O curso é destinado para os pára-quedistas recém formados (foto: Arquivo Webventure)
Logo depois que o aluno se forma, ele fica sem saber para onde ir. O que fazer ou com quem saltar? O programa BBF é um curso que todos os pára-quedistas recém formados deveriam fazer. O texto abaixo fala tudo sobre este programa e é uma orientação para pessoas que ainda estão perdidas.
A sigla BBF foi inventada e registrada pela Skydive University, sediada nos E.U.A, quando alguns instrutores de trabalho relativo resolveram criar um método padronizado de instrução, com uma metodologia de ensino e seqüências estruturadas de treinamento, preparação, salto e debriefing.
A este método deram o nome de BBF (Basic Body Flight), que acabou sendo difundido pelas áreas ao redor do mundo. É importante explicar a história da nomenclatura, pois, teoricamente, todos os métodos de ensino que não são da Skydive University, em tese, não poderiam ser chamados de BBF. Contudo, apesar de não possuírem o mesmo método, são similares no modelo de ensino.
O que é o BBF? – O BBF é um programa de ensino do trabalho relativo, em que o aluno progride por vários níveis, com o objetivo do aperfeiçoamento das técnicas individuais de vôo. Durante o programa, o aluno aprende as técnicas que utilizará para o deslocamento em queda-livre, ou seja, quais são as partes do corpo que devem ser utilizadas (e como) para que possa se deslocar da maneira que quiser e para onde quiser tudo isso dentro das regras que utilizamos no trabalho relativo.
Acredito que o BBF é um curso essencial para todos os pára-quedistas que buscam técnica e aperfeiçoamento. Não é necessário praticar o trabalho relativo para fazer esse curso, que servirá de base para toda a vida do paraquedista, independente da modalidade praticada.
O BBF pode ser encontrado em vários lugares, porém poucos são os instrutores que estão realmente capacitados, tanto tecnicamente quanto didaticamente, a formar um aluno da maneira correta, fornecendo boa instrução tanto em solo quanto em queda-livre e, principalmente, na conversa após o salto (debriefing).
Geralmente, instrutores que misturam técnicas de instrução do curso de AFF com técnicas de trabalho relativo, são bons instrutores de BBF desde que possuam qualidade didática, bom método de ensino com regras e padrões e que estejam sempre atualizados em relação às novas técnicas, sempre criadas e aperfeiçoadas ao redor do mundo.
Alguns instrutores, por não estarem envolvidos em competições e atualizações, deixam de se preocupar com o próprio treinamento, ensinando aos seus alunos técnicas que não estão necessariamente erradas, mas que também não são as últimas utilizadas para determinada manobra ou modalidade. Dessa forma, acabam ensinando técnicas ultrapassadas.
Para escolher um bom instrutor, utilize sempre a razão e o bom senso. Não acredite em tudo que ouvir e em tudo o que um instrutor disser que fez ou faz. Seja sempre coerente e questione o trabalho dele, pergunte sobre pessoas que ele já formou e fale com elas. Converse sobre o método de ensino, sobre como foi o curso e analise também o resultado final em vôo. Informe-se se o aluno está realmente voando bem e se as técnicas ensinadas por aquele instrutor são atuais.
Tempo – Tudo isso não é feito do dia para a noite. Mas acredite, vale a pena perguntar, questionar e se informar muito bem antes de iniciar o curso. O investimento é razoável e é necessário escolher bem o instrutor antes de começar. Tenha a certeza de que se o instrutor for competente e sério, não ficará irritado com seus questionamentos, tampouco com o fato de você buscar informações com pessoas que já fizeram o curso com ele. Se o método é bom e o instrutor competente, essas pessoas serão sempre uma propaganda positiva.
Durante o curso BBF, o instrutor deverá fornecer informações teóricas sobre a queda-livre e navegação. Contudo, um bom curso oferecerá também informações e teorias gerais sobre paraquedismo, itens como atitude e postura no chão durante o treinamento, segurança, check de equipamento, procedimento dentro da aeronave, planejamento mental durante a subida, procedimentos de emergência e tudo que poderá contribuir para a formação de um pára-quedista seguro e consciente, com técnicas apuradas e objetivos claros dentro do esporte, tanto na queda-livre quanto na navegação e planejamento para o pouso.
O módulo de queda-livre dentro do programa BBF deverá ser o mais técnico possível, sendo que o aluno deverá aprender a se deslocar em todas as direções, utilizando técnicas e movimentos corretos e planejamento mental adequado. Não basta saber se movimentar, é necessário saber o motivo pelo qual se deve respeitar algumas regras básicas de trabalho relativo, como nunca chegar numa formação por cima, aproximar-se utilizando a zona vermelha, parar o movimento totalmente antes de efetuar o grip e muitas outras regras que fazem parte do cotidiano de um bom paraquedista.
Resultado – no final do curso o aluno estará apto a realizar um salto com dois ou mais pára-quedistas de maneira segura, possuindo técnica e conhecimento suficientes para realizar uma boa aproximação, grip, voar a formação e efetuar uma separação segura, estando atento desde o momento da saída até o momento do pouso.
Após o término do curso o aluno poderá seguir por vários caminhos e várias modalidades. Ele poderá continuar se dedicando ao treinamento e aperfeiçoamento das técnicas que aprendeu, simplesmente parar de treinar e começar a fazer saltos de diversão utilizando o conhecimento adquirido ou ainda escolher outra modalidade e seguir no aprendizado das técnicas peculiares a esta.
Essencial – o mais importante é a humildade. Esta é a maior alavanca do aprendizado: nunca devemos acreditar que sabemos tudo ou que o que sabemos já basta. O aprendizado é continuo e eterno. Portanto, após se formar, continue treinando e saltando com pessoas melhores do que você. Assim você estará sempre aprendendo e evoluindo.
É importante deixar claro que minha opinião não é absoluta, de maneira alguma. Passe os conselhos sempre pelo crivo da razão e do bom senso, seguindo o caminho que julgar mais adequado.
Para quem quiser seguir no trabalho relativo, recomendo que continue o treinamento fazendo saltos de 2-way com bons relativistas. Afinal, você já conhece a técnica e só precisa aperfeiçoá-la. Se aprendeu a técnica correta para fazer um giro no eixo numa determinada velocidade, treine e verá que pode fazer este giro cada vez mais rápido e de maneira mais precisa aplique isso a todos os movimentos.
Experiência – este é um item que nunca poderá ser substituído no paraquedismo. E só podemos adquiri-la saltando e nos mantendo seguros para que possamos ver o tempo passar e a experiência chegar. Esse procedimento formará, juntamente com o treinamento, um paraquedista mais completo, que une técnica, planejamento mental adequado, segurança e, finalmente, a experiência.
O pára-quedista poderá continuar seu caminho pelo treinamento, tendo a oportunidade de se unir a amigos que tenham os mesmos objetivos e montar um time de 4-way, iniciando uma trajetória de treinamento, até que o grupo possa participar de uma competição. Posso garantir que depois da primeira competição, a vontade de se aperfeiçoar, a motivação e energia servirão de alavanca para que a equipe possa estar sempre buscando o caminho da perfeição.
Nosso esporte é maravilhoso, o aprendizado é algo fantástico e a melhor maneira de fazer algo é querer muito que este algo aconteça. Dedique-se, doe toda a sua vontade e determinação, lute por seus objetivos e lembre-se que vários obstáculos surgirão durante o caminho.
Só chegará ao topo quem souber encarar as dificuldades de maneira positiva e alegre. O caminho é repleto de espinhos, mas a recompensa é fantástica, inexplicável. A satisfação pessoal é uma sensação indescritível neste esporte desafiador e sem limites.
Este texto foi escrito por: Fábio Diniz