O que emperra o desenvolvimento da canoagem é a falta da tradição (foto: Thiago Padovanni/ www.webventure.com.br)
Sebastián Cuattrin, dono de 11 medalhas pan-americanas e referência no esporte nacional, fala com exclusividade para o Webventure sobre como foi o ano para a canoagem brasileira, as principais conquistas, os mais importantes campeonatos e os planos para 2008. Acompanhe:
Esse ano para a canoagem de forma geral e, particularmente pra mim, foi muito especial. Conseguimos excelentes resultados nos Jogos Pan-americanos do Rio, nas Copas do Mundo e também no Campeonato Mundial. Além disso, eu mantive meu título de campeão Brasileiro e ganhei o Brasileiro de Canoa Polinésia junto com minha equipe (a Tribo Q Pira, de Santos). Ainda nessa modalidade, ganhamos a etapa sul-americana da Copa do Mundo, realizada no Rio de Janeiro.
Em 2007, a canoagem cresceu muito e conquistou alguns espaços que ainda não tinha. Prova disso foram os resultados da canoa nos Jogos Pan-americanos, nos quais a modalidade não possuía medalhas e terminou com três conquistas: duas na C-2 e uma na individual.
No entanto, algumas medalhas que contávamos como certas não vieram. Foi o caso do K-2 500m e do K-2 1.000m, em que esperávamos pelo menos uma prata. Mesmo assim, a canoagem mostrou um excelente resultado, um crescimento. No feminino também houve um desenvolvimento que continua acontecendo.
Slalom e rafting – Esse ano também marcou uma enorme conquista para a canoagem brasileira em geral: a disputa do Mundial de Slalom no canal artificial montado na Represa de Itaipu. A prova foi a primeira das classificatórias para as Olimpíadas de Pequim. Foi uma vitória muito grande da Confederação, da Canoagem e da própria Itaipu.
Como resultado, merece destaque a conquista do Campeonato Mundial de de Rafting. Além disso, os atletas do surf-ski, o caiaque em onda, também obtiveram expressivos resultados em nível mundial.
A canoagem está em uma crescente. As escolas estão se desenvolvendo e os campeonatos estão com mais participantes. Além disso, o nível cresceu bastante o que também é muito importante. Afinal, não adianta termos milhares de crianças fazendo canoagem e não termos um nível alto.
Outro aspecto que é importante ressaltar foi o retorno que a canoagem teve na mídia. Essa veiculação é boa para que as pessoas saibam o que os atletas estão fazendo e ensinar um pouco sobre a prática esportiva.
O aprimoramento da canoagem brasileira tem alguns responsáveis como, por exemplo, a Confederação Brasileira (CBCa), que desenvolve alguns projetos sociais, e o antigo Projeto Navega, que virou Segundo Tempo.
Além desse, existem alguns programas em desenvolvimento como o chamado Canoa Brasil, feito pra crianças no qual elas têm reforço escolar, aulas de inglês, canoagem, etc.
Esse desenvolvimento se deve também ao investimento do Comitê Olímpico Brasileiro, das prefeituras onde os clubes são mais fortes, das associações de clubes locais, das escolinhas de canoagem que as prefeituras implementaram e da iniciativa privada que mantém alguns atletas de ponta.
O fato de existir um atleta que conseguiu 11 medalhas em Pan-americanos e a veiculação do esporte na mídia vai colocar a canoagem em bastante evidência e a criançada se anima a praticar. Por onde eu passo, os mais novos querem remar comigo. E esse é um momento em que os envolvidos com o esporte têm que aproveitar para desenvolver essas crianças e transformarem-nas em futuros campeões.
Exemplos de crescimento – Um bom exemplo desse tipo de processo aconteceu com a natação na época do Ricardo Prado e que continuou com a geração Gustavo Borges e Xuxa, e que vai seguir com a geração Thiago Pereira e os outros que vêm se destacando.
O esporte é movido por ídolos. O mesmo também aconteceu com o tênis na época do Jaime Oncins, e depois do Fernando Meligeni, seguido pelo Guga. Essas gerações fizeram aparecer várias escolas do esporte. Ou seja, a exposição na mídia de forma positiva, com resultados expressivos, influencia as crianças a praticarem a modalidade.
A canoagem, exceto a de competição de alto rendimento, não é um esporte caro. Para quem se interessar pela prática da modalidade por lazer, os caiaques são baratos, feitos em fibra de vidro. Os remos são cofeccionados do mesmo material com canos de alumínio. Além disso, se bem cuidados, os equipamentos podem durar de 10 a 15 anos. Ou seja, é um investimento um pouco maior do que o de uma bola, mas que tem um retorno maior a longo prazo. A canoagem é, portanto, uma prática com condições bem acessíveis.
O que emperra o desenvolimento do esporte é a falta de tradição. Nas raias de remo, por exemplo, com o qual eu tive bastante contato em São Paulo, há senhores de 70 anos que levaram seus filhos para o esporte e, agora, já levam os netos também. Então, é algo que vem com o tempo. O remo tem 120 anos de tradição no Brasil, enquanto que a canoagem tem apenas 30. O esperado é que quando a prática tiver com cerca de 130 anos no país, ela esteja no mesmo patamar que o remo está hoje. Vai se tornar um esporte de tradição.
Contudo, é importante lembrar que essa tradição só virá com bons resultados. Isto é, se a canoagem obtiver boas colocações em nível mundial e pan-americano, a tradição vai crescer. Mas, se não forem mantidos os resultados de alto nível, a tradição deixa de existir.
Para 2008, o maior objetivo é classificar o maior número de embarcações para os Jogos Olímpicos em Pequim. Não será uma tarefa fácil, mas já tivemos em situação parecida nos anos olímpicos anteriores. A intenção é classificar, se possível, o time completo. O feminino também vai brigar pelas suas vagas. Todos estamos motivados por essa meta.
Contrário a minha opinião de favorecer o desenvolvimento do esporte, as Olimpíadas ficaram muito seletas. Apenas 16 barcos do mundo participam e o Comitê Olímpico só libera dinheiro suficiente para a canoagem durante quatro anos se ela está os Jogos Olímpicos, já que entre os que vão para a Olimpíada há uma diferença muito pequena na cronometragem dos tempos. Por isso, estando em Pequim e passando da primeira fase, é possível se conquistar uma medalha.
Porém, antes de pensarmos em uma medalha olímpica temos que conseguir a classificação. O ideal é irmos um passo de cada vez para não perdermos o foco. Então, agora é se preparar para as eliminatórias e, passada essa fase e conseguindo a vaga, os objetivos serão resultados positivos em Pequim.
Além da Olimpíada, têm duas Copas do Mundo, mas não sabemos se a equipe brasileira irá participar. Isso dependerá da verda do Comitê Olímpico, da Confederação, e do dinheiro destinado à preparação dos atletas. São torneios importantantes, já que serão entre a classificatória e a Olimpíada.
Excelente ano – Para a mim, o ano de 2007 foi maravilhoso. Conquistei o meu grande sonho que era a medalha de ouro nos Jogos Pan-americanos. O fato de ter conseguido isso no Brasil tornou a vitória muito mais especial do que qualquer outra medalha da minha carreira.
Ter uma vitória dessa expressão na frente dos amigos, da família, da esposa e das filhas não tem preço. Isso marcou demais!
Eu tenho que agradecer às pessoas que torceram por mim, a vocês que cobriram os eventos, acompanharam nossas vitórias, viram nossos treinos.
Tenho que agradecer muito também aos meus patrocinadores: à Barbosa e Marques, dona da marca Regina, dos queijos Regina, à Univale, universidade que me patrocina, ao Big Card, que entrou no circuito esse ano pensando no projeto Olimpíadas de Pequim, e aos apoios que eu tenho da Clínica de Fisioterapia Croe e da Rocky Point Mormaii.
Este texto foi escrito por: Sebastián Cuattrin
Last modified: dezembro 30, 2007