“Tenho a impressão que toda a gente está obcecada com a segunda parte da prova e se esqueceu que tudo começa amanhã. O carisma do Dakar reside no fato de cada dia ser uma nova aventura”. Com a palavra, Jean-Pierre Fontenay (Mitsubishi), francês que venceu o Paris Dakar em 98 e vai para sua 18ª participação no rali mais famoso do mundo. A edição 2.000 começa amanhã e todos os olhos estão voltados a Fontenay e ao atual campeão, seu compatriota Jean-Louis Schlesser, a quem ele se refere quando fala de “a segunda parte da prova”.
Acontece que Schlesser fabricou seu próprio carro em 99, um buggie com chassi e motor Renault e tração apenas nas rodas traseiras, que se destacou a partir da segunda fase. “É claro que o nosso 4×4 tem, teoricamente, alguma vantagem na primeira parte do traçado e que os buggys Schlesser, com mais 15 km de velocidade máxima, estarão mais à vontade na segunda. Mas a corrida raramente toma o curso que imaginamos”, avisa Fontenay. “Pessoalmente, ficaria bastante satisfeito chegando a Agadez com 15 minutos de vantagem, mas neste ‘jogo’ não podemos controlar nada sem estar pelo menos 30 minutos à frente.”
“O fato de termos vencido ‘liberta-nos’. Não temos que provar o quão rápidos somos vencendo especiais”
Schlesser,campeão em 99
Schlesser se diz renovado para sua segunda participação. “Ter ganho muda a forma como encaramos a corrida. O fato de já termos vencido ‘liberta-nos’. Não temos que provar o quão rápidos somos vencendo especiais e podemos concentrar-nos em ganhar a corrida. Isso torna muito mais fácil gerir a prova. Vencer no Cairo sem ter triunfado em nenhuma etapa não me preocupa minimamente. Posto isto, conseguí-lo nas duas vertentes seria ainda melhor”, afirma.
Além da briga entre os dois astros, o último Dakar do milênio, 22º da história, tem recorde de participantes (407 competidores, um a mais que em 91) e o percurso mais longo de todos: cerca de 11 mil quilômetros. Segundo o brasileiro Klever Kolberg, será a mais difícil: “É puro deserto. Nas outras edições ainda havia trechos de asfalto e lugares com alguma civilização.”
Klever e André Azevedo, companheiros na equipe na BR Lubrax, são sinômimo de Dakar no Brasil. Nas motos, protagonizaram os melhores momentos do país no rali, vencendo a categoria Marathon em 91 (André) e 93 (Klever). Desde 97, Kolberg mudou-se para os Carros, enquanto Azevedo passou a pilotar um caminhão em 99, quando ficou em terceiro. No mesmo ano, Klever, ao lado do belga Pascal Larroque, foi segundo na categoria Marathon.
Dos 278 veículos que largaram em 99, apenas 54 concluíram o rali
Apesar de ter a maior participação de todos os tempos, o Brasil sofreu desfalques em relação aos possíveis representantes no Dakar 2.000. Maurício Fernandes chegou a ser anunciado como piloto da Honda, mas acabou fora do rali. Também estreante em 99, a equipe Brasil Off-Road, de Arilo Alencar, não vai repetir a dose. Não é mesmo fácil bancar a ida ao Dakar: só de inscrição são 15 mil dólares. E não há garantia de chegar ao final. Em 99, dos 278 veículos que largaram, apenas 54 concluíram o percurso.
Completam a seleção brasileira Juca Bala, nas motos, e a estreante equipe Hollywood Troller, cujo astro é Amyr Klink, trocando o mar pelo deserto. São quatro carros – Klink será o navegador de Cacá Clauset – todos fabricados no Brasil.
Schlesser, Fontaine e os brasileiros… além deles, o Dakar tem muitos outros destaques. Vale a pena acompanhar a performance da alemã Juta Kleinschmidt (Mitsubishi), que ficou em terceiro em 99 e é a única mulher em condições de vencer o rali. Nas motos, atenção para as KTM, com um time de primeira: o austríaco Heinz Kinigardner (vice-campeão em 99), o italiano Fabrizio Meoni e o espanhol Jordi Arcarons, entre outros. Mas o atual vencedor é da BMW, o francês Richard Sainz, ex-KTM.
Para dar a melhor estrutura a suas feras, a organização da prova, que é francesa, dispõe de 22 aviões – um deles carregando uma cozinha completa -, 8 helicópteros (incluindo os das TVs), 2 milhões de litros de combustível e 153 toneladas de comida. Uma verdadeira Arca de Noé turbinada, para suportar qualquer dilúvio. Mas, como prevê Fontenay, trata-se de um desafio imprevisível. Conflitos, miséria e, claro, o deserto em si, são ingredientes suficientes para transformar a disputa e por à prova a mais avançada tecnologia.
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Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira
Last modified: janeiro 5, 2000