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Tragédia e heroísmo no mesmo dia, nas palavras de Lucas Brun


Tripulantes do Movistar são trasnferidos para o ABN 2 (foto: Divulgação/ Team ABN Amro)

No dia 18 de maio Hans Horrevoets, tripulante do ABN Amro 2 foi arrastado para fora do barco e caiu no mar. O acidente aconteceu durante a sétima perna, de madrugada, com os ventos soprando entre 30 e 40 nós e ondas de cinco metros varrendo o convés.

Após a passagem de uma dessas ondas, os tripulantes notaram que Hans não estava mais em seu posto, na proa do barco regulando a vela balão. Imediatamente o comandante Sebastien Jose iniciou os procedimentos de “Homem ao Mar” e, após 40 minutos, conseguiram resgatá-lo, já sem vida.

Lucas Brun comentou a atuação de seu comandante: “Debaixo de 40 nós, baixar a vela, ter a atitude de ligar o motor, seguir à risca todo o procedimento, resgatar um corpo depois de 40 minutos e conseguir achar tudo o que jogou dentro da água, ele é ‘O’ skipper [comandante]”.

Volta por cima – O abatimento tomou conta da tripulação, que inclusive chegou a pensar em não competir as próximas pernas. Logo após a tragédia, Lucas declarou: “Acidentes acontecem. Isso foi um acidente que poderia ter acontecido com qualquer um, é a vida.”

Já no Brasil, Lucas Brun falou sobre como lidou com a morte do companheiro e o que fez para evitar que o abatimento prejudicasse seu desempenho.

“Desanima um pouco, porque um amigo seu sofreu um acidente, mas você não pode se apegar a isso, porque se não você deixa de viver, deixa de aproveitar e deixa de fazer tudo. Então, simplesmente eu resolvi focar em conseguir um bom resultado”, lembrou.

No mesmo dia em que tiveram que lidar com a perda do companheiro, os “garotos” do ABN Amro 2 foram resgatar os velejadores do veleiro espanhol Movistar. Após problemas com a quilha móvel, a embarcação começou a ser tomada pela água e corria o risco de afundar.

Lucas lembrou como ele e os outros velejadores receberam a notícia do resgate e a forma com que reagiram à esse fato antagônico.

“Tínhamos um amigo ensacado na proa do barco, velejávamos a 30 nós, quase quebrando o recorde de novo, com tempo estimado de 10 horas pra chegar em terra. Aí recebemos a mensagem que teríamos que voltar e passar mais dois dias e meio no mar para ajudar um barco que está sob risco de afundar….acho que não preciso falar muita coisa, dá pra ter uma idéia de como foi”.

As palavras do jovem Luquinhas revelam certa frustração no momento. Porém, após essa reação imediata, ele reconheceu o verdadeiro sentimento humano e sobre o “código de honra” no mar.

“Esse é o primeiro pensamento, é instantâneo, mas depois parei e lembrei dos vídeos da Volvo. O Bouwe (Bekking, comandante do Movistar) se despedindo da filha dele, o Mike (Joubert, proeiro do Movistar) falando com a mulher e os dois moleques e pensei: E se der algum problema com o barco? Na hora voltei para aquilo que realmente sou, marinheiro e velejador. Podia odiar aquele cara, mas a partir do momento que ele estiver ‘no veneno’, todos vão parar e voltar, na hora se dá um jeitinho, pois ele faria a mesma coisa. Essa é a regra no mar, uma regra que não está escrita”.

Este texto foi escrito por: Alexandre Koda