Uma corrida de aventura é cheia de imprevistos. Não há decisão certa nem errada. (foto: Camila Christianini / Arquivo Webventure)
Neste mês, Vítor Negrete abre espaço em sua coluna para corridas de aventura, esporte que ele também pratica: “Cris Carvalho é diretora esportiva do Projeto Mulher, do Adventure Training e do Projeto Movimento da Prefeitura da USP; eu a considero uma das melhores atletas de corrida de aventura da atualidade, mas ela não começou agora: em 1993 foi campeã brasileira de triatlo e, em 96, campeã mundial do Iroman”.
Toda prova de aventura longa tem um monte de imprevistos: bicicleta quebrada, uma bolha monstruosa, joelho machucado, barco quebrado, erro de navegação, enfim são infinitos imprevistos que acontecem para cada equipe. Alguns desanimam e resolvem parar… Outros seguem em frente.
Quem segue em frente, normalmente, são os corredores mais experientes que sabem que a história da corrida de aventura é essa… Um dia na ponta, outro dia na rabeira; uma hora forte, outra hora fraco; uma hora no caminho certo e outro, no errado…
As corridas de aventura são agressivas e vocês só vão terminar provas longas se passarem por este ponto onde se questiona terminar ou não. É o ponto de exaustão.
“Se não fosse…” – Alguém pode pensar que se não fosse a bike quebrada, se não fosse isso ou aquilo, ou até mesmo se estivesse mais treinada, poderia ter terminado. Isto é ilusão. Não existem duas verdades… existe apenas uma. Em todas as expedições longas, grande parte das equipes que largam não conseguem chegar ao fim. E só chegarão as que conseguirem passar por cima de princípios, dos empecilhos e estiverem focadas em ir até o fim.
Agora, tem que ficar claro que não existe certo ou errado. Parar é tão certo quanto terminar. A prova de aventura é um esporte doido e só chega no fim quem consegue interpretar a doideira…
Cada equipe tem que entrar preparada para andar na frente, para andar atrás, para bicicleta quebrada, barco furado, para bolha, para dor no joelho… enfim, a dinâmica dessas provas envolve isto tudo. E no meio do caminho vai se encontrar equipes perdidas, equipes machucadas, contando estórias tristes e convencendo a sua equipe de que ela não é a única…. A dica é não se abalar com essas times, por que isto é que nem praga, contagia…
O que são os imprevistos? – O corpo é mais inteligente que nossos pensamentos e tentará qualquer coisa para interromper essa exposição. Se der atenção aos imprevistos, eles acabarão com todas as expedições.
Ao contrário disto, se entrarmos sabendo que os imprevistos são as armadilhas para tirar nossa equipe desta história, aí ninguém mais impede nossa equipe de terminar uma expedição.
A partir deste ponto, seu time poderá saber se gosta ou não de fazer tais expedições… porque o preço é alto. Se você descobrir que não gostou de fazer expedição de aventura longa, saiba que existem expedições mais conceituais, que se interrompem durante a noite, ou que começam e terminam num mesmo dia e que, portanto, não submetem seu corpo ao estresse da privação de sono. Estas expedições garantem ao corpo uma condição mais saudável e, se estivermos mais saudáveis, seremos mais tolerantes…
O importante é saber que quem termina a competição não é, necessariamente, mais ou menos forte fisicamente do que quem não termina. Um erro comum é sairmos treinando como loucos quando, na verdade, existe um “teto”. Acima dele você pode comprometer sua vida social e não terá garantia de sucesso da sua equipe numa expedição de vários dias.
Este texto foi escrito por: Cris Carvalho
Last modified: outubro 21, 2003