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Texto de abertura da exposição Vedacit é ode ao Sertão

“(…) no sertão fala-se a língua de Goethe, Dostoievski e Flaubert, porque o sertão é o terreno da eternidade, da solidão (…) No sertão, o homem é o “eu” que ainda não encontrou um “tu”.
João Guimarães Rosa

O jornalista Fabiano Godoy fez o texto de abertura da exposição Vedacit no Sertão Brasileiro e conta aqui com poesia a passagem das equipes pelo Rally dos Sertões e a assistência da equipe dada à população.

Na sola dos pés descalços, o chão rachado, sofrido pelo castigo sem perdão do sol que, no Nordeste, quanto mais velho, mais forte é. Na moringa, dois goles d’água e a certeza de sobreviver algumas horas sob a vigília do astro rei. Na garganta, a secura. E, muitas vezes, amargura, da poeira, um talco que se mistura com a luz do sertão, como uma cortina alaranjada se apossando de todos os sentidos do corpo.

De repente, do silêncio, nativo de lugares onde a vida é difícil, surge um assobio, inconstante e sincronizado, que se aproxima impetuosamente. Por um segundo, o coração pára e volta a bater, cada vez mais rápido. Neste instante, no meio de um cenário sem vida, nem cor, a retina do roceiro reflete o Carro Amarelo, um velho conhecido dos sertanejos que, de Goiás ao Ceará, há seis anos, remete o agreste à realidade de um devaneio, onde grita mais alta a certeza de que dias melhores virão.

Em 2004, a Vedacit Rally Team desbravou o sertão. Por mais de 4 mil quilômetros de trilhas os dois carros e o caminhão de Marcos, Cristian e Alexandre Baumgart mudaram a rotina dos vilarejos e das cidades por onde passaram.

Pás e enxadas viraram bandeiras. Na beira da estrada de chão, a torcida do nordestino era pelo mais rápido. Em um calor de 40 graus, a busca pela água ficou em segundo plano e a prosa da noite foram os carros de competição.

Ao mesmo tempo, a emoção invadiu 14 escolas no trajeto do rali, com o projeto Vedacit no Sertão Brasileiro, que temperou a vida do sertanejo com amor, carinho, fé e conhecimento. Nos olhos de 2.500 crianças, as imagens de 12 voluntários, um teatro de fantoches, livros educativos e brincadeiras sobre o mundo da higiene bucal, vão ser levadas por toda a vida.

Foram 12 anjos, anjos do Sertão. Anjos que transbordaram alegria, bom humor e brilho para os filhos de um povo sofrido, que vislumbrou no amarelo Vedacit uma luz no futuro de suas crianças.

Este texto foi escrito por: Fabiano Godoy