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Volcanes

Em 1999, consegui realizar parte de um sonho de minha vida: participar de um Eco-Challenge, na Patagônia. Foi um namoro de mais de cinco anos. Desde a primeira edição do evento, em Utah, nos EUA, já tinha a vontade de participar desta prova. Conseguimos com muito custo (pessoal e financeiro) montar uma equipe com um escalador (Makoto Ishibe), um bombeiro (o amigo Valdir Pavão), uma mulher (a conquistadora do fim do mundo Márcia Diniz) e eu, um triatleta.

Fomos para a Patagônia. A prova seria muito dura, com mais de sete dias de duração. No terceiro, pega por uma nevasca, nossa equipe Adventure Team Brasil teve de abandonar a prova por problemas de hipotermia. Meu sonho ainda não havia sido completado!

Pior ainda foram os 5 quilos que engordei para agüentar o frio – acabei nunca perdendo-os!

Quatro anos depois, logo após a vitória do Raid Terra 2003, na equipe Mamelucos (eu, Cris Carvalho e José Caputo), o nosso atleta-prodigio (atual integrante do Adventure Trainning) Felipe Cavalieri nos ligou com a proposta de participar do Desafio de Los Vulcanes, também na Patagônia.

Motivação – Para mim, ir àquela prova seria a forma de resolver um pequeno problema que estava na minha cabeça há quatro anos – e a chance de emagrecer aqueles tais cinco quilos.

Para a Cristina, seria a oportunidade de terminar aquela prova. Na edição anterior, ela não havia coseguido. Aliás, desde o início a Cris foi a grande incentivadora para irmos neste evento.

Para Zé Caputo, seria mais uma prova com os Mamelucos em um lugar maravilhoso. E para o Felipe seria carregar o nome da familia ao topo das colocações de uma das mais importantes provas do calendário mundial de corrida de aventura.

Com a ajuda de alguns patrocínios, da Ale e Bruno Minelli, fomos com tudo. Desde o início já sentíamos o frio que iria fazer durante o evento. Aumentava muito quando o vento batia, era impressionante!

Das nove equipes do Brasil que estavam lá, poucas realmente tinham experiência com o frio. Como sabiamos que a prova ia ser muito dura, nos preparamos bastante para aguentar esse problema, fisicamente e psicologicamente. Um mês antes da prova, passei a andar sem camiseta, dormir com ar condicionado, usar menos casaco, tudo para tentar me aclimatar um pouco.

Largada – Logo na fria manhã da largada, acordamos com um som muito alto de uns chilenos do carro ao lado. Nos preparamos para a largada tomando um café-da-manhã preparado pelo nosso sempre bem humorado staff argentino Cherve – um pai de fámilia aficcionado por aventura, que ajudou-nos muito na semana da prova.

A largada aconteceu às 10h10 de terça feira. Saímos de trekking em direção ao primeiro vulcão da prova. Logo no início, um susto. O Felipe sumiu. Mas com alguns gritos insistentes logo achamos nosso grande manager da equipe! Animado com o início da prova, decidiu seguir uma equipe de meninas, que estava correndo pelo leito do rio.

Subindo a montanha, nos deparamos com um vento de 100 km/hora que nunca tinha visto na minha vida. Nossa companheira Cris Carvalho, com seus 50 quilos, quase saiu voando. Aliás “voar” foi o que ela fez dois dias depois, em uma etapa de 120 km de mountain bike. Quando todos os homens da equipe estavam cansados, ela botou na frente do pelotão e pedalou por mais de 30 quilômetros, mantendo nosso ritmo.

Controvérisa – Voltando a comentar o começo da corrida, o primeiro PC (Posto de Controle) da prova resolveu mudar de local “por conta própria”, causando muita controvérsia no evento. Algumas equipes até usaram aquilo para abandonar a prova, talvez prevendo uma jornada muito dura.

Dura ou não, só sei que durante o primeiro dia tivemos uma briga acirrada com duas equipes do Brasil, a Trópicos e a Oskalungas. Foram momentos bem legais, vendo uma equipe puxar a outra ao seu limite. Como um evento de 100 horas não se ganha no primeiro dia, mantivemos nosso ritmo e assim o fizemos até o fim.

Resumo – O Volcanes se resumiu nas seguintes etapas:

  • 40 km de trekking por montanhas;
  • 120 km mountain bike, por estradas e trilhas;
  • 32 km trekking ao lado do lago, com subidas e descidas;
  • 120 km de biking, em trilhas e single trek ao lado de um lago;
  • 50 km trekking longo pelos vulcões;
  • 20 km costeira – um trekking com uma canoa para 2 pessoas;
  • 12 km “trekking-run”;
  • 20 km duck em um rio congelado.

    Terminamos a prova em sétimo lugar entre as 72 equipes que largaram. Para nós, isso foi uma vitória, poís fomos os primeiros brasileiros, conseguimos terminar todos amigos, curtindo durante a prova e – enfim! – perdi quatro dos cinco quilos que havia ganho quatro anos atrás!!!!

    Aos que se interessarem por este evento, eu recomendo. Diria que é igual ou mais legal que o Eco-Challenge, custando 10 vezes menos e com uma organização muito mais simpática!

    Grande abraço aos amigos do Webventure.

    Este texto foi escrito por: Sérgio Zolino