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Tito Rosemberg – reflexões de um tecno-nômade


Tito (dir.) no pequeno Bandeirantes rumo a Parintins em 1998 (foto: Arquivo pessoal)

Conversar com Tito Rosemberg cria em qualquer interlocutor uma vontade incontrolável de colocar os pés na estrada. Tito possui um invejável curriculum de viagens. Já esteve em mais de 80 países, conheceu os cinco continentes do planeta. 53 anos, jornalista de formação, Tito é acima de tudo um homem inquieto em busca de novos desafios. Viveu durante três anos em um Land Rover e atravessou o Saara duas vezes. Mas a fama veio mesmo em 1985 depois da participação pioneira no Camel Trouphy e com o livro “As aventuras no Camel Trouphy”, até hoje um best-seller entre os jipeiros do Brasil.

Vivendo fora do Brasil há mais de três anos, Tito desistiu de ter moradia fixa e passa a maior parte do tempo na estrada. Atualmente seu meio de transporte tem sido um Land Rover adquirido na França, onde fica sediado nos poucos momentos em que não está na estrada. Tito acaba de retornar de mais uma viagem ao Marrocos guiando com seu carro um grupo de turistas norte-americanos. “É sempre legal você poder mostrar um lugar que você conhece”, comenta.

Tito foi um dos primeiros viajantes no Brasil a descobrir na internet um aliado contra a solidão. Em seu site (www.titorosemberg.com) qualquer um pode acompanhar de perto suas viagens e suas reportagens. Sempre escritas com seu estilo único e inconfundível. Um olhar crítico sobre o mundo e sobre os aventureiros modernos.

Em entrevista para o Aventura Brasil, concedida durante a Adventure Sports Fair, Tito fala de sua surpresa diante da nova onda de aventureiros no Brasil. “Eu me sinto um E.T. nesta feira”, confessou. “Mas acredito que vá sobrar um saldo muito positivo desta onda toda”.

Webventure: Você que vive fora do Brasil como está vendo esta explosão da Aventura no país?

Tito Rosemberg: Eu acho legal, porque de toda esta moda muita coisa boa vai ficar. Há sempre um resultado positivo mesmo das coisas que são passageiras e que não são profundas. Existe, é claro, uma superficialidade na atração que todo mundo tem por isso, mas eu acho que vai ter um grupo de pessoas que vai se empolgar, vão ser sérios e irão desenvolver um bom trabalho. O Brasil não tem uma tradição de aventura muito grande, de viagens muito menos. E eu tenho a impressão que teremos um resultado muito positivo desta onda. É na boa direção. Me assusta um pouco o caráter consumista disso, mas faz parte do processo, porque os verdadeiros aventureiros não gastam tanto dinheiro assim em equipamento. Mas em compensação são patrocinados pelas empresas de equipamentos que vivem das pessoas que não fazem aventura, mas compram os produtos de aventura para ficar na moda. Então é uma estrutura auto-sustentável. Quem não viaja, quem não faz aventura, compra os produtos que mantém as empresas que patrocinam os verdadeiros aventureiros e viajantes. Mais aventureiros do que viajantes na verdade. Porque a viagem não dá tanta mídia, o que dá mídia são projetos como subir o Aconcágua, coisas do tipo.

Webventure: Mas para quem a tanto tempo vive com o pé na estrada, e já se acostumou a ser chamado de aventureiro, você conseguia imaginar o ponto em que isso tudo chegou?

Tito Rosemberg: Nunca! Aqui na Adventure Fair eu me sinto um E.T. Quando eu ando pelos corredores eu tenho a impressão de ser um estrangeiro. Eu fico meio assustado com esta multidão de aventureiros e “aventuretes”. Os produtos, as lojas vendendo e esse tipo de comercialização intensa da aventura. Agora tudo é aventura. Tem loja de aventura, revista de aventura, e a minha impressão é que quanto menos as pessoas se sentem livres para decidir da vida, quanto mais difícil a vida é no dia a dia, o desemprego, o sub-emprego, mais as pessoas tendem a querer escapar da realidade sonhando com um outro mundo. Um mundo onde a gente pode viajar eternamente. Nem todos tem essa sorte. Eu acho que a frustração atual do brasileiro com a situação econômica do país favorece o crescimento da aventura, porque é uma válvula de escape para as frustrações cotidianas. A frustração que você tem no emprego, no trabalho, nos projetos pessoais. Então esta frustração aumenta por outro lado o desejo de fazer alguma coisa louca, tipo subir um morro, escalar uma montanha inimaginável.

Webventure: Mas isso é só no Brasil?

Tito Rosemberg: No mundo inteiro, mas lá fora acontece por outra razão. Lá fora é porque a sociedade está se estruturando de forma tão organizada e careta que sobra pouco espaço para a loucura, sobra pouco espaço para uma coisa de emoção. A sociedade é estritamente organizada na parte de seguro social, as pessoas desempregadas ganham bem, as ruas são todas organizadas, o sistema político, econômico e financeiro, é tudo muito estruturado. Todo mundo sabe que para viver na França ou nos Estados Unidos não pode ser selvagem, tem que ser muito organizadinho. Imagine o nível de repressão que um cidadão suíço sofre. O cara espirra mais alto vai preso, todo mundo olha, chama a atenção. A perda da liberdade individual que as pessoas sofrem dentro de uma sociedade super estruturada, também faz com que eles tenham vontade de partir para o sonho. Muita gente compra um 4×4 e vai para a África. Mas um número muito maior compram veículos incríveis e não saem do seu bairro. Curte ali no asfalto a sensação de que pode dar a volta ao mundo. Mesmo que nunca vá dar a volta no seu próprio país, o veículo dá aquele prazer, a sensação de liberdade. Então na Europa a razão é outra. Eu já pressentia isso porque tanto nos Estados Unidos como na Europa o segmento que mais cresce no mercado de veículos é o de utilitários. Mais do que off-road, 4×4, o que cresce mesmo são os utilitários. Porque dá aquela sensação de que você está indo para o sítio, de que você pode vencer obstáculos, que se houver uma inundação você pode enfrentá-la.

Webventure: É apenas o prazer de se sentir insuperável. De ter um super carro

Tito Rosemberg: Como você não tem o direito de ficar maluco e fazer alguma coisa incrível, você vai buscar através destes objetos que te cercam aquela fuga dessa repressão que existe. Hoje no Primeiro Mundo as pessoas são muito reprimidas. Não existe espaço para você fazer nada de diferente. Os empregos são poucos, se você arranja um emprego você fica lá. Então as pessoas fogem desta maneira. É um segmento que cresce imensamente no mundo. Nos Estados Unidos qualquer utilitário tem produção crescente. O modelo que mais vende de cada fábrica é o fora de estrada.

Webventure: Mas se todo mundo pegar o seu fora de estrada para andar fora de estrada mesmo não vai sobrar nada.

Tito Rosemberg: Exatamente. Mas o que acontece é que há necessidade daqueles que realmente fazem, e são poucos, os que são genuínos no seu desejo de conhecer o mundo. E há aqueles que tem somente a frustração de ter que trabalhar de oito as cinco todos os dias e andam com o carro para curtir. No prefácio do livro do Sir Francis C. Chester, primeiro homem a dar a volta ao mundo em um barquinho, está escrito que é ótimo que existam as pessoas que fazem este tipo de coisa, porque elas satisfazem o nosso desejo de fazer coisas extraordinárias. Agora que bom que nem todo mundo faz isso, porque senão a sociedade acabaria se todo mundo resolvesse dar a volta ao mundo. A sociedade vive disso, de pessoas que tem o interesse genuíno de conhecer o mundo, de viajar e aumentar seus horizontes, e outras pessoas que não nasceram para fazer isso e são o que eu chamaria de aventureiros de poltrona. O que eles curtem mesmo é ver o Discovery Channel, ver estes GNTs da vida. Que são os canais que eu vejo, quando eu me vejo obrigado a ficar em lugar muito tempo. Quando eu morei em Búzios, agora, quase 15 anos sem poder viajar por estar envolvido em projetos políticos e jornalísticos, eu via estes canais de viagem todos os dias. Até que um dia eu decidi deixar de ver televisão e larguei tudo, voltei a não ver documentários mas a vivê-los.

Webventure: Você acha que esta moda passa logo? Vai deixar alguma coisa?

Tito Rosemberg: Toda moda que passa deixa alguma coisa de boa. Eu digo sempre isso. A moda da comida natural por exemplo. Veio, todo mundo queria comer comida natural, foi embora. Mas ficou um monte de gente com a consciência de como é importante se alimentar bem. A moda da aérobica: todo mundo querendo malhar, fazer jogging, passou mas ficou um monte de gente que continua a praticar esportes e tem uma vida muito mais saudável.

Webventure: Então estamos vivendo o momento do excesso?

Tito Rosemberg: Com certeza. Eu acho muito interessante este nome que está surgindo agora, todo mundo gosta do extreme, do no fear, quando na realidade são duas coisas que não existem. O extremo ele não existe, é uma utopia. E o no fear é outra utopia, ele não existe também. Eu acho que vai mudar, isso vai ter seu pico, está começando agora e vai ficar ainda muito maior. Acho que o ocaso do “aventureirismo” ainda vai demorar muito. E antes disso os brasileiros ainda vão fazer muitas aventuras inacreditáveis, ainda vão fazer feitos incríveis. Vão surgir ainda muitos “Ayrton Sennas” do aventureirismo, das expedições. Eu acho que o brasileiro ainda não aprendeu a curtir este barato. O grande problema que eu vejo é que ainda há um enfoque muito grande em conquistas, e não em vivências. Com o tempo as pessoas que hoje estão muito preocupadas em conquistar o Aconcágua ou o Kilimanjaro, vão descobrir que também há um prazer imenso em conhecer o caminho que leva a estes lugares. A conquista talvez não seja tão importante quanto os métodos que você utilizou para chegar nesta conquista e o conhecimento que você teve do país onde você está, da região onde você está. Eu fico super feliz de ver que há um enfoque enorme das expedições de hoje em dia no Brasil: dar a volta no Brasil, os rios do Brasil, as montanhas do Brasil… Então há um retorno, as pessoas só pensavam em conhecer o que tem lá fora. Hoje com esta história, a juventude está interessada no Brasil, isso é um saldo positivo. Porque mesmo que eles venham a conhecer o Brasil porque é uma aventura, no final da aventura eles vão ter conhecido o Brasil, e isso é um saldo positivo.

Webventure: E como você se vê no meio desta onda toda? As pessoas aqui chamam você de aventureiro e você se considera um viajante. Você se incomoda de ser chamado de aventureiro?

Tito Rosemberg: Nem um pouco. Aventureiro, segundo o Aurélio, é todo aquele que entra em uma empreitada cujo o resultado não é garantido. Então correr risco é uma coisa que acontece todo o dia. Eu vejo os brasileiros fazendo isso muito, acho que hoje em dia ser um comerciante no Brasil é ser aventureiro. Você tentar uma empresa, tentar criar um Webventure em um país como o nosso é pura aventura. Eu acho que isso também é aventura. Nunca me incomodou esta história de ser taxado como aventureiro, porque eu acho que de certa forma eu também vivo uma vida aventurosa, ainda que eu não me considere um aventureiro porque eu não busco a aventura. Do mesmo jeito que eu nunca participei de um Jeep Club, porque o Jeep para mim não é mais do que uma ferramenta para chegar ao meu objetivo. Da mesma forma que não existe um clube da picareta, um clube da bota. Mas o Jeep virou coisa de clube. Eu nunca pensei em usar Jeep, eu queria é viajar. E o Jeep é o melhor veículo para viajar se você viaja fora de estrada ou em estradas ruins. Então eu não sou um jipeiro. Eu uso o Jeep com o objetivo de chegar lá. Ainda há muito no Brasil as pessoas que compram um Jeep maravilhoso, um Mitsubish lindo e planejam o que vão fazer no final de semana para gastar gasolina, para rolar para se sentir bem, não necessariamente para viajar. Eu pessoalmente acho que é um desperdício incrível. É como você pegar uma moto-serra para cortar palito de fósforo. É muito pouco o que se usa. Mas as fábricas vivem disso e com esse dinheiro acabam apoiando outras pessoas que dão a volta ao mundo. Então tá valendo.

Webventure: Você fala isso mas é um apaixonado por Land Rover. Você foi um pioneiro em Land Rover no Brasil?

Tito Rosemberg: Não, pelo contrário. Os Land Rovers entraram no Brasil em 49, 50 quando eu ainda engatinhava.

Webventure: Mas você teve um Land Rover 68…

Tito Rosemberg: Comprei um 68 do Persegue a muitos anos atrás. Quase ninguém tinha o carro, só pescadores. Mas antes do Land Rover eu tinha Jeep. Para você ter uma idéia, no Rio de Janeiro, quando eu comecei a andar com o meu primeiro Jeep em 1967, era impensável alguém de uma família decente andar de Jeep. O Jeep é uma coisa que você tem na fazenda. Já naquela época em 67 eu tinha o meu Jeep Willis que eu comprei importado. Eu aprendi a dirigir em 1959 com uma Rural Willis, que meu pai tinha. Então minha paixão pelos veículos tracionados começou porque foi o primeiro carro que dirigi na minha vida. A gente tinha um sítio em Paraíba do Sul e eu dirigia o Jeep toda hora, para buscar a vaca que teve cria lá no meio do pasto. A gente entrava pelo pasto a dentro só para trazer a cria dentro do carro. Então eu sempre vivi em veículos tracionados. Sempre tive este fascínio pelo Land Rover porque era o veículo oficial de todos os pescadores do Rio de Janeiro, que iam para as praias. Iam para Grumari, Guaratiba, e usavam o Land Rover para dirigir na areia, para chegar aos points legais de pesca. Eu via os pescadores andando em lugares onde era difícil andar a pé. Aqueles Land Rovers série 1, verdinhos. Daí eu me apaixonei por eles porque são veículos super práticos. Absolutametne óbvios. Não tem nenhum luxo, nenhuma estética, são veículos fantásticos. Aí um dia consegui trocar meu Jeep por um Land Rover. O primeiro foi este que comprei no Brasil. Depois comprei um na fábrica, em 1974, e com ele viajei pela África durante muitos anos morando a bordo. Eu morei mais de três anos em um Land Rover, era um 109, quatro portas. Agora comprei um Defender 110 outra vez.

Webventure: E o que você anda fazendo com este Land Rover

Tito Rosemberg: Eu estou tentando fazer. Em primeiro lugar eu estou viajando muito com ele.

Webventure: Como você mesmo diz o carro tem que ser justificado pelo seu uso. Não é isso?

Tito Rosemberg: Eu já acho que ganhar dinheiro com o carro não é uma necessidade, viajar com ele é uma necessidade. Eu comprei este carro na França, da própria Land Rover. É um carro de testes deles, de demonstração em feiras. Eu comprei o carro com 16 mil quilômetros. Em três meses o carro já está com 35 mil quilômetros. Quer dizer, eu já dobrei a quilometragem do carro em três meses. Então já está valendo. Já fiz duas viagens ao Marrocos, já fiz toda a Espanha, já fui a Itália, todos os Alpes. Eu rodo muito com o carro. Ele é perfeito para mim, tem espaço para os meus convidados, meus clientes. Eu tento fazer um trabalho de levar clientes para viajar. Mais amigos, na verdade, porque cliente é muito chato. A idéia é fazer dos amigos os clientes, e dos clientes os meus amigos. E é um prazer viajar com pessoas que gostam de entrar em um Land Rover e enfrentar o Saara, enfrentar as montanhas Atlas, ir para Marrakesh. Tenho conseguido fazer poucas viagens, mas a viagem é mais uma desculpa para eu poder voltar para lá. É sempre legal você poder mostrar um lugar que você conhece. Já fui cinco vezes para lá. Agora estou trabalhando com mercado americano que é bem mais estável. Mas na verdade eu viajo mais com amigos do que com clientes.

Webventure: Você foi um dos primeiros a descobrir a internet como forma de publicar suas histórias. Quando foi que você sacou que a internet era um caminho para os viajantes? Você foi um pioneiro em colocar um notebook nas costas e sair por aí online contando suas histórias.

Tito Rosemberg: Eu descobri a internet a mais de quinze anos. Porque quando eu voltei para o Brasil em 1981, eu já estava com a internet na cabeça e já falava para todo mundo que a internet ia ser um grande espetáculo. Eu não sabia usar, não tinha computador, mas já fazia idéia do que a internet ia significar para o mundo. E eu acredito que a internet vá revolucionar o mundo e vai revolucionar a comunicação. Até hoje a comunicação está nas mãos de grandes grupos, grandes monopólios. Eu sempre quis ter uma rádio, mas conseguir uma concessão é uma coisa impossível, e a internet garante que qualquer um pode ter uma rádio na sua casa. A rádio Rosemberg por exemplo, eu posso botar lá como eu quiser, quando eu quiser. Não precisa de antena, não precisa de concessão, não precisa de nada. Muitas matérias que eu escrevi como jornalistas foram censuradas pelos jornais. Bom, na internet eu posso ter o meu jornal. Na internet eu publico o que eu quiser.

Webventure: Mas quando você teve a idéia de viajar on line?

Tito Rosemberg: Eu acho que deve ter sido há uns quatro anos, quando eu entrei na internet e comecei a viajar nas viagens dos outros. E tem hoje em dia o que eles chamam de travelogs, os diários de viagem. Tem muita gente viajando com laptop. Tem gente viajando de bicicleta com laptop e celular mandando matérias e usando suas câmeras digitais. Eu devo dizer que eu não descobri a pólvora. Eu descobri rápido que haviam pessoas que tinham descoberto a pólvora. Então já deve ter três anos que eu estou com o meu site no ar, e para mim é uma forma incrível de comunicação com as pessoas. Primeiro porque como viajante eu sofria de um problema muito grande que é a depressão. Você fica muito longe de todo mundo. Você vai a um país onde ninguém fala a sua língua. Eu fui para a Libéria e as vezes eu passava dois meses sendo o único branco que eu via. Todo mundo era preto. Dá uma coisa estranha em você, de estar tão isolado, ser tão estranho, tão diferente.

Webventure: E você é praticante hoje de um novo esporte que é o de conectar em viagem.

Tito Rosemberg: Com certeza. É um vício, é um hábito. Eu sou um tecno-nômade, eu me tornei um tecno-nômade. Tenho o maior prazer em continuar me comunicando com os meus amigos. Porque antigamente você ia aos Estados Unidos e visitava os seus amigos, quando você ia embora levava anos para encontrá-los de novo. Agora não, você convive com eles toda semana. Eu recebo por dia 10, 15 e-mails de amigos do mundo inteiro, me comunico com eles e tenho facilitado novas viagens porque eu planejo com eles. E eu acho que também me ajudou muito, porque viajando eu ficava muito solitário, e através dos e-mails agora eu viajo com todos os meus amigos. Virtualmente eles viajam comigo. É o maior barato, é uma família virtual que eu levo comigo pelo planeta. Uma outra coisa interessante é que eu sou um otimista incorrigível, e toda vez que eu ia embora e desistia do Brasil eu chegava lá fora e começava a só lembrar das coisas boas do Brasil e voltava. Quando eu voltava eu caía na real e doía horrivelmente (risos). Agora eu estou lá fora eu posso acompanhar os jornais online e não tenho estas recaídas, essa fantasia de que o Brasil vai melhorar. Estou com 53 anos de idade e acho que o Brasil ainda é o país do futuro. Só que o meu futuro já não é mais tão grande assim. Então eu não tenho mais certeza se o Brasil tem um espaço para mim, para eu poder ser feliz, produzir, me desenvolver. A internet me ajudou a me manter realista em relação as possibilidades que o Brasil me oferece. Eu sou um jornalista de viagem. Então eu não me considero um aventureiro. Eu sou um viajante, eu gosto é de viajar. Eu me sinto a vontade em Paris ou no Saara. Não sou aquele cara que só gosta de estar na África, no Grand Canyon. Para mim é uma delícia estar em Nova Iorque, em Biarritz, é uma delícia estar no Rio de Janeiro. Então o viajante ele não vai somente a lugares maravilhosos, de natureza intocada, ele pode também curtir estar passando por uma cidade. Dakar é lindíssima. Então eu curto cidades. E tenho o maior prazer de estar viajando on line. Minha página me dá muitas alegrias, é uma página cultura. Eu passo histórias para todo mundo, não tem nada lá sendo vendido. Eu gosto de contar, eu acho que posso deixar para o Brasil um monte de histórias para as pessoas lerem e conhecerem o mundo. Eu nunca tive filhos. Então eu acho que desta forma eu faço um trabalho educativo para muitos filhos virtuais espalhados pelo mundo. É uma forma de contribuir para a sociedade melhorar um pouco. Acho que a presença minha, e de qualquer um no planeta, é para vir interferir. A gente tem que fazer a sociedade avançar. Eu estou contribuindo da minha forma. Hoje é virtualmente. Espero que as pessoas curtam.

Este texto foi escrito por: Gustavo Mansur