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Sobre a morte – parte 2

Na coluna deste mês, escrita direto da Argentina, onde se prepara para mais uma investida no Aconcágua, o alpinista Vítor Negrete conclui a reflexão sobre a atração sobre o risco que existe entre praticantes de esportes como a escalada.

Estou em Mendoza, me preparando para escalar cascatas de gelo e uma ascensão invernal até Plaza Francia. Estas escaladas apresentam um risco, assim como muitas das atividades outdoor. Também existe o risco da morte, seja em uma queda ou por congelamento.

Não me sinto atraído pelo risco, mas pelo desafio. Converso bastante com outros alpinistas e acredito que temos uma visão do risco que enfrentamos diferente da visão das pessoas que não estão acostumadas com os perigos da escalada.

Vou dar um exemplo: ultrapassar um carro na estrada é extremamente perigoso, qualquer erro pode causar uma colisão frontal, com conseqüências trágicas. Entretanto, todos nós, que dirigimos, realizamos ultrapassagens. Na estrada também existem os imprevistos: buracos, motoristas bêbados e imprudentes, tempestades, chuvas, neblina, ausência de sinalização, etc. Mesmo assim todos nós entramos no carro e enfrentamos todos estes desafios.

Acreditar – Acho que o ponto central da escalada e do trânsito é o mesmo: acreditamos que podemos superar, vencer todos os riscos. O motorista, assim como o escalador, sente que não vai errar, tem o sangue frio para a ultrapassagem, estima o perigo, e segue.

Na escalada acredito, e posso dizer acreditamos, que vamos vencer os obstáculos. Isto nos dá segurança para realizarmos as conquistas mais inacreditáveis, que podem ser assustadoras para outros assim como para uma pessoa que não dirige enfrentar a BR 116 pode parecer uma loucura. Ultrapassar um carro a 120 km por hora e ter de desviar de um muro de ferro que vem na sua direção a outros 120 km por hora me parece assustador.

É claro que a escalada, seja em rocha ou gelo, tem as suas peculiaridades, e a análise acima seria simplista para entender todos os riscos. Prever os obstáculos, treinar e treinar, planejar e voltar, se for o caso. O principal é saber o que se está fazendo.

Clique aqui para ler a primeira parte deste artigo.

Este texto foi escrito por: Vítor Negrete