Eliseu na escalada na África (foto: Divulgação)
No texto abaixo, o montanhista Eliseu Frechou conta um pouco da sua experiência em Mali, na África, no início do ano. Ao lado de mais dois montanhistas brasileiros, Eliseu passou 18 dias entre escaladas em rocha, boulders, sol de rachar, tempestades de areia e temperaturas acima de 50 graus. Mais dessa expedição também pode ser visto no vídeo
A idéia de ir escalar em La Main de Fatma partiu do Fernando Leal, amigo há bastante tempo que já escalou comigo algumas paredes pelo Brasil, em especial no Ceará, onde faz um calor de lascar pedra. Decidida a data, escolhemos o alvo: conquistar uma das paredes do Suri-Tondo, provavelmente a maior parede da África. Treinamos por dois meses para que pudéssemos entrar em sintonia e tudo acontecesse de forma rápida na montanha. Fernando convidou o Gustavo Pianca, de Belo Horizonte, para participar da expedição, pois os dois já haviam escalados juntos em outras ocasiões. Estava formada a trinca!
Voltei ao Mali 10 anos após a conquista da “Solução Suicida” no monte Kaga-Tondo. Talvez tenha sido a vontade de estar no lugar mais primitivo e inóspito que eu já havia pisado. Sei lá… o que importa é que voltei pra suar 24 horas sem parar, torrar no calor de 53°C e beber água quente e salobra por 18 dias. Voltei pra onde prometi nunca mais voltar.
Num lugar onde a temperatura média de noite é 40°C, todos dormem ao relento, o que lhe força a entrar no ritmo local, pois o dia (ou o barulho) no Mali começa antes do amanhecer, com as mulheres socando milho nos pilões para fazer farinha e pão, que é assado em chapas. Como energia elétrica é obtida apenas por meio de geradores, a luz solar comanda as atividades de todos. As casas na África Central dificilmente têm portas, pois a vida coletiva também é o modo de vida, herança das tribos nômades das quais descendem os peuls, songais e tuaregs. Os últimos, aliás, ainda são muitos na região de Hombori, destino de nossa trupe de três brasileiros dispostos a escalar em La Main de Fatma, onde está uma das maiores concentrações de paredes rochosas do mundo.
A conquista – Pudemos realizar a primeira ascensão brasileira no Wanderdu pela rota francesa Panic e birra 6° VIIa, que é bastante interessante e tem uns 250 metros de extensão. Depois, dedicamos dois dias à conquista de uma variante da rota Horácio. Conquistamos assim, com o Fernando na ponta da corda no primeiro e mais difícil trecho e depois eu, a Filhos do Sol 6° VIIa E3, segunda via brasileira neste continente. Alguns boulders, outras conquistas menores, e nos transferimos para Hombori, onde deixamos outra via Filhos da África VIIb, uma cachoeira seca em quartzito polido próxima da cidade onde uma equipe espanhola equipou algumas rotas esportivas no inverno de 2005.
Este texto foi escrito por: Eliseu Frechou