Não é raro encontrarmos relatos de acidentes, complicações e problemas durante a prática de atividades Outdoor. Alguns esportes, notadamente os esportes relativos às atividades em montanha, podem ser muito agressivos para os pretensos praticantes.
Escalar é uma atividade de risco, não há dúvida a este respeito. Mas até que ponto as pessoas conhecedoras destes esportes, sejam escaladores em rocha, em gelo e alta montanha, têm consciência dos riscos, quando põem suas mochilas nos ombros rumo ao desconhecido ou ao quintal de casa?
Neste ponto falta uma definição do perfil do conhecedor. É preciso ser uma pessoa que tenha passado, e que seja, por uma formação adequada em um clube de montanha, conhecedor das técnicas e equipamentos necessários para o adequado desenvolvimento de sua prática, tanto no esporte quanto no resgate. Aquele que recicle os conhecimentos através de cursos, tanto como instrutor ou aluno. Aquele que conheça e respeite os próprias limites físicos, técnicos e psicológicos, além de respeitar o meio ambiente em que vive e pratica o esporte.
Não basta simplesmente ter adquirido tanta experiência se não se pratica. Cada um, ao seu modo, deve praticar e desenvolver estas habilidades, seja como um assíduo escalador de rocha e gelo ou como um participante de expedições de exploração ou simplesmente colaborando na educação de uma nova safra de interessados nos esportes de montanha. Além de tudo isto faz falta ao nosso conhecedor a ética de montanha, filosofia e história do montanhismo.
Tudo isso? Sim tudo isso e muito mais. Tornar uma atividade de risco cada vez mais segura passa obrigatoriamente por todas estas, e muitas outras, etapas que demandam muitos anos de prática e conhecimento. As etapas do conhecimento são fundamentais. Assim como normalmente não se começa a estudar na terceira série, não se pode iniciar uma atividade de risco em um ponto acima do que realmente estamos preparados para enfrentar.
Fazer isto pode transformar o prazer em dor e um dia de atividade prazerosa em uma tragédia. Infelizmente, estas etapas, que não estão devidamente estudadas, pelo menos no Brasil, são desvirtuadas por uma massificação da propaganda que insiste em dizer que você, pessoa normal, com um banho de loja pode ser um grande alpinista, pela reprodução duvidosa de conhecimentos por parte de pessoas ainda não preparadas, que eram alunos e hoje se dizem instrutores.
Mídia falsa – A cobertura da mídia é inadequada, pouco se importando se o esporte apresenta riscos para aqueles que o praticarem sem formação. A pressão é tremenda, levando entre outras coisas, jovens com pouquíssima informação a comprar os equipamentos disponíveis no mercado, como se fossem comprar uma arma em uma loja, e no dia seguinte já estão pendurados em algum viaduto da cidade ou pedreira da vida cometendo pouco menos que um suicídio.
Segurança, em última análise passa por uma formação adequada, uma boa escola de montanhismo não nos deixa imunes a todos os problemas que se podem enfrentar na montanha. Mas sem dúvida pode minimizá-los, tornando mais prazerosa e produtiva nossa experiência.
Este texto foi escrito por: Marcelo Krings
Last modified: agosto 2, 2000