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Um rali dentro do rali: os bastidores de uma equipe de apoio


O apoio José Koizumi o Avê à dir. e o piloto de moto Arndt Budweg (foto: David Santos Jr. / Webventure)

Quem vê uma foto de rali, principalmente dos pilotos de moto, tem a impressão de ser um esporte individual. Mas o trabalho em equipe é fundamental para o bom desempenho de qualquer competidor, e é aí que entram em cena as equipes de apoio. Responsáveis pela manutenção do veículo e bem estar dos competidores, elas fazem um rali à parte ao seguirem seus atletas muitas vezes clientes de cidade em cidade ao longo de todo o evento.

Às vésperas da estreia do Campeonato Brasileiro de Rali Cross-Country, com o Rally do Velho Chico neste próximo dia 11 de fevereiro, em Alagoas, o Webventure conversou com algumas equipes de apoio para descobrir os bastidores deste trabalho. A prova acontece nos arredores da capital Maceió e é organizada pela Federação Alagoana de Motociclismo em parceria com o blogueiro Webventure Deco Muniz.

Já na estrada em direção à Maceió, José Koizumi, mais conhecido como Avê, é um dos pioneiros neste serviço. Em 1992, ele largou a carreira de piloto de enduro para se dedicar unicamente ao serviço de apoio. “Hoje, quando um piloto meu ganha, também me sinto campeão”, diz Avê, que já teve em sua equipe o pentacampeão brasileiro Jean Azevedo, em 2001.

O chefe da equipe Bike Box será responsável por seis motos durante o Velho Chico, mas já chegou a ter 23 motocicletas sob sua responsabilidade, na época de enduros. “Antes do dinheiro, vem a paixão pelo esporte e a alegria de poder estar nas provas. Quem pensa na grana sai rápido do mercado, porque são muitos sacrifícios envolvidos, como deixar a família por um longo período”, analisa Avê, que esteve presente em todas as edições do Rally dos Sertões como apoio.

O serviço de apoio envolve mecânicos, peças de reposição, veículos para socorro dentro da trilha, caminhões e, em alguns eventos, até motor-homes que garantem casa, comida e roupa lavada aos pilotos. Tudo isso tem um custo que varia conforme a distância e a duração do evento, ficando entre 700 e 25 mil reais.

Quem não tem como bancar essa verba, ainda consegue se virar por conta própria. É o caso da equipe Vive Liso o nome não é por acaso , que vai estrear no cross-country no Velho Chico e vem de várias provas de enduro, como o Cerapió. George Hamilton é um dos pilotos. Ele coloca seu próprio carro, além de um amigo mecânico, como únicos apoios da equipe. “A estrutura é pequena e não temos patrocínio, mas a gente faz tudo que pode, porque adoramos”, explica o estreante.

Enquanto não trabalham nos veículos, a principal ocupação das equipes de apoio é contar histórias que passam entre as trilhas do país. Prova campeã como palco para essas inusitadas histórias é o Cerapió-Piocerá, que terminou no fim de janeiro.

Nela José Koizumi, o Avê, passou por um incidente que o fez repensar a profissão que escolheu. Chamado para socorrer um cliente dentro da trilha, que estava com água no motor, Avê levou a moto até uma ponte da linha férrea para fazer o reparo.

“Quando fui levantar a moto, ele também puxou. Eu me desequilibrei e fiquei pendurado no guarda-corpo da ponte a 20 metros de altura, com um rio seco embaixo e várias pedras”, recorda Avê, que foi puxado e ainda terminou o serviço. “Só quando cheguei de volta à trilha é que a ficha caiu. Eu poderia ter morrido. Minhas pernas tremiam tanto que não consegui dirigir o carro”, completa.

Apoio no Cerapió. Quem chefia a principal equipe de apoio entre as motos do Cerapió é Claudio Vieira Lima, da CV Racing (www.cvracing.com.br), no mercado há 13 anos e com 15 títulos da prova na bagagem. Em 2012 a equipe fez o apoio de 17 motos, três delas terminando em primeiro lugar em suas categorias.

Para tanto, a estrutura da equipe é de tirar o fôlego: além dele são mais 13 pessoas entre coordenadores, mecânicos e motoristas, para um motor-home, quatro picapes e duas motos. Tudo isso para levar, servir e organizar 35 pneus, 60 litros de óleo e 420 peças de reposição, além de água e alimentação, em um custo estimado em 58 mil reais.

Seis anos fora das trilhas como competidor, Claudio já prepara a volta, para o ano que vem. “A estrutura cresceu e eu tive que dedicar todo o meu tempo à CV Racing e aos pilotos da nossa equipe. Mas, durante esse tempo, aprendi muito nos bastidores e tenho certeza que quando retornar vou errar bem menos como piloto”, comenta o chefe, que quer realizar o sonho de participar do Cerapió e do RN 1500, em 2013.

“Estou muito feliz com essa volta e um pouco ansioso. Parece que é minha primeira competição. Estou com o intuito de me divertir, mas se derem bobeira, vou levar troféu pra casa”, avisa Claudio.

Este texto foi escrito por: Daniel Costa