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Sierra Nevada: segundo lugar com sabor de vitória

Redação Webventure/ Outros

Antonio De La Rosa  capitão do Sierra Nevada (foto: Gustavo Mansur)
Antonio De La Rosa capitão do Sierra Nevada (foto: Gustavo Mansur)

Bariloche (Argentina) 22:15hs – Com certeza uma das cinco equipes mais fortes do mundo tem origem latina. São os espanhóis do Sierra Nevada, time liderado pelo bombeiro Antonio De La Rosa, 30 anos. Ano passado tiveram uma experiência pouco agradável no Eco-Challenge do Marrocos. Estavam com uma vantagem de mais de 18 horas para o segundo colocado, faltando apenas dois postos de controle para o final da corrida. Foi quando se perderam na planilha porque nenhum membro da equipe saiba ler o inglês do roadbook. Acabaram completando a prova em terceiro lugar e com um sabor amargo de derrota.

Este ano a situação foi inteiramente diferente. O Sierra Nevada passou boa parte da carreira abaixo da quinta posição, quando no último dia, para a surpresa geral, dispararam subindo posições de forma incrível. Foram cinco equipes ultrapassados em apenas 24 horas. Chegaram na Bahia Lopez, final da corrida, apenas 50 minutos atrás dos vencedores do Team Greenpeace e com o aplauso entusiasmado do público argentino.

Em entrevista exclusiva a Webventure, Antonio De La Rosa fala da corrida, dos planos para o ano 2000, e do desejo de participar da Expedição Mata Atlântica no ano que vem.

Webventure: Foi um segundo lugar com gosto de vitória. Porque foi assim?

Antonio De La Rosa: Foi uma alegria muito grande porque pela posição que tínhamos nos dias anteriores não podíamos supor que terminaríamos a corrida em segundo lugar. Você sempre está animado, mas estar em sétimo lugar na corrida faltando 24 horas para o final da corrida, faz com que você fique esperando pelo pior. Mas quando você começa a ver os outros competidores caindo, e você os superando, acabamos ficando com um gosto de vitória.

Webventure: Como foi possível deixar para trás cinco equipes em um só dia?

Antonio De La Rosa: Na verdade nós resolvemos correr um risco. Chegamos em segundo por que aceitamos correr um risco no último dia. Pensamos que faltava um dia e meio de corrida, e tivemos que parar mais do que queríamos, porque houve o problema do mau tempo e passamos muito frio. E quando o tempo melhorou, e tudo pareceu favorável. A montanha era o nosso ponto forte, e resolvemos arriscar. A verdade é que desde Pampa Linda (PC16) até o final nós não paramos para nada. Trocávamos de roupa rápido no Refúgio Tronador para subir a montanha, e assim foram saindo as coisas.

Webventure: Para vocês qual foi o momento crítico da corrida

Antonio De La Rosa: Com certeza foi a parte da caiaque de águas brancas. Perdemos muitas horas aí, passamos muito frio com muito pouca roupa e aquele foi um momento muito duro para a gente. Não podíamos imaginar o tempo que ia fazer, começou a nevar e tudo.

Webventure: Vocês pegaram a neve ali no rio?

Antonio De La Rosa: Pegamos neve no rio e com muito frio, acho que sete ou oito graus abaixo de zero. Tínhamos um neoprene de três ou quatro milímetros mas que não está preparado para temperaturas abaixo de zero.

Webventure: Vocês tem uma ótima relação de grupo. Como se faz para fazer um grupo assim?

Antonio De La Rosa: Eu acredito que o importante em um grupo é não ter um líder muito claro, muito destacado. É nestas situações que eu acredito que surgem os problemas. Quando um líder começa a dizer que “o que eu faço é o que todos farão”, aí surgem as equipes que caem de produção, porque surgem conflitos com o líder. Em nosso time não existe um líder claro. Todos temos idéias, todos damos nossas opiniões para a equipe e temos todos, mais ou menos, o mesmo poder sobre a equipe. E esta é a melhor maneira de se levar as coisas, sem problemas de brigas, e podemos seguir adiante com bom humor.

Webventure: Houve alguma briga durante esta competição no grupo que você lembre com bom humor?

Antonio De La Rosa: Teve uma discussão na água, por exemplo, os irmão Torres (José Torres e Miguel Torres) queriam parar, nós queríamos continuar. Eles diziam que iam morrer de frio, que estávamos brincando com nossas vidas ali no frio. E mais tarde quando lembramos daquilo caímos na gargalhada. Estávamos no meio do rio, no princípio dos caiaques onde caímos todos dentro do rio. Eles ficaram na borda gritando que íamos morrer de frio ali na água, e a verdade é que a temperatura da água era de seis ou sete graus, enquanto que fora fazia muito mais frio. Nós ali muito bem dentro da água e eles preocupados: “saiam daí que vocês vão morrer, vocês vão ficar congelados”. Agora a gente lembra disso como algo muito engraçado

Webventure: A língua espanhola aqui na Argentina ajudou?

Antonio De La Rosa: Com certeza que sim. Dentro da corrida nem tanto, mas para as pessoas que estão te ajudando, para entender as coisas da corrida. Além do mais você se sente muito a vontade em uma país que fala espanhol.

Webventure: Quais são os planos para o ano 2000?

Antonio De La Rosa: Nosso primeiro objetivo é conseguir um patrocinador que nós ajude um pouco mais. Queremos parar de pagar as coisas por nossa conta, ou ter que usar os dinheiro dos prêmios que ganhando para continuar a fazer corridas de aventura. Precisamos começar a tirar um pouco de dinheiro para nós mesmos. Este ano temos por principal missão o Raid Galouises, antes disso vamos correr um raid na Espanha que é muito importante, o Raid de Gredos. Queremos fazer todo o circuito mundial de de corridas de aventura. No meio do verão voltar a fazer o Eco-Challenge em Bornéu, que vai ser em agosto. E no fim da temporada fazer o Mild Seven Outdoor Quest, que vai ser na China, em outubro, e uma corrida no México chamada Camdex que é importante também. Então estamos com oito ou dez provas para a temporada do ano que vem.

Webventure: O Brasil vai Ter a oportunidade de ver os espanhois em ação?

Antonio De La Rosa: Não sabemos ainda. Penso em estar em contato com o pessoal da Expedição Mata Atlântica, e se houver uma boa oferta, é uma competição que nos interessa, e se podemos fazer sem custos pode ser uma boa idéia. Neste ano quase fechamos a nossa ida, mas para era muito importante fazer a final do circuito mundial de corridas de aventura e a EMA caia na mesma data.

Webventure: E sobre o ELF?

Antonio De La Rosa: O ELF é certo que não iremos porque temos o Raid Galouises no Nepal na mesma época.

Este texto foi escrito por: Gustavo Mansur

Last modified: dezembro 10, 1999

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