Próxima etapa de Eli foi Fortaleza (foto: Matias Eli/ Arquivo pessoal)
Salvador – Depois da minha chegada em Salvador, voltei para Sampa e, passadas as comemorações da natal (2008) regressei para Salvador, desta vez com a família toda. Com o Bravo encostado no píer do CENAB, em frente ao mercado Modelo e ao elevador Lacerda, estávamos prontos para passar ano novo no barco. O cardápio ficou por conta da Marina, hot-dog no pratinho das princesas com direito a bexigas e chapeuzinho de aniversário combinando com os pratos. A mãe contrabandeou um champanhe na balada que rolou abordo ao som de cantigas de roda. Foi uma verdadeira rave abordo!
Infelizmente a pirataria por aqui é uma realidade e os verdadeiros piratas não são tão simpáticos quanto o Jack Sparow. Um barco francês foi atacado e o casal que o tripulava ficou seriamente ferido, e alguns dias depois da nossa partida, uma pessoa morreu vítima de outro ataque de piratas em Itaparica. Uma pena, pois dada a situação, não era mais possível passar a noite ancorado numa praia deserta na Bahia, que tem tantos lugares paradisíacos.
Novas travessias – Após uma semana navegando entre Salvador e Itaparica, resolvemos mudar de águas e nos aventurar um pouco mais ao sul. Chegamos em Morro de São Paulo, mas o ancoradouro era muito movimentado, por isso resolvemos seguir um pouco mais adiante até chegar em Gamboa, que fica na desembocadura de um rio. Naquela noite tivemos nossa primeira experiência com as fortes correntes da região.
Como era noite de lua cheia a variação da maré era realmente grande (fenômeno conhecido como Sizígia) o que intensificou ainda mais a força das correntes, que chegavam a três nós, o que é muito! É tanto, que o barco, que costuma ficar alinhado com o vento, ficava alinhado com a corrente, fazendo com que a âncora se soltasse do fundo deixando o Bravo a deriva.
Numa dessas, eu estava na praia com as meninas, enquanto a Carol estava estendendo algumas roupas dentro do barco (que devia estar a uns 50 metros da praia). Olhando para a cena percebi que o barco estava se mexendo, a âncora tinha desgarrado. Precisei voltar imediatamente para o barco, mas não podia deixar as meninas sozinhas na praia. Gritei para a Carol pular no mar e vir nadando enquanto eu faria o caminho inverso. Naquele dia a Carol bateu o recorde dos 50 metros rasos.
Outro problema na navegação nestas águas e que toda a região é muito rasa e as bocas de rio (onde ficam os ancoradouros) não são cartografados, ou tem seu fundo frequentemente alterado pela corrente dos rios. Isso dificulta muito a vida dos veleiros com calado grande, como é o caso do Bravo que cala 2,5 metros.
O jeito foi ancorar com duas âncoras, lançando uma pela proa e outra pela popa, evitando que o barco avançasse sobre o fundeio. Deu muito trabalho, ainda mais para mim, que na época não tinha guincho elétrico, Para fazer isso eu utilizava as catracas do cockpit para me ajudarem no serviço.
Mais visitas – Meus pais chegaram, velejamos, passeamos, pescamos e assistimos muitas vezes ao filme da Barbie. Tirando essa última parte, a vida estava ficando realmente boa a bordo. A Sofia já estava com um ano e Marina tinha três e ambas estavam super adaptadas a vida dentro do Bravo.
A Sofia aprendeu a andar a bordo e andava melhor no convés do que na praia. A Carol estava bem mais relaxada do que em Angra, pois sabia que aquilo era apenas um passeio e que teria um fim. Isso fez com que ela aproveitasse bastante. Eu não poderia estar mais contente em ter minha família toda a bordo, mas, após 40 dias era hora de voltar para São Paulo.
Eu ficaria um par de semanas na cidade da garoa antes de voltar para Salvador, onde teria pelo menos mais uma semana de manutenção com o Bravo fora da água antes da minha primeira grande travessia em solitário. De Salvador a Recife a vigem deveria demorar uns três dias, uma distância relativamente curta se comparada aos 17 dias que passaria sozinho na travessia de Galápagos até a Polinésia alguns meses mais tarde.
Este texto foi escrito por: Matias Eli, especial para o Webventure