O Ericsson na edição passada (foto: Divulgação)
Após terem confirmado o nome do brasileiro Torben Grael como o novo comandante de seu principal barco, o Ericsson Racing Team anunciou nesta terça-feira, em São Paulo, a participação de mais dois brasileiros na campanha da regata de volta ao mundo Volvo Ocean Race 2008/ 2009, são eles João Signorini e Horácio Carabelli. Juntos, eles integrarão a tripulação internacional do time.
Os três disputaram a última edição da competição a bordo do barco nacional Brasil 1. Desta vez voltam a exercer as mesmas funções na embarcação sueca. Joca será timoneiro/ trimmer, também responsável pela área médica e alimentação da tripulação; Carabelli integrará a tripulação, além de participar da equipe técnica; já Torben Grael estará no comando do barco. A equipe contará com um segundo barco, tripulado apenas por velejadores nórdicos.
Desde que seu nome foi anunciado, em outubro, a grande especulação ao redor de Torben era se ele iria ou não abdicar da campanha Olímpica na classe Star ao lado de seu companheiro Marcelo Ferreira. Detentor de cinco medalhas, sendo duas de ouro, ele é o maior medalhista olímpico da vela. Tecnicamente é possível participar das duas competições, porque não acontecem na mesma época. No entanto, o difícil é se preparar corretamente para as duas. Já participei de seis Olimpíadas e sempre me preparei da melhor forma possível e desta vez não conseguiria me preparar da forma que gostaria. Danificar a preparação para a Volvo e fazer uma má campanha olímpica seria um erro duplo.
Assim como ele, João Signorini, o Joca, enfrenta o mesmo dilema. Foi ele quem conquistou a vaga olímpica para o Brasil na classe Finn e até então era o nome mais cotado para os Jogos. Sabendo da responsabilidade, comprometimento e principalmente o tempo que o projeto exige, o brasileiro acredita ser improvável a sua participação, mas não descarta totalmente a hipótese.
Minha campanha olímpica já havia começado tarde depois da volta ao mundo a bordo do Brasil 1. Participei de algumas competições na classe Finn, me mantendo sempre entre os dez primeiros e garantindo a vaga nas Olimpíadas. Com esta oportunidade da Volvo, minha prioridade mudou. Não é todo dia que Torben Grael te convida para fazer parte de sua tripulação, né? Mesmo assim, a campanha olímpica não é impossível, declarou. De acordo com ele, esta decisão será tomada mais para frente.
A grande expectativa tanto dos velejadores que integraram a equipe do barco Brasil 1 como todos os brasileiros amantes da vela, era de que o país repetisse a campanha de 2005/ 2006, com um barco na volta ao mundo. Durante dois anos especulou-se sobre patrocínio, tempo de preparação, mas o projeto não foi para frente. Por quê?
Os Jogos Pan-americanos, a diminuição da periodicidade da Volvo e a proximidade com os Jogos Olímpicos dificultaram a viabilização de um novo Brasil 1, opinou Torben. Para ele, o maior problema da equipe na edição passada foi a falta de tempo.
O barco começou a ser construído em janeiro e ficou pronto só em julho. Desde então ficou parado duas semanas no Brasil, mais 20 dias em Portugal e outros 20 na Espanha. Ele demorou muito tempo para ser transportado, tivemos pouquíssimo tempo para navegá-lo, contou.
Para que desse certo e o barco conseguisse um resultado melhor que a terceira colocação alcançada na última edição, o comandante acredita que o projeto deveria ter sido iniciado muito antes. A primeira experiência foi importante, mas partir para uma segunda sem tempo não faria sentido, de cara você já começa inferior que os outros.
Ensinamentos – Além de muitos amigos, Torben traz do Brasil 1 muitos ensinamentos, que segundo ele serão aplicados nesta nova experiência. Trago da outra edição desde ensinamentos de navegação, metereologia, maneira de tomar decisões até a parte humana, no trato com as pessoas. Passamos muito tempo juntos, é preciso saber como lidar com as pessoas para tê-las sempre motivadas. São muitos dias nas condições mais difíceis possíveis, com nada de conforto.
Signorini e Torben já realizaram treinos em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, base de treinamentos da equipe, e agora estão no Brasil para descansar até o começo de 2008, quando retornam ao local. Enquanto isso Horácio Carabelli está navegando o barco de testes, o antigo ABN Amro 1, campeão da edição passada. Depois ele segue para a Suécia com o objetivo de acompanhar a finalização do primeiro barco VO 70 produzido para a VOR 2008. Aí sim ele vai ter dados suficientes para fazer sugestões e modificações no segundo barco, que deve ser o melhor, disse Torben.
A previsão é de que o primeiro barco seja entregue em dezembro deste ano, quando a fase de preparação se tornará ainda mais intensiva. Este tempo é muito importante para desenvolver o barco em si, sua parte técnica, para que tenhamos um barco rápido e confiável, porque nesta regata a confiabilidade será ainda mais importante. As paradas serão muito menores, então se houver algum problema sério de quebra ou falha esta etapa estará perdida e provavelmente a seguinte também, comprometendo de maneira muito séria a competição inteira.
Esta edição promete ser ainda mais dura, o que poderá tornar a disputa ainda mais técnica e emocionante. Algumas etapas serão de vento fraco, enquanto outras terão contravento com vento forte. Este é o caso da etapa que sairá da China para o Brasil (Etapa 7) em que navegação será dura tanto para o barco, que sofre bastante com as ondas, como para a tripulação, avaliou o comandante.
Para ele o segredo é a navegação e metereologia, o que permitirá que a tripulação não pegue as piores condições e veleje mais rápido. Além dos fatores técnicos, o brasileiro precisará contar com sua tripulação. Com uma equipe muito mais heterogênea do que no Brasil 1, Torben acredita no sucesso da equipe internacional.
Este texto foi escrito por: Roberta Spiandorim
Last modified: novembro 13, 2007