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Uma pequena amostra das belezas naturais do litoral norte paulista


Praia de Calhetas (foto: Marco Bortolusso)

Nunca fui muito favorável à tendência das pessoas de seguir somente os chamados pontos turísticos da moda. Embora tais roteiros sejam definitivamente merecedores de encantamento, pessoalmente, procuro conhecer ambientes naturais sem me preocupar com as badalações do momento.

Foi pensando nisso que, mais uma vez, em companhia de minha namorada, rumei a um lugar conhecido buscando nas entrelinhas pelo desconhecido.

Desta vez, dirigi-me a famosa e bela faixa litorânea entre Camburi e São Sebastião, para percorrer outras praias não tão famosas como Maresias, mas que estão localizadas bem ao seu lado e, principalmente, são tão encantadoras quanto.

As magníficas quedas do ribeirão Itu em Boiçucanga – Inicialmente, fui ao reencontro de algumas belezas que eu já conhecia, contudo, desta vez o lugar se superou… Reafirmei um dos meus pensamentos de que “novos passos em velhos terrenos sempre surtem novas sensações…”

Era o meu reencontro com as quedas do Ribeirão Itu, cachoeiras localizadas ao final da famosa travessia Salesópolis x Boiçucanga.

Mas já que nos encontrávamos no litoral, caminharíamos somente tranqüilos e prazerosos mil metros por uma trilha que serpenteia através deste riacho de águas cristalinas.

Em um dia normal da semana, a tranqüilidade reinava no lugar e parecia que a natureza dizia-me para eu fotografá-la. As nuvens insistiam em barrar o sol da manhã e a umidade ainda evaporava das rochas, galhos e folhas do leito do ribeirão, enquanto eu sacava a câmera e posicionava o tripé.

O cenário estava pronto e, enquanto eu captava imagens, ouvíamos e admirávamos as águas caírem de uma grande queda. Foi mais um daqueles cenários únicos, que só a Serra do Mar, em sociedade à rica Mata Atlântica, consegue compor. Para completar o momento, estávamos muito bem acompanhados por dois simpáticos cães vira-latas, que se juntaram a nós sem rodeios e cerimônias.

Notei que apesar do grande fluxo de turistas que visitam esta parte da trilha e, por vezes, sem à devida consciência ecológica, o lugar felizmente permanece limpo.

Provavelmente, isto se deve a alguns moradores, guias e funcionários da estação de captação de água localizada nas proximidades, que realizam algumas ações de preservação.

A belíssima e isolada Praia Brava – Ainda em Boiçucanga, eu não poderia deixar de conhecer um dos seus principais recantos naturais. A vizinha enseada formada por areias claras, cercada por morros e uma densa mata verde, chamada de Praia Brava. Ah! Eu já estava me esquecendo, isolada e protegida, ou quase…

Iniciamos o caminho através do canto esquerdo da praia de Boiçucanga, bem ao lado de uma linha aterrada do óleo-duto. Uma longa e intensa subida foi vencida lentamente até o alto do morro, proporcionando boas vistas para a praia, que ficara para trás.

Ao chegarmos ao alto, fomos surpreendidos por uma outra vista magnífica, um belo visual tropical que se descortinava em nossa frente! No horizonte, a majestosa Ilha Bela compunha o cenário no infinito oceano. Percebi que o nosso objetivo estava logo abaixo.

Começamos nossa descida à praia, mas, logo no começo deparamo-nos com mais um exemplo da imbecilidade humana. Percebemos que o lugar, embora ainda bem natural, não está livre da falta de preocupação e consciência ecológica. Sem cabimento, a antiga trilha foi alargada por veículos 4×4 conduzidos por inconseqüentes, indivíduos que em hipótese alguma são capazes de desgrudar o traseiro do veículo, nem mesmo em troca de algumas passadas até uma praia, o alto das montanhas ou à base das cachoeiras.

Sinais de ignorância – Se não bastasse tudo isso, lamentavelmente, ao chegarmos à praia encontramos muito lixo depositado ao final da trilha. Novamente, outros seres ignorantes que têm a infeliz capacidade de levar um produto cheio, mas não trazer sua embalagem vazia. E enquanto providências não são tomadas, ficamos na torcida…

Apesar dos rastros negativos, deixei o lugar bastante satisfeito e encantado. Afinal, estava em uma larga faixa de areias fofas e desertas, cercada por toda aquela floresta verde, tudo ainda bem natural.

Tesouros escondidos nas matas de Toque-Toque Pequeno… Em um outro dia na região, a convite do Oliver, responsável pela Pousada Aparas, fomos conhecer algumas cascatas e cachoeiras escondidas nas encostas da serra, próximas à tranqüila e lindíssima praia de Toque Toque Pequeno. Confesso que, ao olhar algumas fotos mostradas por ele, não estava levando a idéia muito a sério…

Felizmente, eu estava redondamente enganado! A cada cascata e trechos de rio que cruzávamos, ficávamos completamente pasmos. Embora não seja nenhuma novidade a infinita quantidade de segredos que a Serra do Mar esconde e nos oferece, mais uma vez, me surpreendi.

Constantemente, subimos aproximados 800 metros de trilha, bem ao lado de um grande funil natural com cerca de 200 metros de comprimento, um extenso cânion composto por muitas cascatas e uma fauna exuberante. Durante o trajeto, encontramos lindas cachoeiras, incluindo algumas bem grandes.

Com aproximadamente 60 metros, a maior delas foi alcançada por sua cabeceira, permitindo-nos uma visão privilegiada de Toque-Toque Pequeno e do vasto oceano. Contemplávamos tudo até aonde nossas vistas alcançavam, através de uma janela natural de tirar o fôlego. Para mim, éramos infinitamente privilegiados por estar ali…

Paúba de encher os olhos! – Ao chegarmos à praia de Paúba, fomos conhecer um mirante localizado em sua extremidade direita. Durante o trajeto percorrido até o canto da praia, seguimos por algumas ruelas que me fizeram imaginar estar na antiga e calma vila de pescadores de outrora.

Além da pequena Igreja em estilo barroco, restaurada como na maioria das praias da região, Paúba mantém uma singularidade e características bem Caiçaras.

Percorremos um curto caminho que nos levou ao alto de um pequeno morro, suficiente para nos possibilitar generosas vistas dos 360º de toda paisagem. Do alto, vimos as praias de Paúba e Maresias e, após percorrermos uns 200 metros, alcançamos uma ponta composta por algumas árvores e um costão rochoso, com uma trilha que levava às pedras abaixo.

As ondas que invadiam a baía de Paúba davam-nos boas vindas, enquanto persistiam em lamber repetidamente a grande laje rochosa. Enquanto fotografava, ficamos ouvindo o som relaxante do mar castigando as rochas.

Caminhar e se divertir, desprendidamente, entre pedras e costões ao longo da orla, sempre ocupou muito da minha imaginação. Talvez pelos anos dedicados ao mar, esta é uma das minhas atividades preferidas em ambientes naturais.

Obviamente, que eu não poderia deixar de percorrer algumas destas enseadas em busca de mais umas brincadeiras sobre as pedras. Já havia observado algumas boas possibilidades em pontas de algumas praias, como na Brava, Toque Toque Pequeno e até mesmo em Camburi.

Decidi então conhecer a pequena península de Calhetas, uma ilhota composta por rochas e algumas árvores que une-se ao continente por uma fina e curta barra de areia.

Calhetas – Paramos o carro na rodovia, no quintal da simpática Dona Maria e descemos em busca deste lugar. Existe um pequeno condomínio que deve ser atravessado para se chegar à ilhota, além de uma bela cachoeira, que passa por baixo da rodovia e deságua no local.

Embora este recanto, provavelmente, esteja protegido em função da existência desta propriedade particular, me assustei ao ver o tamanho de uma única construção a ser erguida na minúscula praia. Basta ver, para entender o meu espanto com tamanha insensatez…

Deixemos para lá certas extravagâncias e vamos ao que interessa. A península de Calhetas é fácil de se contornar e vale uma visita. Logo no começo, fiquei admirado com a quantidade de pequenas piscinas naturais, que represavam a água do mar e possuíam tons esverdeados.

Em busca de um pouco mais de diversão, fomos praticar um pouco de escalada em Boulder em algumas das opções que o lugar oferece. Apesar de não ser nenhum expert, deu para encarar alguns blocos rochosos e falésias dali. Descobri rapidamente que estou enferrujado, apanhando um pouquinho, mas valeu a pena conhecer Calhetas e se divertir em suas rochas…

Decidimos ir em busca das ondas para fazer nossas cabeças e, definitivamente, completar o quadro de emoções nesta viagem. Encontramos boas marolas na agradável praia de Guaecá, mas, o melhor mesmo, foi à ausência do insuportável cround (lotação) que, freqüentemente, superlota os picos e ondas por aí.

Enquanto eu esperava pelas ondas, um turbilhão de boas imagens e emoções invadiam meus pensamentos e, sem que eu percebesse, um sorriso naturalmente se alargou em meu rosto, de orelha a orelha. Eu concluía que fechávamos mais uma viagem com chave de ouro…

Enfim, seja qual for o lugar escolhido, tente dar novos passos em seus velhos caminhos e, simplesmente, curta o momento! Um forte abraço e boas aventuras no Litoral Norte Paulista!

Dicas

Com exceção das Cachoeiras de Toque-Toque Pequeno, a maioria dos passeios mencionados podem ser feitos por conta própria, contudo, evite roubadas e ao menos informe-se das condições da trilha e de segurança;

Hospedando-se nas praias de Toque Toque Pequeno, Paúba e Boiçucanga torna-se mais cômodo realizar os passeios e, durante a noite, se desejar, poderá curtir o agito das outra praias;

Perceba que além do verão, a pré e pós temporada também são boas épocas para se curtir o litoral e a Serra do Mar;
Conheça o tradicional artesanato local produzido pelas últimas Mulheres Paneleiras da região, do grupo Cooperartes de São Sebastião (12) 3862 2141 www.cooperartess.hpg.com.br ;

Apesar da boa sugestão, tome sempre muito cuidado nas brincadeiras sob pedras, pois, tratam-se de atividades que envolvem risco;

Onde ficar

As dicas para o pernoite são a Pousada Aparas, na praia de Toque-Toque Pequeno, site www.pousadatoquetoquepequeno.com.br e telefone (12) 3864 9117 ; o Paúba Beach Hotel, na praia de Paúba, tel. (12) 3865 6465 www.paubabeach.com.br; e a Pousada Céu Azul, na praia de Boiçucanga, tel. (12) 3865 1317 www.pousadaceuazul.com.br .

Como chegar

Partindo de São Paulo são aproximados 170km pelas rodovias Presidente Dutra e Mogi-Bertioga, ou pelas rodovias Imigrantes e Anchieta.

*Marco “Kiko” Bortolusso teve nesta viagem o apoio de Pousada Aparas, Paúba Beach Hotel e Pousada Céu Azul. Agradecimentos especiais às empresas Curtlo, Tribo dos Pés e a Nadir Figueiredo S/A. É assessor de imprensa da FEMESP – Federação de Montanhismo do Estado de SP e APEE Associação Paulista de Escalada Esportiva; membro do grupo Amigo Curtlo e do CEG Centro Excursionista Gravatá e guia de ecoturismo.

Este texto foi escrito por: Marco Kiko Bortolusso*