
A equipe completa que participou da última fase do projeto foi: Jurandir Aguiar dos Santos; Vandir de Andrade Junior; Janayna de Oliveira; Gustavo Mendes; Daniel Alexandre de Souza; Francisco José Sarpa Lima; Daniel De Stefano Menin; Ditinho; Luiz Eduardo Spinelli.
A as empresas que deram apoio ao Projeto Juvenal foram: Betary, BOSCH, By, Half Dome, Montana, Pousada Rancho da Serra, Seishin e Webventure.
Este texto foi escrito por: Luiz Eduardo Spinelli