Uma das lembranças mais engraçadas que tenho de Airton Ortiz foi quando, prestes a fazer o primeiro rappel de sua vida no Cânion do Churriado, região dos Aparados da Serra no Rio Grande do Sul, trocou as seguintes palavras com Neyton Reis, instrutor de travessias de cânions.
Instrutor, preparando a descida do primeiro aluno:
– É isto aí gente. É nesta hora que muito peão vira prenda*! disse, referindo-se ao inevitável e instintivo medo da altura.
Ao que respondeu Airton, aproximando-se cautelosamente da borda e medindo o rappel com os olhos:
– Pois já estou escolhendo a cor do meu vestido…
A espontaneidade e o bom humor deste gaúcho de 46 anos, pai de família e que há pouco trocou a carreira de editor de livros para dedicar-se ao jornalismo de aventura, foi inteiramente transposta ao seu livro de estréia Aventura no Topo da África, onde relata as suas façanhas no Continente Negro, incluindo o trekking/escalada ao seu ponto culminante, o Monte Kilimanjaro, com 5.895 m.
Alternando trechos trágicos, cômicos e outros muito informativos neste livro bem escrito e com fotografias coloridas, Airton Ortiz nos leva a percorrer com ele exóticas regiões do globo, fazendo amigos, enfrentando assaltos, ônibus lotados e animais selvagens, até chegar com a sua inseparável camiseta do Grêmio ao teto da África.
Afora as suas aventuras, talvez o maior mérito de Ortiz seja a coragem que teve para libertar-se das amarras de uma vida estável e cotidiana e lançar-se de corpo e alma na realização dos seus sonhos, sentimento este que traduziu-se neste relato, sucesso editorial na última Feira do Livro de Porto Alegre. Desta forma, espero que o novo autor venha a encorajar a publicação de livros escritos por aventureiros legitimamente nacionais em detrimento das traduções estrangeiras, quanto mais porque Airton Ortiz promete como próximo seguimento, após África do Sul, Suazilândia, Moçambique, Tanzânia e Quênia, a transcrição de suas recentes andanças pelo Tibet e América Latina.
(*em linguajar regional do Rio Grande do Sul, prenda é a mulher gaúcha, esposa do peão)
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Este texto foi escrito por: João Paulo Lucena