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Um mergulho no mundo dos naufrágios

Redação Webventure/ Mergulho

Objetos ainda presos no navio. Imagine se os mergulhadores os tirassem dali... (foto: Raul Guastini/Hyperion Diving)
Objetos ainda presos no navio. Imagine se os mergulhadores os tirassem dali… (foto: Raul Guastini/Hyperion Diving)

Por Camila Christianini

A imensidão azul do mar esconde muitos mistérios. Esconde vidas, animais marinhos, que muita gente não sabe que existe. E muito mais do que isso: esconde também a história de povos e nações, através de embarcações que por mares revoltos ou outros motivos afundaram e hoje despertam a curiosidade de mergulhadores por todo o mundo.

O Webventure acompanhou de perto um grupo de mergulhadores nas águas de Recife (PE), para relatar as emoções da descoberta do mundo dos naufrágios naquele lugar. Com águas quentes média de 28º C – e visibilidade que varia entre 20 e 40 metros, o Recife abriga hoje a maior coleção de naufrágios mergulháveis em todo o Brasil, um total de 17.

O grupo visitou quatro deles Pirapama, Flórida, Vapor de Baixo e Servemar -, conhecidos mundo afora pela história que representam. “O naufrágio serve como oásis para os peixes, que se abrigam nele e vão em busca de comida”, explicou Edisio Rocha, diretor do Aquáticos Centro de Mergulho, em Recife, especializado em mergulho em naufrágio.

Preparação – Ainda no Aquáticos, no Cais das Cinco Pontas, as pessoas estavam aflitas e curiosas. Eram 13 no barco. Todos já haviam mergulhado pelo menos uma vez em naufrágio, e a ansiedade mostrava que a experiência havia sido das melhores.

Mergulhar em naufrágio é um fato que intimida, pois para realizar este tipo de atividade é preciso ter feito o curso básico, o avançado e o da especialidade.

Antes da partida é hora de checar todos os equipamentos: cilindros, coletes, válvulas. Depois, é só entrar no barco, entrar no ritmo do balanço das águas, ir até onde a vista não enxerga mais terra firme e se preparar para, literalmente, cair na água.

O Pirapama é o naufrágio mais procurado pelos mergulhadores no Recife. O navio afundou em 24 de março de 1887, após chocar-se com o Bahia, a sete milhas do Porto.

O verdadeiro motivo dessa colisão ainda é desconhecido, mas muitas lendas recheiam a história deste naufrágio. Uma delas conta que o comandante do Pirapama jogou seu navio, propositalmente, contra o Bahia. Tudo porque os dois comandantes amavam a mesma mulher.

O Pirapama está a 25 metros de profundidade e serve de moradia para uma tartaruga gigante e para uma moréia com mais de um metro de comprimento. “O navio está com a proa inteira, mas a seqüência começa a desmontar. Não dá para entrar nele; está desmantelado. É possível navegar por cima dele, apenas”, disse Raul Guastini, instructor trainnig que saiu de São Paulo para mergulhar nas águas de Recife.

“No mergulho noturno é possível observar muitas tartarugas, que dormem lá. O Pirapama é um ponto que tem muita vida marinha”, afirmou Rocha, que há três anos “vive” nos naufrágios.

Antigamente, o naufrágio era chamado de Reboque, porque ninguém sabia seu nome. Certo dia um mergulhador achou o nome Flórida grafado no funil da caldeira, e assim descobriu-se a verdadeira identidade no navio.

O Flórida afundou em 1917 e está localizado a 12 milhas a leste do Porto de Recife. É necessário uma hora e meia para chegar de barco até o local.

O cargueiro a vapor foi vítima do mau tempo que fazia durante sua viagem de volta a Inglaterra. Uma forte onda atingiu a embarcação, matando seis de seus onze tripulantes.

Hoje, este naufrágio está a 33 metros de profundidade e serve de casa para muitos peixes. “Restam apenas o vaso sanitário que estava no banheiro e a hélice, que está inteira”, observou Guastini. “O mais interessante é o fato de o navio estar em pé. Parece que foi plantado no fundo do mar”, completou o mergulhador.

O Vapor de Baixo afundou em 1850, em frente a Olinda, a oito milhas do Porto de Recife. Todos os mergulhadores que visitam o Vapor de Baixo ficam maravilhados com as rodas, ainda inteiras, mesmo com mais de 100 anos no fundo do mar. “Os corais que se formam em volta delas as conservam”, explicou Raul Guastini.

Abrigo de muitos cardumes e de uma moréia, o Vapor de Baixo tem uma característica muito particular. “No fundo do navio tem duas bombas inteiras, que não se sabe como foram parar lá”, alertou Rocha.

As bombas são um mistério assim como o motivo do naufrágio, mas há dúvidas de que ele possa ter sido bombardeado por alemães durante a 2ª Guerra Mundial.

O Servemar X é um naufrágio artificial, ou seja, foi afundado em janeiro de 2002, na praia de Boa Viagem, em Recife, só para ser explorado durante o mergulho. Está a 25 metros de profundidade.

“É um reboque, um navio pequeno. Ele está em pé e todo inteiro, com proa, popa, hélice e todo coberto por corais”, cometou Raul. “Mas não apresenta vida impressionante. Apenas peixes mais conhecidos.”

Muitos navios afundaram com peças de valor em seu interior e alguns ainda contêm algumas delas. Mas é expressamente proibido retirar qualquer objeto do fundo do mar. Existe uma lei que impede essa ação. “Há de existir uma consciência patrimonial. Se retirarem objetos do fundo do mar acabam com mergulhos em naufrágio”, lembrou Raul Guastini.

O mergulho é um esporte altamente contemplativo. “O naufrágio desperta a emoção, a curiosidade pela história dele, o que aconteceu no momento do naufrágio e o que as pessoas que estavam dentro do navio vivenciaram. Vou imaginando muita coisa quando estou mergulhando”, contou Roseane Ferro.

“O mergulho é uma das melhores coisas que existem. Você literalmente voa, flutua. Não existe nada melhor. É apaixonante, viciante”, relatou Gabriel Katter Filho, do Aquáticos Centro de Mergulho.

Dados importantes – A melhor época para fazer mergulho em naufrágio, em Recife, é entre os meses de setembro e maio. O melhor vento para mergulho na região é o nordeste, que limpa as águas, e o pior é o sudeste.

Apesar da água ser quente, com temperatura média de 28º C, é preciso mergulhar com roupa de neoprene, de 3 mm ou menos. “É sempre bom mergulhar com roupa para se proteger de uma água vida ou de qualquer outro tipo de contato, principalmente em um naufrágio”, alertou Guastini.

E lembre-se: ao mergulhar em naufrágio nunca retire nada do fundo do mar, para que as outras pessoas possam ter a oportunidade de observar tudo o que você também observou. Levar para casa?…apenas a lembrança!

Para saber mais:
www.naufragiosdobrasil.com.br e www.naufragios.com.br.

A repórter Camila Christianini realizou esta reportagem com o apoio de Hyperion Diving (tel: 11 4616.5100), Dive Teck (tel: 11 3871.2130), Pousada Casuarinas (tel: 81 3325.4708) e Aquáticos Centro de Mergulho (tel: 81 3424.5470).

Este texto foi escrito por: Webventure

Last modified: maio 11, 2004

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