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Visitar a Serra do Tepequém em Roraima é como viajar no tempo


Sr. Raimundo sobrevive com a lavoura (foto: Alexandre Koda/ www.webventure.com.br)

Antigo local de exploração do garimpo nos anos 80, hoje a Serra do Tepequém é um local que vive do turismo, mesmo com alguns moradores ainda utilizando a exploração de pedras preciosas como forma de sustento. No local não há energia elétrica pública, nem cobertura de celular, muito menos de internet, e uma das poucas formas de comunicação com outros locais é o telefone público, em frente à escola.

Localizada no município de Amajarí, cerca de 220 quilômetros da capital Boa Vista, até meados de 2007 o único acesso era uma estrada de terra sinuosa com muitos barrancos. Por causa dos deslizamentos de terra em dias de chuva, só era possível trafegar com veículos off-road. Hoje o trajeto é totalmente asfaltado, mas ainda não há linhas de ônibus regulares à região.

A Vila do Paiva é onde o turista encontra as sete pousadas, incluindo uma unidade do Sesc, além dos restaurantes e botequins, todos muito simples, mas aconchegantes. Atualmente dois geradores a diesel com autonomia de 12h cada um são os responsáveis pela energia elétrica, mas na alta temporada não dão conta do alto consumo e muitas vezes as noites e madrugadas são passadas no escuro.

Túnel do Tempo – Quem anda pelo local tem a impressão que o progresso não chegou, já que a maioria das ruas é de terra, as casas possuem estilo rústico, há poucos veículos circulando e as pessoas quase todas se conhecem. Não é para menos, já que são cerca de 250 habitantes e vários deles ainda garimpam a terra em busca de ouro e diamante.

Francisco Pereira da Silva é um destes homens. Aos 48 anos, hoje ele busca os minérios de forma artesanal, mas nos anos 90 trabalhava para donos de mineradoras operando máquinas e ganhava uma porcentagem sobre o que extraia. “Hoje eu trabalho de cinco a seis horas de manhã, almoço e volto para o trabalho”, conta o garimpeiro. “Às vezes eu tiro de R$ 80 a R$ 100 por semana, mas tem vezes que fico um bom tempo sem conseguir nada”, completa.

Os principais clientes de Francisco são os turistas que vêm nos finais de semana. “Se eu não vendo nada, encosto na casa dos amigos para comer alguma coisa. Quando eu tiro alguma coisa, vou para o bar e divido uma cachaça com o pessoal”, comentou. Essa é a vida destes trabalhadores que, no passado, ganhavam dinheiro de forma rápida, mas gastavam na mesma velocidade e logo corriam de novo para o garimpo em busca de mais riqueza.

Mas nem todos dependem dos brilhantes para a sobrevivência, como é o caso de Raimundo Ferreira dos Santos, que há 12 anos mora na região e usa a agricultura como sustento. “Eu planto cana, banana, cupuaçu, caju e também recebo um dinheiro da minha aposentadoria e da minha esposa”, conta o caboclo, que sempre anda com seu chapéu de palha.

Natural do Ceará, ele já morou no Piauí, Maranhão, Amazonas, veio a Roraima com 19 anos e fala com muito orgulho do estado que o acolheu. “Sem dúvida aqui é o melhor lugar para morar. No Tepequém não temos bandidos, nem drogados, o povo é honesto e muito sossegado”.

O sossego só é quebrado na época do Festival, em novembro, muito famoso por atrair cerca de três mil pessoas do Brasil e de outros países todos os anos, que passam três dias de muita festa e alegria. O forró é a música predominante, há corridas de cavalo, muita comida e bebida típica, além do concurso Garota Tepequém.

Quem procura sossego e um bom lugar para descansar pode escolher Tepequém como destino, já os festeiros podem aproveitar o mês de novembro para dançar e cantar, enquanto os aventureiros desfrutam da natureza preservada para fazer trilhas e alcançar cachoeiras. É possível acertar passeios e hospedagens diretamente com o pessoal local, mas recomenda-se procurar uma empresa especializada em Boa Vista para deixar a viagem mais tranquila.

Este texto foi escrito por: Alexandre Koda