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Valéria Ravani comanda barco e leva feminilidade à Semana de Vela


Jazz é inspirado na obra de Henry Matisse (foto: Rolex/ Carlos Borlenghi)

Direto de Ilhabela (SP) – Puxar vela, descer a vela, comandar a direção de um barco, verificar o vento, a correnteza. Tudo isso e outras várias funções dentro de um barco em uma regata, como as feitas pelas 190 embarcações participantes da 35ª Rolex Ilhabela Sailing Week desde o último domingo (6), soa como algo muito masculino, que demanda muita força, mas percebe que a história pode ser diferente quem acompanha o evento, em Ilhabela (SP), e vê um barco com um toque, no mínimo, diferente.

O detalhe do barco fica por conta dos recortes de folhas inspirados na obra do artista francês Henry Matisse pintados na lateral, e a inscrição do nome desta obra de Matisse que dá nome ao barco: Jazz.

Comandando por Valéria Ravani, o Malbec 360, que chegou à Ilhabela dois dias antes de começar a Semana de Vela, vindo da Argentina, conta ainda com Giselle La Highera, Catarina Robert, Cristina Lueth, Márcia Sato, Andréa Videia, Renata Menegheli Santiago, Maria Amália Rangel. Mas quem pensa que só pessoas do sexo feminino podem adentrar e comandar o charmoso barco pode estar enganado. Ralph Bruder, skkiper, e Luis Rodrigues mostram que homens também têm espaço no Jazz.

“Não dá para ter só mulheres. Precisamos realmente de força física dentro do barco, ainda mais com ventos fortes. Antes só estávamos com o Ralph, mas na regata de hoje o Luis veio nos ajudar porque senão não conseguiríamos fazer tanta força”, contou Giselle.

Mas a ala masculina tem mais do que essa responsabilidade no barco. Se não fosse por um homem, em 1995, Valéria não teria começado a velejar. “Comecei porque queria desencanar um namorado”, contou soltando uma forte gargalhada. “A teoria é que é uma coisa tão intensa que você não consegue pensar em mais nada. É concentração total”, completou a comandante. Mas ela alerta: a estratégia funcionou, mas com um porém. “Agora não consigo mais nenhum namorado!”.

Para ela, o motivo da “fuga”dos homens é que à frente do barco, as mulheres ficam com um ar de poderosas e isso os assusta. “A coisa ficou séria!”. Mas as regatas começaram algum tempo depois de iniciar a prática de vela, na vida de Valéria. Ela começou fazendo cruzeiros, e atualmente o Jazz tem dupla função: os cruzeiros em família durante o verão, e as regatas em outros períodos do ano. Ele é preparado para as duas coisas, e conta com uma sala, cozinha, banheiro e quarto na parte inferior.

“Eu aprendi a velejar aqui em Ilhabela, e um dos barcos que eu tive foi em sociedade com a empresa onde eu treinava, e surgiu a idéia de montar uma equipe feminina para competir. E eu topei, porque realmente tem muitas mulheres querendo entrar na vela”, explicou Ravani.

“Mas o mais memorável é que a Valéria começou a velear em 1995 e saio do zero e hoje corre na classe ORC Internacional, a mais top de todas, ou seja, em 13 anos ela saiu do zero e está no topo”, disse Luis. “É como tirar carta e nesse tempo ir do carro para a Fórmula 1”, completou Giselle.

Voz Masculina – Ralph Bruder explica que as mulheres podem ter uma deficiência de força mas são muito mais concentradas na velejada, mais compenetradas na execução de tarefas e têm uma visão maior que os homens, que costumam brigar muito durante as regatas e perdem atenção em alguns detalhes.

“Estamos velejando juntos faz um tempo e se não fosse legal, não estaríamos mais juntos e eu acho que terei uma certa dificuldade caso saia daqui um dia e volte a velejar numa equipe só de homens. Vai ser muito feio, muito porco!”, disse brincando. “Eu me sinto muito a vontade com elas, tenho intimidade, mas não foi sempre assim, a situação foi crescendo aos poucos”, completou Bruder.

E Ralph não opina apenas sobre as mulheres do barco inspirado em Matisse, como dá certa voz de comando. “Aqui nenhuma de nós grita, só ele grita durante as regatas”, disse Giselle. Realmente, quem acompanhou de perto a regata desta quarta-feira (10) pode ouvir de longe uma voz grossa e forte dizendo “Não dá, não dá”, enquanto as mulheres trabalhavam duro para manobrar o barco na bóia e desviar de um oponente que se aproximava.

Este texto foi escrito por: Lilian El Maerrawi