Portaria do Parque onde são entregues folhetos aos visitantes (foto: Roger Grinblat)
Há um mês mais ou menos fomos surpreendidos pela terrível notícia de que o Parque Nacional de Itatiaia – PNI – estava sendo varrido por um incêndio de grandes proporções. Dois jovens turistas de São Paulo, por estarem perdidos perto das Prateleiras, acenderam uma fogueira. E aí foram dias de vegetação ressequida pela longa estiagem sendo queimadas numa extensão de aproximadamente 1.200 hectares. E mobilizados esforços conjuntos de funcionários do parque, de voluntários e do Corpo de Bombeiros. Uma dificuldade imensa para apagar o fogo, dadas as condições de relevo e de acesso aos locais.
Quanto desse esforço seria evitado se um trabalho educativo fosse feito de forma continuada. É verdade que os jovens funcionários que ficam na portaria do Parque, ao cobrar o ingresso de entrada, entregam um folheto explicativo do que se deve ou não fazer em se tratando de um Parque. Porém, apenas entregam, e acreditam que os que por ali passam vão se deter uns cinco minutos para ler o que diz naquele folheto. Quanta ilusão!
Pode até ser que, à noite, em suas barracas ou quartos de pousada, venham a ler, só que aí será tarde. Já largaram lixo em algum canto, pegaram um lírio, um sapinho de barriga vermelha, rabiscaram o nome em alguma pedra para dizer que eles lá estiveram ou mesmo já botaram fogo em algumas centenas de hectares de área do Parque.
Guardiões do Itatiaia – Tenho saudades dos tempos em que o Abrigo Rebouças – na parte alta do Parque – ficava aberto para o pernoite dos turistas e era cuidado pelos guardas, alguns de saudosa memória, o Joaquim de Freitas, o Vitório, o Luiz Jorge, o Roberto, o Sebastião Faustino, antigos funcionários de PNI, que não tinham o estudo necessário pela legislação para serem considerados guarda-parque, mas eram excelentes mateiros, profundos conhccedores da região, e, acima de tudo, tinham muito amor por aquela natureza, pelos lobos, pela vegetação.
E, mesmo depois de alguns muitos tragos da “branquinha”, ainda eram pelo menos capazes de sair rapidamente à procura de alguém perdido, pois tinha-se o hábito de, ao sair para um passeio, informá-los e se não voltasse num horário plausível, saíam à procura, ou debelavam qualquer foco de incêndio, fazendo acero, etc.
Eles conheciam pelo nome comum qualquer tipo de vegetação lá existente e também os animais. E sabiam contar causos vários que assustariam qualquer um que se atrevesse a estragar qualquer coisa daquele ambiente. Na verdade, o trunfo maior é que eles conversavam com as pessoas. Que saudades daqueles que conversavam, que falavam sobre a natureza!
Nem tudo era maravilha, é verdade. Muitos detritos eram jogados nas trilhas por turistas desavisados ou mal educados. Lá, naquela época, não havia lixeiras. Muitos acampavam em lugares que danificavam cabeceiras de água. Esses eram conceitos de preservação ambiental ainda não muito trabalhados na época, mas, procurava-se preservar o ambiente para as gerações futuras, sem deixar de estar nele.
Com esse intuito, na década de 80, o Centro Excursionista Universitário – CEU – resolveu dar sua contribuição para a preservação do PNI, que era bastante freqüentado por seus associados. Procurou o então diretor do Parque, fez um folheto com os mandamentos do bom excursionista, comprou uns tantos sacos de lixo. Nos primeiros fins de semana, o próprio diretor, além dos funcionários, ficava na portaria de entrada distribuindo esse material e falando sobre a importância da preservação do Parque.
Lixeiras foram colocadas, alguns lembretes escritos em placas. Foram bons os resultados, mas, com o tempo, este enfoque educacional foi sendo abandonado. Até que a direção optou pelo mais fácil. Proibiu todo e qualquer acampamento na parte alta do parque. Permitida só a visitação. No velho e bom Abrigo Rebouças, só podem utilizá-lo alguns poucos sortudos com a autorização do diretor do parque. Mesmo assim, aconteceu esse grande incêndio. E então, por conta disso, a parte alta do Itatiaia ficará fechada por, no mínimo, três meses.
Punição lógica? – Um dos jovens poderá ser multado e pegar até dois anos de prisão, como prevê a lei de crimes contra o ambiente. A direção do PNI sugeriu que os jovens tenham uma pena alternativa, na qual, durante dois anos, eles trabalhem na portaria do parque, orientando os turistas para que não joguem lixo nas trilhas e que tomem cuidado para não causar o mesmo desastre que eles.
Puxa, não é que esse incêndio poderia ter sido evitado se esse mesmo trabalho fosse feito pelos funcionários no dia-dia? Não seria possível qualificar esses funcionários que hoje têm a função apenas de portaria como a cobrança de ingressos e tê-los como verdadeiros agentes ambientais, ou no mínimo, guarda-parques?
Enquanto isso, outro parque, o Estadual do Jaraguá, em São Paulo (SP), tem uma direção que parece preocupada com a educação ambiental, com o espaço de lazer dos paulistanos, a prática de esportes na natureza, tendo a qualidade de vida como objetivo. Ao invés de procurar saídas mais simplistas como fechar, proibir acesso, etc, tem procurado estabelecer ações para a construção de um meio ambiente mais saudável não só para as gerações futuras.
Com essa preocupação, por exemplo, mapearam as trilhas e colocaram placas de madeira com o roteiro de todas elas. Com o apoio do Clube Alpino Paulista, estão fazendo um projeto de Normatização das Vias de Escaladas para abrir todos os espaços de campo-escola de escalada, procurando minimizar os impactos ambientais decorrentes da prática de escalada e tornar a atividade, reconhecidamente de risco, o mais segura possível. Isso mesmo após alguns meses do acidente ocorrido onde houve duas mortes.
Mais esperança – Há muitos outros parques espalhados pelo Brasil que são dirigidos com boas perspectivas. Lembro também do Parque Estadual de Ibitipoca, que tinha um bom trabalho. Os visitantes tinham primeiro uma espécie de palestra sobre como desfrutar do espaço, sem destruí-lo. Além disso, havia uma boa infra-estrutura para acampamentos, com áreas demarcadas, espaços para comer, sanitários suficentes e limpos.
Em resumo, não quero com essas considerações estabelecer uma escala de valores onde uns são bons e outros maus. Apenas ressaltar que as atitudes daqueles que dirigem os Parques Públicos podem possibilitar uma melhor convivência da população com a natureza e não apenas a contemplação de longe sem poder exercer o seu papel de cidadão que aprende a respeitar a natureza.
Este texto foi escrito por: Helena Coelho